Paulo Turra. Uma rápida busca pelos “cromos” do futebol português e lá encontramos o nome, associado ao Boavista. Logo se descortina que foi vice-campeão pelos axadrezados, em 2001/02, tendo tido a responsabilidade de substituir Litos, que viria a mudar-se para o Málaga, em Espanha. Nada mais, nada menos que o capitão que um ano antes se tinha sagrado campeão nacional, no primeiro e único título boavisteiro.
O defesa central brasileiro, daqueles duros na marcação que por vezes “fervia” nos grandes jogos, esteve na caminhada do Boavista na Liga de Campeões que passou, no primeiro ano, a fase de grupos e, no segundo ano, eliminado na pré-eliminatória, seguiu até às meias-finais da Taça UEFA. Esteve também ligado ao Vitória de Guimarães, que regressara às competições europeias “depois de um jejum de oito anos”, recorda.
Mas a história de Paulo Turra não começa nem termina no campeonato português. O primeiro ato começa no Brasil e liga-o à dupla Luiz Felipe Scolari e Flávio da Cunha Teixeira, mais conhecido como Murtosa, atuais treinador e treinador adjunto do Guanghzou Evergrande, hexacampeão chinês. O próximo capítulo da relação destes três brasileiros escrever-se-á em mandarim.
Turra pendurou as chuteiras em 2007, no Avaí, de Florianópolis, estado de Santa Catarina. Desde então, enveredou pela carreira de treinador, “sem qualquer frustração de não ter continuado a jogar”. Fê-lo no seguimento de um sonho que “já tinha desde os 30 anos” e que, aos “33 anos e com umas lesões”, antecipou.
Dez anos depois, com passagens por clubes de menor expressão do futebol brasileiro, chegou um convite de Scolari para integrar a equipa técnica do chinês Guanghzou Evergrande, onde encontrará Murtosa, o eterno braço direito do antigo selecionador nacional de Portugal. Encontrará, não. Reencontrará, é a expressão mais correta. A explicação é simples. E tem como responsável aquele que agora o desafia, 17 anos depois do primeiro convite.
Paulo Turra tem finalmente a possibilidade de trabalhar com "Felipão". Escrevemos finalmente porque, embora escolhido pelo treinador campeão do mundo pelo Brasil, quando Turra se muda para o “Verdão” acaba por ser treinado por Murtosa, já que Scolari viria a mudar-se para o Cruzeiro. O primeiro convite foi para o Palmeiras, em 2000, depois Turra ter sido titular do Caxias onde fez uma campanha vitoriosa no campeonato estadual.
“Imagine quantos profissionais Scolari não tem na carteira que poderia convidar e levar. Recebi o convite que muito me honra”, sublinha com um sorriso triunfal na véspera de partida para a China.
O “sim” a Scolari e à China surge quando o “ainda jovem de 43 anos” treinava o Ceanorte, do Campeonato Paranaense, 2ª Divisão. “Aprendo e vou ajudar dentro das minhas características de treinador. Scolari conversa muito e valoriza todos os que integram a comissão técnica”, diz sem rodeios.
A comissão técnica é toda brasileira. Sete, se incluirmos Luiz Felipe Scolari. Destes, Paulo Turra conhece bem Murtosa.
De agora em diante, novo e velho auxiliar de Scolari vão partilhar um intérprete que os ajudará na conversa com os jogadores. “Eu e o Murtosa temos um tradutor enquanto treinadores de campo. Felipe tem outro tradutor, a equipa médica tem outro, outro para o preparador físico”, enumera deixando no ar, rindo, que há quase um intérprete para cada um dos elementos da equipa técnica. “Entendem o futebol, e isso facilita”, frisa.
De chinês ainda nada fala. “Só agora, ao fim de 15 dias, começo a conhecer alguns jogadores. Os nomes são estranhos. Chamo alguns pelo nome”, sorri.
Depois do jogo-treino com o Portimonense, à noite viaja para a China. Segue em busca de um sonho. E para trás, no Brasil, “fica a mulher e os negócios que temos”, finaliza.
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