Em novembro de 2018, o quarterback dos Washington Redskins fez uma lesão grave num jogo da principal liga de futebol americano (NFL) contra os Houston Texans. Alex Smith sofreu uma fratura em espiral e composta na tíbia e fíbula direita.

Três dias após a cirurgia, o atleta esteve à beira da morte por causa de uma septicemia, resultado de uma infecção bacteriana que lhe estava a comer a carne. A certo ponto, os médicos consideraram a hipótese de lhe amputarem a perna, mas acabaram por conseguir controlar a infeção.

“A nossa primeira prioridade era salvar a vida dele, depois fazer o nosso melhor para lhe salvar a perna. Qualquer coisa além disso era um milagre”, contou Elizabeth, esposa de Alex Smith, à ESPN.

Nos nove meses seguintes, Smith fez 17 cirurgias — entre as quais uma cirurgia microvascular para transferir músculo de uma perna para a outra, ligar artérias e tudo mais.

E tal como em qualquer transplante de órgãos, o sucesso não era garantido. Se o corpo rejeitasse, a amputação da perna direita seria inevitável e a operação já iria comprometer a sua perna esquerda.

Mas Smith avançou. Depois de uma semana de recuperação, voltou para casa numa cadeira de rodas, com a perna fixada com apoios de metal.

O trabalho de fisioterapia que se seguiu passou, desde janeiro de 2019, pelo hospital militar de San Antonio, o que colocou o seu ferimento à luz de toda uma nova perspectiva, já que partilhava o dia com soldados que perderam membros na linha da frente de combate e faziam também eles um processo de recuperação.

Em junho desse ano, Alex Smith anunciou que não só iria regressar aos relvados, como tinha intenção de jogar na NFL outra vez. Só um mês depois conseguiu voltar a andar sem apoio.

Depois de uma experiência traumática, e tendo já recuperado a sua mobilidade completamente, Smith não recuou na intenção de regressar ao campo. Em agosto de 2020 a equipa médica deu-lhe permissão para voltar a jogar futebol-americano e em setembro este juntou-se de novo aos Washington Redskins.

A 'prova dos nove' aconteceu na jornada 5, quando Smith substituiu Kyle Allen contra os Rams. Apesar do seu regresso não ter significado a vitória da equipa nesse jogo, o significado da partida era bem maior.

Com esta história de resiliência não é de estranhar que Smith tenha recebido este sábado, a um dia do Superbowl, o prémio do Regresso do Ano (Comeback Player of the Year) da NFL

Este foi o discurso que fez ao receber a distinção:

Obrigada por esta honra incrível. Jogar este jogo tem um impacto físico e são muitos aqueles que mereciam esta distinção. Há dois anos eu estava sentado numa cadeira de rodas a perguntar-me se a vida que tinha conhecido tinha mudado para sempre. Raiva, pena, duvidar de mim mesmo, perguntar “porquê eu?”. Estes foram sentimentos que eu já tinha tido em alguns momentos da minha carreira, mas desta vez não era sobre futebol, era maior. Era sobre eu conseguir ser um pai capaz de jogar com os meus filhos, um marido capaz de fazer caminhadas com a sua mulher e, apesar das minhas novas limitações, recuperar a minha vida.

O meu objetivo era voltar ao futebol, não porque achasse que podia ser uma realidade, mas porque sabia que a minha vida seria melhor por causa disso. Combater o medo em torno da minha nova perna com o foco em algo maior e uma vida vivida sem ressentimentos.

Levou 728 dias, 728 dias de pequenas vitórias e grandes contrariedades, de horas incontáveis de terapia, tantas quantas as noites sem dormir. Tenho de agradecer à equipa incrível de médicos, enfermeiros e funcionários que me acompanhou e, nessa nota, deixo um agradecimento a todos aqueles que este ano na estiveram na linha da frente [no combate à pandemia] e sacrificaram tanto.

Foi ao estar no centro militar de reabilitação que verdadeiramente percebi a sorte de tinha. Foi a honra de uma vida poder recuperar ao lado dos mais bravos deste país, que sacrificaram a vida e o corpo para que possamos jogar um jogo que tanto amamos. Foi também aí que pela primeira vez voltaram a colocar uma bola de futebol americano nas minhas mãos. Obrigado por me desafiarem e me mostrarem que não era errado voltar a sonhar tão alto.

Este foi um caminho para a recuperação que não fiz sozinho e partilho esta distinção com todos aqueles que me ajudaram no processo, mas especialmente com a minha mulher Elizabeth e os nossos três filhos. Amo-vos mais do que imaginam, deram-me a força, a motivação e o apoio que não conseguia em mais nenhum lado. Espero que pelo menos vos tenha deixado tão orgulhosos como vocês me fazem todos os dias. E aos meus colegas no balneário, esta última temporada foi algo que vou acarinhar para sempre. Obrigada pelo vosso encorajamento e por acreditarem neste velhote mais uma vez. E para todos aqueles que possam estar a passar por tempos difíceis, saibam que dias melhores virão, abracem tudo o que a vida tem para oferecer, não há momentos altos sem os baixos. Honrem cada dia e lembrem-se: vivam, simplesmente.

Obrigado