Como na primeira ronda, voltamos a escolher três momentos que foram captados em imagem e que merecem ser destacados e/ou relembrados.
Os adeptos são a razão pela qual o futebol existe, sem eles não havia emoção, paixão ou aquele elemento que dá uma panóplia de sabores extraordinária ao Desporto Rei. Como não podia deixar de ser, os adeptos da Islândia (que não, não é uma seleção amadora ou semi-profissional, já que 90% dos seus atletas vivem só da redonda) voltam a estar no no foco das lentes.
No jogo contra a Nigéria, em que perderam por 2-0, os vikings não deixaram de ser constantemente aplaudidos pela sua enorme falange de apoio, bem como de fazer a coreografia da praxe. Brinca-se com o facto da Islândia estar sem ninguém em “casa”, uma vez que os 350 mil habitantes daquela misteriosa ilha parecem estar todos na Rússia. Enquanto uns imitam (sim, estamos a falar de vocês, França ou Inglaterra…), os islandeses ensinam como se faz.
E como não falar da emoção que Neymar sentiu mal terminou o encontro? O astro brasileiro que tem sido um saco de pancada (e de mergulhos, tendo como exemplo o que tentou fazer aos 88 minutos contra a Costa Rica) neste início de Mundial, marcou um golo já no sétimo minuto de descontos e festejou como gosta. Contudo, as suas lágrimas após o apito final demonstram que o fantasista da canarinha sabe que está sobre uma intensa pressão, com todo um país a relembrar que Pelé e Ronaldo ganharam a Copa… será que Neymar também o conseguirá?
Mas será que a imagem desta ronda não vem de um momento de êxtase e redenção, mas sim de desilusão e de enorme infelicidade? Quem é que adivinhava que Willy Caballero seria o primeiro a abrir as portas da desgraça da albiceleste na Rússia, com aquela assistência caprichosa para Ante Rebic, que respondeu com um vólei tão bem desenhado, que forçou Modric a fazer igual ou melhor passados 20 minutos.
Aquele segundo após a bola ter morrido dentro das redes, foi captada na forma do guardião argentino, desiludido, desamparado e sem salvação possível. E agora Sampaoli, o que fazer?
Uma surpresa com uma mensagem política
A segunda jornada foi “gorda” em golos excelentes e grandes defesas, mas não teve uma surpresa daquelas como aconteceu na primeira ronda (vitória do México sobre a Alemanha ou empate entre Suíça e Brasil).
Ainda assim, Suécia esteve muito perto de ser responsável pelo fim da campanha dos campeões em título, mas um estupendo golo de Toni Kroos aos 95’ repôs os germânicos na rota dos oitavos-de-final.
Marrocos fez uma exibição de qualidade frente a Portugal e, não fosse a derrota, podíamos dizer que tinha sido um daqueles jogos memoráveis para a formação africana. Porém, os comandados de Fernando Santos aguentaram o resultado pela margem mínima (os adeptos portugueses bem disseram no final do jogo “obrigado São Patrício”) e tiraram o sonho da fase seguinte aos marroquinos.
Por isso, a grande surpresa da jornada vai para a espetacular reviravolta da Suíça ante a Sérvia. Um jogo de emoções fortes, já que não se jogava apenas um simples jogo de futebol, que o digam Xhaka e Shaqiri.
A Sérvia adiantou-se cedo no marcado e parecia estar galvanizada para um jogo muito físico e de domínio territorial, com Matic em grande forma e Mitrovic a ser um caso sério para os centrais adversários (e para o árbitro do jogo, já que o avançado não lhe deu um minuto de paz, questionando todas as decisões). Só que a Suíça veio para este mundial com as mesmas ganas com que foi para o Euro 2016 e na 2.ª parte entrou com uma disponibilidade completamente diferente, anulando por completo o aparentemente inquebrável meio-campo sérvio, e imprimindo velocidade “louca” no seu jogo, onde tanto Xhaka, como Shaqiri aproveitaram para apanhar boleia.
Os segundos 45 minutos foram, portanto, de uma anarquia total, com duas equipas desesperadas pela vitória, aplicando uma pressão total no último terço. A Suíça, que perdia por 1-0, estava mais autoritária e a clamar por uma igualdade… que chegou pelos pés de Granit Xhaka através de uma bomba "daquelas", a responder bem a uma excelente defesa do ex-leão Vladimir Stojković.
O que se seguiu foi um festival de resposta e reação, com a Suíça a carregar de forma matreira e inteligente, enquanto que a Sérvia sentia necessidade de apostar em transições rápidas e num poderio físico que, apesar de tudo, nunca vergou os suíços.
E de repente veio o culminar da surpresa: a Sérvia lança um último ataque à entrada dos 90', mas a Suíça recupera a bola, que rapidamente sobra para Mario Gavranović. O médio lança um passe que rasga o relvado por completo e que Shaqiri recolhe. Fugindo à marcação e numa finalização simples, o fantasista suíço completa a remontada.
