O Expresso [artigo exclusivo para assinantes] revela, este sábado, que a Unilabs, o laboratório que a Liga escolheu como parceiro para testar jogadores e equipas técnicas da I Liga, obteve vários resultados errados, mais concretamente falsos positivos, na testagem a duas equipas.
Numa amostra a que o semanário teve acesso, em 11 análises, apenas duas estão corretas.
O caso foi detetado por um médico do Hospital de São João, no Porto, que está a dirigir um estudo de identificação de anticorpos à Covid-19 entre atletas de várias modalidades e que tinha testado vários jogadores do Vitória Sport Clube pouco tempo antes, tendo todos eles obtido resultado negativo.
Surpreendido com o elevado número de infetados detetado pela Unilabs no plantel vimaranense, contactou o clube. Foi feita uma contra-análise no hospital e confirmou-se o erro. Conclusão, no clube de Guimarães, onde tinham sido identificados três casos positivos e um inconclusivo, havia apenas um caso de infeção.
A situação levou a que a equipa médica do Famalicão decidisse também repetir as análises. Desta feita, foi a própria Unilabs a assumir a realização das contra-análises para descobrir a falha. Neste caso percebeu-se que de sete casos positivos que se pensavam existir no clube, apenas um era real.
O Expresso explica que a real dimensão do problema não é conhecida. O laboratório em questão nega a existência de falha nos procedimentos, mas confessa que “houve médicos de clubes a perguntarem porque havia tantos positivos”.
António Maia Gonçalves, diretor técnico da Unilabs, explicou ao semanário que “o teste tem 97% de especificidade e 83% de sensibilidade, portanto 3% de falsos positivos, e estamos dentro dessa estatística. Não há erro nenhum, é uma característica do próprio teste.”
O jornal deixa a questão de como é que essa margem de erro. admitida no método de diagnóstico, ficou, ao que se sabe, concentrada naquele grupo de jogadores.
Em resposta à reportagem, a Liga Portugal afirmou “não ter conhecimento de nenhum erro de diagnóstico nos testes até agora realizados”, sublinhando que esta revelação em nada compromete o regresso agendado do campeonato, a 3 de junho.
A Unilabs não é o parceiro exclusivo dos clubes da I Liga, tendo cinco emblemas (Boavista, Sporting de Braga, Marítimo, Portimonense e Tondela) optado desde início por recorrer a outros laboratórios. Agora, e após este incidente, segundo o Expresso, são vários os clubes que estão a ponderar a cooperação com o laboratório parceiro da Liga.
"Conclusões alarmísticas, despropositadas e sensacionalistas"
Num comunicado conjunto, o Hospital São João e a Unilabs responderam à manchete do jornal Expresso deste sábado. O Conselho de Administração do Hospital diz que "desconhece qualquer estudo feito a atletas de clubes profissionais ou não profissionais de futebol realizados na instituição", salientando que esta informação já tinha sido transmitida ao semanário.
Por seu lado, a Unilabs Portugal "refuta de forma veemente as conclusões alarmísticas, despropositadas e sensacionalistas, apresentadas pelo referido jornal de que os testes que tem vindo a realizar com jogadores profissionais tenham dado resultados 'errados'".
A uma só voz, as instituições explicam que "existe uma multiplicidade de fatores que pode afetar os referidos resultados, desde datas diferentes de colheita, aos procedimentos de colheita aplicados, até às metodologias, equipamentos e reagentes específicos utilizados em cada unidade laboratorial".
Liga esclarece parceria
A Liga Portuguesa de Futebol Profissional esclareceu a escolha da Unilabs como laboratório parceiro, "que melhores condições ofereceu para a quantidade e especificidade dos testes pedidos pela Direção-Geral da Saúde", depois de uma consulta de mercado.
"Foi feita uma consulta exaustiva ao mercado a várias unidades de saúde e laboratoriais. A Unilabs acolheu todas as exigências impostas pela Liga Portugal, e trata-se de um laboratório com reconhecimento nacional e internacional, quer pela qualidade do serviço, quer pela disponibilidade de vários postos de colheita em diversos pontos do país", pode ler-se no comunicado.
O organismo salienta que "os testes são contratualizados e pagos por cada clube de forma individual com o laboratório escolhido" e que a "Liga Portugal não recebe qualquer receita proveniente deste acordo", assim como "não é informada pelo Laboratório do resultado dos testes".
Relativamente à notícia de hoje veiculada pelo Expresso, a Liga remete para o documento conjunto assinado pelo Hospital São João, no Porto, e pela Unilabs.
Numa nota final, a Liga salientou o trabalho para que o futebol "possa regressar, dentro da maior normalidade possível". "Esta semana proporcionámos aos Clubes do Futebol Profissional uma ação de trabalho e esclarecimento com o Professor Filipe Froes, pneumologista, consultor da DGS e da Liga Portugal. Juntos temos estado a trabalhar com o objetivo de uma Retoma tranquila, que permita terminar a temporada, como é desejo de todos".
*Artigo atualizado às 12h16 com respostas da Liga Portugal, Unilabs e Hospital São João
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