Portugal-Espanha. Nas epopeias, na história, vida, política, gastronomia, cultura e no desporto, ou qualquer outro departamento, a competição e as exaltações mais, ou menos, patrióticas e a efervescência de um sentimento muito especial estão sempre presentes entre os vizinhos ibéricos cada vez que se apresentam frente a frente no mesmo tabuleiro.
Hoje, é dia de mais um duelo. Uma “batalha” no campo desportivo. A seleção nacional de râguebi masculina recebe a Espanha no Estádio do Restelo (15h00), Lisboa, com o objetivo de reservar um dos lugares na final do Rugby Europe Championship 2024 (REC 2024). A Geórgia, multicampeã europeia, venceu (43-5) a Roménia, já tem bilhete para Paris e lugar marcado no Stade Jean Bouin onde se realizará as finais do REC 2024, a 17 de março.
À frente de cada um dos postes estão duas seleções em processo de renovação. E duas nações que usam as respetivas diásporas e laços de sangue para alimentarem os seus sonhos.
Os netos de Linda de Suza continuam a alimentar o sonho português
Os lobos, ainda com o espírito do campeonato do mundo de râguebi França 2023 dentro do corpo apresentam-se em campo com nove mundialistas no XV inicial. António Machado Santos, José Madeira, Martim Bello, João Granate, David Wallis, Nicolas Martins (o único lusodescendente sobrevivente do Mundial), Tomás Appleton (o mais internacional em campo, 69), José Lima (o segundo mais internacional, 58), Manuel Cardoso Pinto, e mais dois preparados para saltar do banco, Diogo Hasse Ferreira e Duarte Torgal.
Os restantes jogadores em campo e que compõem o lote dos 23 convocados, o grosso estreou-se este ano como selecionável na principal competição da Rugby Europe e vieram da diáspora portuguesa em França.
Liderados pela dupla de orquestra dos Hugo’s, Camacho e Aubry, ao todo são sete lusodescendentes, meia-dúzia dos quais começa a dançar ao apito inicial, ao lado dos mundialistas e dos estreantes lusos nestas andanças dos lobos, Pedro Vicente (Agronomia) e José Paiva dos Santos (Belenenses), ambos sentados no banco.
Isto é, a receita, a mistura dos jogadores portugueses, alguns dos quais emigrados para as divisões semiprofissionais e profissionais francesas, e os, agora, netos de Linda de Suza, atletas nascidos em França, mas de ascendência e nacionalidade portuguesa, que serviu para o França 2023, mantém-se tendo em vista o objetivo de apuramento para o próximo mundial, Austrália 2027, conforme tem sido assumido publicamente pela Federação Portuguesa de Râguebi (FPR).
Pampas e lado basco francês na renovada Espanha
Nos leones (alcunha da seleção espanhola), a renovação é igualmente a palavra de ordem, numa mistura de geração Z, jogadores nascidos pós-2000 e que se sagraram campeões mundiais B (subiram ao Mundial sub-20) e veteranos da velha guarda espanhola. Álvar Gimeno é o mais internacional (37 vezes chamado à seleção), registando-se a convocatória de somente mais quatro jogadores com mais de 20 internacionalizações.
A utilização, que não é de hoje, dos laços de sangue espalhados pela Argentina e o lado basco de França, continua a ser imagem de marca da seleção liderada atualmente pelo argentino, Pablo Bouza.
E do país das Pampas apresentam-se sete jogadores vestidos com a camisola de La Roja, um dos quais, Joaquín Domínguez, “argentino” que joga em Portugal, no Belenenses. Acrescem ainda dois franceses (Ximun Bessonart, debutante na seleção) e Brice Ferrer, um camaronês (Thierry Futeu), um inglês (Matt Foulds) e um sul-africano (John-Wessel Bell).
Espanha leva 14 triunfos de avanço, mas passado recente mostra equilíbrio
Países de nascença à parte, há um empate de jogadores a atuarem em França. 10 e 10 espanhóis. Do outro lado da fronteira, três jogadores desfilam fora de portas, um em Portugal, outro em Itália e, por fim, Inglaterra.
Portugal, Portugal, primeiro classificado do Grupo B e a Espanha, segundo lugar do Grupo A do REC 2024 encontram-se hoje num estádio com vista para o Rio Tejo e Cristo Rei e que espera uma assinalável moldura humana (bancada Poente esgotada, conforme informação registada no site de compra dos ingressos).
O duelo entre lobos e leones é a repetição da última meia-final do antigo Seis Nações B, realizada por esta altura no ano passado, no mesmo estádio, com a vitória (27-10) a pender para Portugal.
Esta meia-final da prova que é considerada o campeonato da europa (as seis melhores seleções europeias competem no Torneio das Seis Nações, competição privada) é o 43.º duelo em râguebi entre os vizinhos ibéricos, uma rivalidade nascida num amigável, em 1935, em Lisboa.
De lá, para cá, 27 vitórias espanholas, 3 empates e 13 vitórias de Portugal, duas das quais nos dois últimos encontros do antigo Seis Nações B realizados em território nacional, dando seguimento ao equilíbrio demonstrado nas 10 últimas partidas, das quais, a Espanha venceu cinco, Portugal, 4 e registou-se um empate (a 16 de março de 2013, em Santiago de Compostela).
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