E o que de dizer dos festejos dos marcadores de golos da Suíça? Xhaka e Shaqiri aludiram à “Águia de Duas Cabeças” da bandeira albanesa, fazendo uma espécie de homenagem às suas famílias, alvo de perseguições durante a luta pela independência kosovar na ex-Jugoslávia. A FIFA já está em cima do acontecimento, mas é impossível remover a forte de mensagem dos “magos” da Suíça, a qual poderá fazer aumentar as tensões entre albaneses e nacionalistas sérvios no Kosovo (recorde-se que a Sérvio não reconheceu ainda a independência da região, 10 anos depois da mesma ter sido declarada).
Os maiores protagonistas
A 2.ª ronda do Mundial trouxe também novos protagonistas. Primeiro, Harry Kane. O furacão inglês destruiu a equipa do Panamá com um hat-trick (dois dos golos de penálti) e é já o melhor marcador da prova, com cinco golos em duas partidas. É certo que o adversário apresentava limitações e que tudo correu de feição aos ingleses, mas Kane merece destaque.
Capitão da seleção com apenas 24 anos (o capitão mais novo do Mundial da Rússia), o avançado do Tottenham é o líder e o coração desta equipa. Sem os seus golos e a sua liderança, os ingleses seriam, talvez, mais uma desilusão neste Mundial. Frente ao Panamá mostrou o seu instinto matador e a sua frieza, provando ser um finalizador “à antiga”. É o "outro" Príncipe Harry do país de sua majestade.
Outro destaque vai para Romelu Lukaku. Com mais dois golos, o avançado belga colou-se a Ronaldo no 2.º lugar da lista dos melhores marcadores e desbloqueou (por duas vezes) a jogo frente à Tunísia, que ameaçava tornar-se perigoso para a Bélgica. Abriu a contagem aos 16' e, já depois do empate dos africanos, voltou a marcar aos 45+3'. A sua veia goleadora é bem conhecida e está a mostrar-se neste Mundial, mas isso não é o que merece mais destaque.
É que Lukaku é uma peça fulcral na manobra da equipa belga. Mesmo com médios e criativos de enorme qualidade, o jogo melhora quando Lukaku se dá ao mesmo. Quando o avançado vem atrás fazer tabelas e criar desequilíbrios é que a Bélgica começa a jogar bom futebol. Um jogador completo e em grande forma.
Por último, mas não menos importante: Luka Modric. Para além do grande golo que fez o 2-0 frente à Argentina, a médio do Real Madrid dominou o jogo. A sua qualidade de passe e de controlo dos espaços superou o meio-campo argentino e mesmo defensivamente ajudou a anular a construção de Messi a partir de trás e, claro, a sair rápido em contra-ataque quando a bola era recuperada. Um jogo brilhante, coroado com um grande golo.
A maior desilusão
A escolha e explicação da maior desilusão pode resumir-se a uma palavra: Argentina. A derrota por 3 golos com a Croácia é um dos resultados mais inesperados deste Mundial. A surpresa aumenta ao sabermos que a Argentina precisava de ganhar depois do empate na primeira ronda, mas Messi e companhia voltaram a desiludir, com um jogo pobre e sem soluções.
Defensivamente foram erros atrás de erros. Um falhanço de Caballero quando a equipa tentava sair a partir de trás permitiu o primeiro golo. O segundo “só” surgiu num grande golo de Modric, isto porque a Croácia desperdiçou várias oportunidades em contra-ataque.
Ofensivamente a desinspiração do primeiro jogo continuou. Messi sem criatividade para pegar no jogo, Salvio e Acuña sem desequilibrarem nas alas e Agüero sem muitas oportunidades de fazer golos. Um deserto de ideias que torna ainda mais inexplicável a ausência de um jogador como Dybala do 11 (o jogador da Juventus entrou aos 68'' e a equipa melhorou, ainda que de forma insuficiente).
A culpa, neste caso, não morre solteira. Segundo noticiam vários meios de comunicação, um motim gerou-se dentro da seleção. Para o último jogo (com a Nigéria), podem mesmo ser os jogadores a escolher o 11 inicial, tirando o poder ao selecionador Sampaoli.
A Argentina é a grande desilusão desta segunda ronda e talvez a maior desilusão de todo o Mundial. Caso não consiga seguir em frente, será, então, uma das piores prestações de que há memória da Albiceleste.
O onze da ronda
Guarda-redes – Kaylor Navas (Costa Rica) ou Rui Patrício (Portugal)
Defesas – Pepe (Portugal), Domagoj Vida (Croácia) e Tiago Silva (Brasil)
Médios – Luka Modric (Croácia), Coutinho (Brasil), Xhaka (Suíça) e Quintero (Colômbia)
Avançados – Romelu Lukaku (Bélgica), Falcão (Colômbia) e Harry Kane (Inglaterra)
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