O número 4 do ranking de singulares do ATP, Alex Zverev, de 21 anos, saiu da Rod Laver Arena, em Melbourne Park, na Austrália, bem irritado consigo — e com o seu jogo. Prova disso foi o episódio por si protagonizado que, apesar de pequeno e ter durado apenas 10 segundos, está a dar muito que falar.
Contexto: a derrota foi pesada. Não foi um jogo renhido, nem a vitória alguma vez esteve em perigo para o vencedor. Sverev perdeu três sets de forma consecutiva, nunca se conseguiu encontrar e esteve bem longe daquilo que já apresentou nos courts de ténis e daquilo que dele é esperado. O alemão foi derrotado pelo tenista canadiano Milos Raonic, número 17 do ranking, por uns expressivos 6-1, 6-1 e 7-6.
Ora, o episódio aconteceu no segundo set — altura em simplesmente nada saía bem ao alemão. Zverev apenas conseguiu dar algum ar da sua graça no terceiro e último set, tendo perdido o seu jogo de serviço seis vezes nos dois primeiros. E quando finalmente conseguiu acertar as primeiras bolas do seu jogo serviço, o melhor que conseguiu foi mesmo forçar Raonic ao tie-breaker, com o canadiano a conseguir eventualmente o triunfo quando estava 7-5.
Foram muitos erros de serviço, e outros tantos forçados, que levaram a que Zverev perdesse o norte e batesse com a raquete no chão, naquele que está a ser apelidado como tendo sido a maior (e feia) explosão de raiva dos últimos anos no mundo do ténis.
As imagens não deixam margem para dúvidas: foi um dos maiores episódios de destruição de raquetes dos últimos anos no mundo do ténis. Não bateu três ou quatro vezes com o seu utensílio de trabalho no chão; o alemão bateu o piso umas sui generis 9 vezes em cadência.
"Fez-me sentir melhor"
Porém, na hora de abordar o assunto, perante os jornalistas na conferência de imprensa pós-jogo, Zverev não mostrava grandes sinais de arrependimento, de acordo com o news.com.au.
"Fez-me sentir melhor. Estava demasiado irritado, pelo que deixei a raiva sair", disse.
Quando questionado por um jornalista se aquela situação era recorrente ou se tinha apenas sido um caso isolado, o jovem alemão respondeu com uma pergunta."Nunca viu os meus jogos? Devia de ver os meus encontros", disparou.
Zverev confidenciou também que sabia que o jogo estava perdido nos primeiros 30 minutos, no final do segundo set.
"Joguei mal. Especialmente nos primeiros dois sets, onde joguei de forma terrível", começou por explicar. "Quer dizer, é difícil enumerar apenas um aspeto. Não servi bem, não joguei bem no fundo do court. Contra um jogador da qualidade dele, é difícil voltar depois disso", desabafou.
"Obviamente que tentei regressar ao jogo e obviamente que comecei a jogar um bocado melhor no terceiro set, mas já era demasiado tarde", disse.
"Parece saído da twilight zone"
O ataque de raiva deixou surpreendido outro especialista nessa matéria: o ícone e enfant terrible do ténis, John McEnroe. Ou seja, nada mais nada menos, que a lenda que salta à memória quando se pensa numa simbiose entre talento e ataques de raiva cuja temática principal passa por partir/atirar raquetes ou ter discussões com árbitros — algumas piores do que aquela entre Serena Williams e o árbitro português Carlos Ramos. E também aquele tenista que foi desqualificado do próprio Australia Open, em 1990, numa partida frente ao sueco Mikael Pernfors.
"É de doidos. Parece saído da twilight zone", disse o norte-americano, de 59 anos, e antigo número 1 mundial. "Por agora não está a exalar energia positiva", revelou McEnroe ao Channel 9, de acordo com o news.com.au.
"Está a perder um set, a perder no break. As coisas não estão famosas. E está a dar um feedback positivo a um jogador que não precisa de mais nada para além daquilo que o resultado já lhe está a dar. É uma energia diferente daquela que muitos jogadores de topo dariam", indicou.
"De um modo geral, falando em linguagem corporal, ele tem a raquete apontada na direção do chão. Ele [Zverev] não está com ela ao peito. Levantou o polegar de forma sarcástica. Um psicólogo desportivo tiraria muito deste pequeno episódio de Zverev, no que diz respeito às coisas a não fazer neste ambiente", concluiu.
Notícia atualizada às 13:09
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