Por vezes acusado de ser um treinador demasiado emotivo, que coloca as suas equipas a jogar de forma muito física e sem a organização necessária aos conjuntos de topo, o alemão Jurgen Klopp está esta época a provar exatamente o contrário.
Vejamos as três razões que transformaram o Liverpool numa equipa de jogos a eliminar, num verdadeiro candidato ao título na mais competitiva liga de futebol do mundo.
1. O resolver dos problemas defensivos
Pode dizer-se que no mercado de verão o Liverpool "apenas" contratou três jogadores. Mas terá de se dizer também que todas as aquisições foram cirúrgicas, que nenhum jogador fundamental deixou a equipa e que, com esses três jogadores e com a polivalência de muitos deles, os Reds passaram a beneficiar de dois jogadores de qualidade para todas as posições no terreno de jogo.
Neste momento, o Liverpool é uma equipa que consegue, por exemplo, no início do mês de dezembro, como foi o caso, ir jogar a Burnley com três suplente na frente de ataque e mesmo assim amealhar mais três pontos. Dependendo do adversário, Klopp ajusta o onze, altera a tática conforme ache mais adequado, e continua com uma equipa de excelente qualidade e, acima de tudo, com excelentes opções no banco de suplentes.
Em duas épocas e meia, o alemão deu a identidade atacante necessária à equipa. E desde há um ano a esta parte tem tornado a sua equipa numa autêntica máquina. Resolveu os problemas defensivos e com isso possibilitou a toda a estrutura atingir resultados até então dados como muito pouco prováveis. O velho ditado ‘o melhor ataque é a defesa’ aceita que nem uma luva ao Liverpool de 2018.
2. O adicionar do 4x2x3x1 ao já existente 4x3x3
É fácil estereotipar treinadores e cair no erro de pensar que a maioria tem um estilo e que não joga de outra forma que não aquela a que estamos habituados. Pois bem, o que temos visto este ano por parte do Liverpool é exatamente o oposto.
Com o sucesso do 4x3x3 e do trio ofensivo (Mané, Firmino e Salah) na temporada passada (atingindo a final da Liga dos Campeões), seria difícil pensar que Jürgen Klopp iria, alguma vez, mexer em tais aspetos da sua equipa. Nada mais longe da verdade. O alemão não só mexeu, como revolucionou a forma como o Liverpool encara grande parte dos jogos esta época. Durante a pausa para férias, Klopp identificou as necessidades da equipa, reforçando-se em conformidade, e planeou ao detalhe uma mudança tática que está, neste momento, a deixar que a mesma respire. E por deixar a equipa respirar, quero dizer que está a dar continuidade ao excelente futebol praticado e aos resultados positivos, dando tempo e espaço à equipa para descansar durante a partida, ou pelo menos não ter de estar constantemente com o pé no acelerador.
A restruturação do formato tático da equipa tem passado pela retirada de um médio defensivo e pela colocação de Xherdan Shaqiri, sendo que este passa a ocupar a posição de Mohamed Salah, na ala direita, e o egípcio passa a ter a liberdade de um número 10 moderno, ocupando todas as posições do ataque durante os noventa minutos do encontro.
Ajustando a formação a um 4x2x3x1, Klopp tem conseguido evitar contra-atacar durante a maior parte do encontro. A posse de bola da equipa passou a ser um ponto forte, a gestão do ritmo do jogo uma prioridade e a minimização do esforço dos jogadores uma realidade. Tendo em mente a transformação da sua equipa, e recorrendo a uma analogia com o atletismo, podemos dizer que este Liverpool passou de ser uma equipa que conseguia “apenas” sprintar, para uma equipa que consegue manter o equilíbrio em provas de meio-fundo e fundo, como é o caso da Premier League.
3. O "efeito Virgil van Dijk"
Como foi dito acima, um dos fatores para este salto qualitativo do Liverpool foi a contratação de três peças fundamentais no mercado de verão. O que não podemos esquecer é que foi o mercado de inverno, exactamente há um ano, que deu não só inicio, mas como que tornou viável o investimento na equipa. A contratação de Virgil van Dijk trouxe a estabilidade e o impulso técnico e físico que os Reds necessitavam, ajudando a equipa a qualificar-se para a final da Liga dos Campeões da época passada.
Para um defesa central, por mais evidente que seja a sua qualidade, é muito difícil fazer uma diferença enorme numa equipa de menor dimensão. Um jogador de cariz ofensivo terá sempre as suas oportunidades para fazer a diferença e sempre que assista ou marque um golo, essa mesma diferença ganha uma dimensão especifica. No caso de van Dijk, por muito que o Southampton beneficiasse da sua qualidade, a diferença entre vitórias, empates e derrotas e golos sofridos, um impacto global portanto, não foi exuberante.
Vejamos o que aconteceu num período de um ano com Virgil van Dijk, comparado a um período de um ano sem o central holandês. De notar que para, o mesmo efeito, uma análise de impacto global de um jogador em especifico, no caso Victor Wanyama, que trocou o Southampton pelo Tottenham no verão de 2016, tem muito mais influência nos números de uma equipa de menor dimensão. Basta para isso ver o "efeito Wanyama".
Já no Liverpool, a diferença entre o último ano sem Virgil van Dijk a comandar a defesa e o último ano, em que o holandês foi o líder defensivo do conjunto, é esmagadora.
Na prática o Liverpool com Virgil van Dijk, realizando menos quatro jogos, somou 78 pontos, 4 pontos mais que o Liverpool sem o holandês. Sendo que os quatro jogos em falta consistem em 12 pontos que o Liverpool poderá ainda somar. Talvez mais impressionante que os pontos, sejam os golos sofridos pela equipa. A estabilidade é assim, por estes dias, sinónimo de Liverpool FC. Com menos 24 golos sofridos, Jürgen Klopp parece ter descoberto a fórmula mágica que impede os golos adversários.
Uma equipa não muda devido a um jogador, a um treinador ou a uma alteração do sistema tático. Normalmente as equipas mudam devido a um conjunto de todos esses fatores, incluindo todos os que participam no processo. Na semana passada usámos o exemplo do Tottenham e do Liverpool, que têm vindo a crescer de forma pensada e estruturada durante os últimos três anos, pelo que podemos começar a concluir que o impacto de uma equipa é tanto maior, quanto mais tempo é dado à ideia e ao projecto. Manchester City, Tottenham e Liverpool são exemplo claro disso mesmo, projectos de médio longo prazo, que acreditam na forma como pensaram o seu futuro e que, com mais ou menos erros pelo caminho, conseguem levar a cabo as ideias colocadas no papel.
Esta semana na Premier League
“A edição deste ano [do Boxing Day] não nos reservou jogos grandes (…)”, escrevi na semana passada. Contudo, também avisei para o facto de que “o que não faltará será emoção (…)”. Vinte e sete golos em oito jogos num só dia: eis a melhor liga de futebol do mundo. Esta semana, com jornada dupla, temos o Liverpool em grande destaque já que tanto a fechar, como a abrir o ano, terá dois confrontos que poderão começar a definir a reta final da Premier League. Primeiro, recebendo o Arsenal neste sábado, dia 29, pelas 17h30, e visitando o Manchester City na quinta-feira, dia 3, pelas 20h.
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