“[Passei] um vídeo do Cristiano Ronaldo a falar no balneário depois de termos conquistado o título europeu de futebol [França, 2016]. 2 minutos e 30 segundos. Perguntei se eles [surfistas] achavam que o CR7 precisava da Seleção para ganhar notoriedade, fama e dinheiro? Não. Ele está na Seleção de corpo e alma, é o que enche de orgulho e faz com que tivesse a atitude que teve com João Moutinho [nos penálties] e na final, depois de lesionado, ao lado de Fernando Santos”.
A incursão no mundo do futebol foi feita por David Raimundo, selecionador nacional de surf e adotada em Marrocos, no campeonato da Europa, em 2016, altura em que Portugal se sagrou campeão europeu. “É fundamental chegar aos atletas e por vezes não chega o discurso”, desvenda. “Ganhámos a equipa na primeira reunião”, recorda.
Portugal prepara-se agora para entrar dentro de água, a partir de 20 maio, no Mundial de Surf que decorre em Biarritz, França. Desta vez, não haverá nenhum vídeo sobre futebol. “Estratégias diferentes para cada prova”, garante o selecionador, sem revelar o que dirá aos seis convocados da seleção nacional: Teresa Bonvalot, Carol e Pedro Henrique, Miguel Blanco, Guilherme Fonseca e José Ferreira.
“Quase todos são vice-campeões do mundo [2015 e 2016], num momento marcante do surf nacional”, frisa. “A fasquia está alta. A nossa ambição é trabalhar para que o título seja uma realidade este ano ou a curto-médio prazo”, garante David Raimundo.
Sobre o que vão encontrar em Biarritz, alerta: “o nível do campeonato está alto”. Candidatos? “A França e o Brasil, com atletas do WCT, e a África do Sul”, remata.
E Portugal? “Não basta” ter talento, diz. “À exceção do Pedro e da Carol, os selecionados cresceram juntos. Há uma relação muito forte”, sustenta. “O espírito de equipa, do primeiro ao último dia, esteve na base do sucesso de 2015 e 2016”, reforça.
Em França a pensar nos Olímpicos onde muito ainda está por fazer
O ISA World Surfing Games em Biarritz baterá este ano o recorde de participações com mais de 40 países. E terá redobrada importância porque antecipa a estreia do surf nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, na praia Tsurigasaki, na península de Chiba.
“Há projeto Olímpico, mas necessitamos de verbas. Queremos fazer um estágio lá fora e não fazemos porque não existe apoio. É importante que o Estado e Instituto Português do Desporto e Juventude olhem para o surf de forma diferente. Somos bons, temos resultados, mas necessitamos de melhores condições, para sermos ainda melhores”, avisa David Raimundo.
“Portugal é muito barato para os resultados que temos estado a ter. Três anos a conseguir títulos e resultados com a força de vontade em trabalhar em prol do surf”, reforça João Aranha, presidente da Federação Portuguesa de Surf (FPS).
Em relação à preparação para os Jogos Olímpicos, diz que “está tudo na mesma” e que muito já se deveria estar a ser feito: “Seleções, talentos, aproveitar o programa olímpico para formar miúdos e não fazemos nada. Estamos de pés atados”, alerta. João Aranha recorda ainda que a sua Federação, que alberga sete desportos, perdeu, recentemente o skate. “Ficou sexy e vai ser olímpico”, explica. ”Foi um ato de pirataria”, lamenta.
Depois de Biarritz, outras provas internacionais surgem no caminho. Há o Europeu de SUP em Peniche (3º no ano passado), “um investimento que não surge porque temos o CAR (Centro de Alto Rendimento) ao nosso dispor”, suspira. E há o Mundial de Surf Júnior (Japão) e o Euro Surf (Noruega). “É chegar e partir de um dia para o outro. São dois investimentos brutais”, refere. “Queríamos ir ao mundial SUP ISA, na Dinamarca, mas o orçamento [que anda na casa dos 300 mil euros] não estica”, lamenta. “
O presidente da FPS recorda que as “saídas, alojamento e alimentação são geridas com muita antecipação” o que faz com as “Seleções hoje em dia custem menos”. No entanto, cada deslocação “não custa menos de 30 mil euros”, aponta.
João Aranha vira, por fim, as atenções para o Estado português e patrocinadores. “O Estado investe milhões na promoção dos campeonatos e o retorno para a Federação é zero”. A mesma crítica é dirigida aos Jogos Santa Casa. “Apresentamos inúmeros projetos de surf juvenil, esperanças, desenvolvimento do circuito nacional e depois apoiam campeonatos do mundo. É a estratégia deles. Tenho que criticá-la. Somos desporto olímpico e dá vontade de lhes bater à porta”, avisa.
A finalizar, João Aranha deixa um alerta. O Kikas (Frederico Morais) fez os circuitos Esperança, "foi às Seleções, mostrou-se disponível para ir ao Japão, mas qualquer dia não há atletas, não há apoios...”.
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