Hernán Crespo, antigo avançado de gabarito mundial, assumiu o comando do São Paulo, depois de já este ano ter conquistado o título da Sudamericana pelos argentinos do Defensa y Justicia. Apresentado ao plantel e à imprensa esta quarta-feira, Crespo terá um grande desafio pela frente, num ambiente com muita pressão, onde parece ser a escolha certa para fazer evoluir o futebol de um time que sofreu com o seu próprio sucesso em 2020.

O São Paulo esteve perto de findar a seca de títulos que sofre desde 2012, mas viu a equipa cair de rendimento depois da eliminação das meias-finais da Copa do Brasil e a perder a vantagem de sete pontos na liderança do Brasileirão. Após um janeiro tenebroso, sem vitórias, o treinador Fernando Diniz foi demitido e o melancólico fim de época do clube ressoava a um fracasso retumbante.

Sim, foi um fracasso histórico desperdiçar toda esta vantagem e deixar o troféu escapar, mas ninguém apontaria este São Paulo como candidato ao título no começo do campeonato. Foi o próprio sucesso do time em campo que criou as expectativas que caíram por terra. Mesmo se terminar entre os quatro primeiros lugares, o Tricolor Paulista terá feito um bom campeonato, mesmo que os adeptos sintam o sabor amargo de um título que fugiu à beira do fim.

No entanto, era claro que a passagem de Fernando Diniz deveria conhecer um capítulo final. O desgaste das relações e o limite do modelo de jogo eram evidentes. O que não significa que não existam bases que fiquem após o desastre de janeiro. Diniz trabalhou durante 16 meses um grupo de jogadores um estilo de jogo baseado na posse de bola, ofensivo e associativo.

E é precisamente sobre este estilo que a escolha de Crespo parece ter sido certeira. O antigo avançado, que em Itália representou ao mais alto nível clubes como Parma, Lazio ou Inter de Milão, prefere um jogo com base similar, mas com diferenças que podem ser fulcrais para a evolução e sucesso do São Paulo. A sua estratégia de jogo ofensivo e de posse tem como característica a alternância entre passes curtos e longos e uma maior agressividade do que o São Paulo demonstrou durante o ano. A sua preferência por uma linha de três defesas, mais alas, pode favorecer o plantel do clube, carente de atacantes junto às linhas laterais.

Assim, o grande desafio de Crespo não é tático, mas sim o de encontrar uma maneira de aliviar a pressão de um clube que não conquista nada há oito anos, alcançando a paz necessária para desenvolver o seu trabalho, ao mesmo tempo que cria uma cultura mais aguerrida e determinada num grupo de jogadores que sucumbiu às derrotas e demonstrou pouca “fome” ao longo do ano. Outro dilema a resolver são as dificuldades financeiras que farão o clube ter que vender jogadores e complicam a permanência de Daniel Alves.

Crespo terá um contrato de dois anos pela frente e deixou claro de que precisa de tempo e paciência para dar a sua cara ao time. O técnico argentino quer que o torcedor tenha orgulho em ver o São Paulo jogar e pareceu mostrar, na apresentação, saber a que clube é que acaba de chegar. Experiência no mais alto nível, como jogador, não lhe falta. O salto para um clube gigante do continente não será fácil, mas um bom começo pode devolver a esperança a um torcedor carente e criar um novo ídolo.