Sendo a Premier League cheia de tradições e cerimónias, seria de esperar que no final também o fosse. Manda a tradição que, quando se defronta o clube que já é matematicamente campeão da liga, os jogadores da equipa adversária se organizem em duas filas, formando uma guarda de honra, e aplaudam a entrada dos jogadores da equipa que acaba de se sagrar campeã.
Quando se tratam de equipas rivais, por vezes a iniciativa pode nem sempre ser o mais sincera possível. Contudo, a verdade é que a elevação inglesa no que ao desporto diz respeito não deixa que as rivalidades impeçam a realização deste ritual.
Vejamos então algumas das mais e recentes e marcantes ocasiões em que equipas distinguiram os campeões com a guarda de honra.
2004/05 | Manchester United - Chelsea
Depois da compra do Chelsea por parte de Roman Abramovich, um encontro entre os Blues e o Manchester United tornou-se um evento de grande importância na Premier League. Mas quando José Mourinho irrompe por Inglaterra levantando ondas e sufocando os adversários com a sua energia e jogos psicológicos, bom, nessa altura passou-se de evento, a rivalidade. Na sua época de estreia no campeonato inglês, não só arrebata o título aos Red Devils, como, já campeão, vai a Old Trafford e à sua espera está uma guarda de honra. Com Roy Keane à cabeça — para quem conhece o fervoroso hoje ex-jogador do United, a vontade de aplaudir a entrada dos rivais deveria ser mínima — o United perfilou e honrou a tradição.
2006/07 | Chelsea - Manchester United
Depois das primeiras duas épocas de Mourinho, em que ganhou por ambas as vezes a Premier League, chegava a hora da vingança. Com um Cristiano Ronaldo a fazer umas das melhores épocas da sua carreira, o United conquista o troféu de campeão e, para gáudio dos seus adeptos, tem a sorte de visitar os rivais ainda antes do término do campeonato. Aliás, o United sagrou-se campeão na jornada anterior, quando estava previsto que o título se decidisse no clássico com o Chelsea. E eu posso falar com conhecimento de causa porque, permitam-me a nota, estive presente nessa mesma partida, esperando que fosse o jogo do título. Infelizmente, foi apenas um jogo entre jogadores de segunda por parte de ambas as equipas, uma vez que o campeonato já estava decidido.
2011/12 | Arsenal - Manchester United
Nos últimos anos têm sido muitas a desilusões do Arsenal. Como já tive oportunidade de referir aqui, uma das maiores frustrações de adeptos e clubes tem sido perder jogadores (inclusivamente capitães) para clubes rivais. São exemplos disso Cèsc Fabregas, Samir Nasri, Bacary Sagna, entre outros. Em 2011 tinha sido a vez de Robin Van Persie, na altura o melhor marcador da Liga, a abandonar a equipa londrina e, neste caso, a rumar ao United. Eis se não quando, passado um ano, o Gunners vêm-se ‘obrigados’ a fazer a guarda de honra para o ex-jogador e ex-capitão de equipa. Não só foi o regresso do holandês, agora como campeão, como foi o vigésimo título da Premier League para o United, uma marca histórica que pôde, assim, ser celebrada no terreno de um rival.
2012/13 | Manchester United - Sir Alex Ferguson
Não só se faz a guarda de honra para homenagear os campeões, como também para homenagear a carreira de um elemento ligado ao desporto. E neste caso, foi o United que fez a guarda de honra para homenagear o seu próprio treinador. Após 26 anos ao serviço dos Red Devils, este foi o último jogo de Sir. Alex em Old Trafford e não só o gigante de Manchester como o próprio Swansea, adversário do United nessa partida, fizeram questão de homenagear o técnico, desta forma tão característica do futebol inglês.
2014/15 | Chelsea - Liverpool
Apesar de em 2015 o Liverpool ter acabado muito longe do primeiro lugar, terá sido particularmente difícil para o clube da cidade dos Beatles prestar a homenagem ao campeão. Isto porque, um ano antes, a três jornadas do fim, os Reds, no famoso tropeção de Steven Gerrard, deixaram escapar a liderança. Num jogo em que tinha tudo para bater o Chelsea, acabaram por ser os rivais de azul a levar a vantagem e a estragar os planos de Steven Gerrard e seus pares de se sagrarem campeões depois de mais de vinte anos sem o conseguirem fazer. Para Gerrard, isso significaria que nunca iria conseguir atingir tal objectivo pelo clube que representara desde criança.
Entretanto na Premier League, e apenas com dois jogos por jogar para a maior parte das equipas, a situação ficou muito complicada para o Hull de Marco Silva. Com uma derrota inesperada frente ao Sunderland e com o Swansea a, também inesperadamente, bater o Everton, tudo mudou. A jornada passada poderá ter sido, à imagem de Gerrard, a escorregadela do Hull. A necessitar de vencer os dois jogos que lhe faltam, o Hull tem pela frente uma tarefa, que depois de parecer alcançável, acaba agora por ser muito complicada. Se o Swansea vencer o Sunderland no sábado, é o adeus de Marco Silva e do Hull à Premier League. Ainda de destacar o embate entre Tottenham e Manchester United que, apesar de não trazer grande impacto para a liga, é um jogo simbólico, já que será o último dos Spurs no seu atual estádio, antes de este ser renovado.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.
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