Quatro dias antes do natal, escrevi que Solskjær é um conhecedor do clube, não tem pressão associada (ninguém lhe exigirá títulos a curto prazo) e poderia ser a cara de um projeto de média/longa duração que abrisse, mais tarde, as portas a um treinador de renome caso o norueguês não conseguisse dar seguimento ao projeto com uma sólida candidatura ao título dentro de alguns anos. Caso contrário, e a confirmar-se a contratação de um novo treinador no início de época, a pressão voltará. A mudança, não sendo acompanhada de um investimento ao nível do rival Manchester City, será muito provavelmente o início de mais um período de insucesso no Manchester United.
Até ver, o que foi escrito em "Manchester United: Um problema de estratégia" está a tornar-se realidade. Solskjær está a provar que conhece o Manchester United, limita-se a estimular o moral dos jogadores, foca-se estritamente nas raízes de contra-ataque que suportam todo o historial de vitórias do gigante inglês e faz a delícia dos adeptos que por ele têm, e sempre tiveram, um grande carinho.
Oito em oito
Até há pouco tempo, o registo do treinador norueguês ao serviço do United era o mais imaculado possível. Com um começo de sonho, o ex-jogador e agora treinador da equipa do norte de Inglaterra, conseguiu a proeza de virar a atitude da equipa de pernas para o ar, aparentemente, do dia para a noite. Com vinte e dois golos marcados e apenas cinco sofridos, com vitórias forasteiras sobre o Arsenal e Tottenham, com um espírito de quem não acreditava bem no que lhe estava a acontecer, o jovem treinador fixou um novo recorde no clube. É o treinador, do Manchester United, com mais vitórias consecutivas no início do seu ‘mandato’, deixando para trás Sir Matt Busby que conseguira quatro vitórias consecutivas, no longínquo ano de 1945.
Se falarmos apenas da Premier League, o treinador, ainda interino, entrou para um grupo de elite de treinadores, que conseguiram seis vitórias consecutivas nos primeiros seis jogos ao serviço de qualquer clube, para a liga inglesa. Carlo Ancelotti e Pep Guardiola são quem fazem companhia ao norueguês nessa lista de começos de ‘reinado’ imaculados.
A juntar a tudo isso Ole Gunnar Solskjær já provou que criou uma ligação forte com o grupo. Os jogadores estão novamente a dar 100%, parecem confiantes, à vontade com o que lhes é pedido e muito provavelmente confortáveis com o facto de não lhes ser exigido nada mais do que capacidade de trabalho. Precisamente o que, com este plantel, o United terá que fazer, seja qual for o treinador na época que se segue.
Ao nono jogo, apesar de não estender a sua série de vitórias, Solskjær acabou por não perder e a invencibilidade mantém-se. Tudo, graças, novamente, à atitude da equipa, que mesmo perdendo por duas bolas a zero até perto do final da partida, se recusou a dar-se por vencida, conseguindo o empate já nos descontos após o tempo regulamentar.
O que mudou - as algemas - e o que aí vem
Parece ser consensual, para todos os comentadores em Inglaterra, que com a saída e José Mourinho, os jogadores parecem ter-se visto livres de “algemas”. Mais uma vez, poucos parecem querer reconhecer e analisar, as diferenças entre ambas as situações. O que é certo é que, de facto, a equipa está diferente. Sem compromisso, sem pressão e com uma disponibilidade para o jogo completamente diferente. As diferenças táticas são algumas, principalmente na forma como a equipa ataca sem se preocupar em demasiado com a transição defensiva que poderá acontecer, o que resultará frente à maioria das equipas que o Manchester United defronta. No entanto, basta olhar para o difícil calendário do próximo mês para perceber que os maiores desafios do United ainda estão para vir.
A acontecer uma possível série de maus resultados, a família Glazer, proprietários do clube, não deverá esquecer-se do que já foi alcançado e em quanto tempo foi alcançado por Ole Gunnar Solskjær.
O United passou de ter que encontrar uma razão para manter Solskjær ao leme do United para, neste momento, ter que encontrar uma razão para não o fazer. Se a série de resultados até então alcançados pelo treinador foram a primeira razão, a série de jogos que aí vem, e os seus resultados, poderão ser a segunda.
Para que o clube se consiga reerguer Solskjær terá, obrigatoriamente, que ser a escolha do United para o futuro próximo, independentemente do que poderá acontecer nos próximos jogos e até ao final da temporada.
Com um treinador que tenha a pressão do sucesso imediato e que transfira isso para um grupo que muito dificilmente conseguirá ganhar a Premier League nos próximos anos, poderá voltar a acontecer o mesmo que aconteceu com Louis van Gaal e José Mourinho. E mais uma vez o United estará em maus lençóis.
Esta semana na Premier League
Com a derrota na última jornada dos Citizens, a receção dos pupilos de Pep Guardiola aos Gunners dá uma dimensão maior a este que já é um clássico da Premier League.Com o City com cinco pontos de desvantagem para a equipa de Jürgen Klopp e com o campeonato começar a aproximar-se, perigosamente, de momentos que se poderão tornar decisivos, teremos um jogo, com toda a certeza, de colocar os nervos à flor da pele. A não perder, Manchester City vs. Arsenal, domingo, dia 3 de fevereiro, pelas 16h30.
Por último, o jogo do fim-de-semana poderá ser outro, pelo menos em Portugal, já que existe um duelo entre treinadores portugueses na Premier League. Chegou a hora de desempatar o que ficou por decidir na primeira volta do campeonato, quando Wolves e Toffees empataram, então, a duas bolas. O duelo de meio da tabela entre Everton e Wolverhampton terá lugar no sábado, dia 2 de fevereiro, pelas 15h00.
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