O europeu de super-médios foi mais um título na longa caminhada deste atleta, que, aos 40 anos, continua a querer provar que é possível viver do boxe em Portugal.
“Já pratico boxe há muitos anos. Houve fases boas e fases más, afastei-me da modalidade e depois voltei mais tarde para me dedicar a sério. Já lido com este mundo desde os oito anos, mas era muito difícil conciliar com outros trabalhos”, afirmou.
Em entrevista à Lusa, o lutador oriundo da Quinta do Conde, onde já tem uma escola em seu nome, assumiu ter feito uma “preparação contínua” ao longo das últimas semanas, treinando “quatro a seis horas por dia”. Antes do combate, no refúgio do balneário, ainda havia tempo para expressar os seus sonhos.
“Se ganhar, este título será óptimo para mim. Será o quarto título europeu e ficarei com um currículo e ‘rating’- melhores para poder vir a lutar pelo título mundial. Faltam três vitórias para poder chegar lá. Em 2018 quero tentar o título mundial. Nesta fase da minha vida, a maior vitória é mostrar aos portugueses que se pode ganhar um título mundial”.
Enquanto esperava pela sua hora de subir ao ringue, onde era esperado por mais de meio milhar de pessoas na assistência, decorada aqui e ali com bandeiras portuguesas, Rui Pavanito enfrentava as constantes solicitações e cumprimentos de outros pugilistas, que denunciavam o seu orgulho por partilhar o balneário com ele. Um longo caminho desde que se fez pugilista na solidão.
“Foi aí que voltei a dedicar-me a sério ao boxe. Habituei-me a treinar sozinho. Sinto-me muito forte fisicamente. A vida é que nos traz essa força. Trabalhei de dia, de noite, já fui preso e foi o boxe que me afastou desse mundo, sempre com pessoas negativas à minha volta”, confidenciou.
Do fundo até ao topo, Rui Pavanito revelou que teve de se construir como o seu próprio ídolo, tatuando a sua imagem de vitória na pele do braço direito, indiferente a outras referências. Ganhou o respeito dos outros e, para ele, “não há dinheiro nenhum que pague isso”, depois de ultrapassar períodos “em que não tinha como pagar a renda” ao fim do mês.
“Há muitos atletas bons, mas para ser o meu ídolo tem de passar por mais do que aquilo que eu passei. O meu ídolo sou eu. Tenho muitos alunos na minha escola e para alguns deles eu sou o seu ídolo, até já tatuaram o meu nome. Isso é uma motivação e uma responsabilidade”, sublinhou o pugilista, que se profissionalizou em 2005.
Aos 40 anos, o lutador sabe que o futuro lhe começa a escapar entre cada golpe, entre cada corte. Apesar disso, continua sem fazer planos, na expectativa de que o corpo resista sempre ao próximo combate. E o impacto do boxe na velhice é algo que já lhe passou pela mente, embora prefira afastar-se da ideia.
“Quero aproveitar porque não tenho muito tempo. Eu jogo para o público. Não ando aqui por andar, eu vivo para o boxe. Só há uma coisa que me pode fazer parar: uma lesão. E já pensei em como será quando for velho, claro. É difícil percebê-lo quando estamos bem e não consigo ainda perceber”, disse, sem esconder a gratidão à modalidade.
Na noite de sábado, após dois assaltos equilibrados e de estudo, a vitória chegou depois de um KO por abandono do adversário, devido a uma lesão na mão. Uma surpresa antes de poder aplicar a sua estratégia, mas que ainda assim o deixou mais perto do sonho.
“O meu sonho é ter a vida com que sonhei através do boxe”, frisou.
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