Na última segunda feira, já com o técnico Italiano afastado do comando técnico da equipa, o Leicester voltou a ganhar. Mas mais que voltar a ganhar, voltou a querer ganhar. No final do jogo os comentadores ingleses apontavam o facto dos jogadores do Leicester estarem "exaustos”, fazendo mais uma vez alusão à ideia de que, até à data, os jogadores não tinham dado o máximo de si mesmos.
Independentemente da decisão de despedir Ranieri estar ou não correcta (ou os jogadores não corresponderem mais em nome do treinador), um despedimento influencia sempre uma equipa. Aponta os holofotes para os jogadores e, normalmente, algo de positivo, acontece.
Não existe qualquer evidência de que os jogadores tivessem algo contra o treinador que os levou ao título há apenas alguns meses e, como tal, o extraordinário resultado contra os Reds não poderá servir de conclusão para avaliar o despedimento do treinador italiano como uma boa ou uma má decisão.
Provavelmente, a razão pela qual o rendimento dos jogadores foi menor, teve a ver com o estilo de jogo do Leicester requerer muita paixão, muito querer, muita concentração e acima de tudo, muita motivação. E, sejamos sinceros, atingindo o ‘impossível’ na época passada, é apenas normal que todos esses sentimentos tenham diminuído e, com o passar do tempo, a qualidade individual dos jogadores, que não está ao nível de outras equipas na liga, venha ao de cima, deixando à vista as fragilidades da equipa.
Ainda assim, existem três pontos fulcrais que ajudaram, não só à descida de rendimento, como também ao despedimento do obreiro de uma das maiores surpresas da história do futebol.
As três principais razões para a saída de Ranieri
A primeira razão a afetar o rendimento da equipa, e consequentemente, o despedimento do técnico, foi a saída de N’Golo Kanté. Para os mais distraídos, Kanté é neste momento um dos principais responsáveis pela solidez defensiva do Chelsea, e prepara-se para se sagrar bicampeão, agora ao serviço dos Blues. Sem ele, os números de desarmes da equipa desceram drasticamente e o rendimento das ‘raposas’ não tem comparação ao da época passada. Kanté era o principal motor do Leicester e devido ao estilo de jogo do conjunto, o jogador em mais evidência durante os noventa minutos de cada partida.
"Irra. O (Robert) Huth e o (Wes) Morgan sem o Kanté à sua frente fazem lembrar o Huth e o Morgan." Gary Lineker, Ex-jogador do Leicester e da Selecção Inglesa
A segunda razão, e principal, tem o nome de Steve Walsh. Quem?
Steve Walsh, irmão de Mickey Walsh - ex-jogador do FC Porto que na década de oitenta foi duas vezes campeão nacional e apontou mais de quarenta golos ao serviço dos azuis e brancos - era o homem responsável pelo recrutamento de jogadores do Leicester.
Em Julho do ano passado, Walsh recusou o assédio do Arsenal e assinou pelo Everton, com o objectivo de colocar a equipa a lutar com os primeiros seis classificados da liga. Melhor que ninguém (ou que Ranieri), Walsh teve a frieza de ponderar o que tinha sido alcançado e o quão difícil seria dar seguimento à época anterior, e resolveu abraçar outro projecto. De lembrar que o Leicester gastou mais de sessenta milhões de libras (aproximadamente setenta milhões de euros) no mercado de transferências, e acabou por não conseguir substituir a peça principal da equipa, Kanté.
Assim, Walsh é, muito provavelmente, a principal razão para o despedimento de Ranieri. Ou seja: a falta de substituto à altura do irlandês poderá muito bem ser a principal razão para a falta de correspondência às expectativas da equipa para este ano.
Walsh foi o responsável direto pela contratação de nomes como Jamie Vardy, Riyad Mahrez e, claro, N’Golo Kanté. Mas não se pense que o antigo diretor do Leicester apenas contratou as estrelas da equipa. Pelo contrário. Walsh foi também responsável pela vinda de mais de uma dezena dos jogadores que acabaram por se sagrar campeões na época passada. Com a saída do diretor desportivo, a renovação da equipa ficou a meio caminho e o ‘castelo de cartas’ perdeu a sua base de sustentação para o sucesso.
A terceira e última razão para o despedimento do italiano é o chamado o ‘estatuto’ Premier League. Como vimos há duas semanas, em Inglaterra a pressão para despedir um treinador fica mais séria quando o risco de perder o ’estatuto’ Premier League é uma hipótese. Se tal ocorre, normalmente ‘rolam cabeças’.
O Leicester não foi diferente. Colocados todos os sentimentos de parte, a decisão de despedir o treinador foi 'fácil' para o dono do clube. Como homem de negócios, Vichai Srivaddhanaprabha tomou uma decisão que põe os interesses da equipa em primeiro lugar. O dinheiro que o clube perde em patrocínios, bilheteira e, principalmente, direitos televisivos, é muito importante para a saúde financeira do mesmo e sobrepõe-se à ideia romanceada do futebol.
Este semana, o Manchester United a abre a jornada contra o Bournemouth, Marco Silva vai visitar, precisamente, o Leicester City e um Liverpool-Arsenal fecha um sábado que promete trazer mais emoção a uma liga que nunca deixa de nos surpreender.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.
Comentários