Mas vamos por partes.

Ainda não tinha celebrado dez anos quando, em 1982, Rui Costa decidiu tentar a sua sorte na Luz. Antes jogava pelo Damaiense, mas bastaram alguns treinos para convencer Eusébio, que estava encarregue de observar os jovens talentos em captações. Agora, com 50 anos, é o verdadeiro homem da casa. Acabou por ser no Benfica que cumpriu toda a sua formação como jogador de futebol, entre 1981 e 1990, antes de destacar-se na equipa principal, de 1991 a 1994, tendo vencido um campeonato e uma Taça de Portugal. O perfume que espalhava nos relvados, a classe do seu pé direito, transbordou fronteiras e do país vizinho chegou o primeiro telefonema: Hola soy de barcelona y quiero ficharte.

Não era de estranhar a cobiça, pois Rui Costa fazia parte da 'geração de ouro' do futebol português que vencera o Mundial de sub-20, em 1991, onde o então médio marcou o golo da vitória por 1-0 nas meias-finais diante da Austrália, convertendo também o penálti decisivo no triunfo contra o Brasil na final.

O Barcelona era o sonho de qualquer jogador. Rui Costa chegou a dizer na altura que não merecia que o clube lhe cortasse as pernas. Manuel Damásio era o presidente encarnado e o clube passava por uma séria crise financeira. O maestro, como ficou conhecido na história do futebol, tinha já tudo acertado com os blaugrana, mas o amor ao clube acabou por levá-lo a outras paragens que não a Catalunha.

“Rui Costa preferiu ir para Florença por amor ao Benfica. Ele já tinha tudo certo com o Barcelona, mas a Fiorentina ofereceu mais dinheiro ao clube, que passavam por uma grave crise financeira”, disse Manuel Barbosa, o primeiro empresário do agora presidente encarnado.

Uma declaração de amor que também já tinha 'feito' em 1993, quando recusou rumar ao Sporting, juntamente com Pacheco e Paulo Sousa, no célebre “verão quente” do futebol português. O Benfica passava por uma grave crise financeira e os rivais de Alvalade 'atacaram' o plantel das águias em busca de reforços. Mesmo com proposta tentadora, Rui Costa preferiu ficar no seu clube, ao contrário de Pacheco e Paulo Sousa.

Em Itália, o célebre ditado 'chegou, viu e venceu' adequa-se a Rui Costa

Conquistou tudo e todos, em Itália, onde ainda hoje é conhecido como o Príncipe de Florença. Estava num dos melhores campeonatos de futebol, mas o tal amor ao Benfica continuava a 'atormentá-lo'. Dois anos após a transferência, assumiu que regressaria aos encarnados se João Vale e Azevedo ganhasse as eleições, em 1996.

"Rui Costa é um homem do futebol, sabe o que se passa nos balneários e o que é preciso fazer para ganhar"Sven-Goran Eriksson

Vale e Azevedo não venceu o sufrágio e ironicamente, nesse mesmo ano, no jogo da apresentação das águias aos sócios, Rui Costa haveria de regressar à Luz, mas ainda com a camisola da Fiorentina vestida. E...marcou, naquele que ainda hoje diz ter sido o pior golo da sua vida.

Rui Costa acabou por ficar mais dez anos no campeonato transalpino, tendo ainda representado o AC Milan, de 2001 a 2006, onde venceu uma Liga dos Campeões.

O regresso estava, enfim, reservado para 2006. O AC Milan ainda lhe ofereceu um novo contrato, de cinco milhões de euros por ano, mas o apelo de casa fê-lo recusar a oferta generosa. Acabou por não vencer mais nada ao serviço do clube do seu coração, mas o objetivo de voltar a casa foi conseguido. Chegou pelas mãos de Luís Filipe Vieira, que, posteriormente, também o convenceu a assumir um cargo de dirigente mal pendurou as chuteiras.

O homem que “percebeu que o Benfica tem de ganhar mais vezes”

O último jogo que disputou foi a 11 de maio de 2008, diante do Vitória de Setúbal, e três dias depois era apresentado como novo diretor desportivo das águias. O primeiro movimento que fez no cargo foi tentar o regresso de Sven-Goran Eriksson, o seu primeiro treinador no Benfica, no plantel sénior, na temporada 1991/1992.

Em conversa com o SAPO24, o sueco não fica surpreendido com esta conquista do seu antigo pupilo.

“Conversei com Rui Costa em 2008, mas era difícil libertar-me do Manchester City. Teria sido bonito reencontrar-me com ele, em outras funções, mas não foi possível. Fiquei muito satisfeito quando soube que ele iria candidatar-se à presidência e agora ainda mais pela sua conquista”, disse o sueco, que não esquece o seu antigo jogador.

“Era fabuloso, não só demonstrou isso no Benfica, como por todos os clubes por onde passou. Fez história e deixei muitas lembranças em Itália, numa altura em que esse campeonato era um dos melhores do mundo. Foi um jogador incrível”, salientou o treinador.

Eriksson, afastado dos relvados nos últimos tempos, reconhece que não tem acompanhado ao pormenor o “seu Benfica”, mas tem visto tudo o que tem sido feito nos últimos anos. O sucesso deste ano, descreve-o assim.

“O Benfica é conhecido como um viveiro de jogadores, um clube que sabe formar e vender. Vende muito caro, mas vende. Infelizmente, o sucesso das vendas não tem sido correspondido com o sucesso das vitórias, das conquistas. E o que tenho visto é que agora o Benfica tem apostado no aspeto desportivo. Não vende tanto e compra, e bem. Claro que um clube português tem sempre de vender, mas o que Rui Costa e o Benfica têm feito é tentar não vender demasiados jogadores, não se pode vender quatro ou cinco de uma vez. Rui Costa é um homem do futebol, sabe o que se passa nos balneários e o que é preciso fazer para ganhar. Um clube como o Benfica tem de olhar às vitórias, não apenas ao aspeto financeiro. O amor que o Rui tem pelo seu clube é tanto que percebeu que o Benfica tem de ganhar mais vezes, não vendendo tanto”, salientou Eriksson.

Rui Costa, que chegou aos 'comandos' da nau encarnada devido à detenção de Luís Filipe Vieira, em 2021 - tendo vencido depois as eleições antecipadas nesse mesmo ano -, prepara já a nova temporada com Roger Schmidt, com quem renovou recentemente. As notícias mais recentes dão conta da possibilidade de novo forte investimento na próxima época, depois dos mais de 60 milhões de euros gastos no presente ano. O aspeto desportivo, como diz Eriksson, parece, em dúvida, moldar o pensamento do líder do Benfica.

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