A diferença cambial é uma questão chave na economia do futebol brasileiro. Quando o real esteve mais valorizado, era mais fácil competir com equipas europeias por jogadores talentosos. Por outro lado, hoje, com a atual crise, uma boa venda pode representar quase um ano de faturação dos clubes.
Entretanto, vira e mexe, um clube brasileiro resolve apostar as suas fichas num grande nome vindo da Europa. Recentemente, foi assim com Daniel Alves, com Gabigol e, agora, é a vez de Douglas Costa.
Douglas é formado nos escalões de base do próprio Grêmio e saiu muito cedo rumo à Ucrânia. No Shakhtar Donetsk, desenvolveu-se e ganhou destaque. Depois, deu o salto para o Bayern, na época de Guardiola, e parecia pronto para o nível mais alto. Entretanto, conviveu com lesões e não conseguiu manter a regularidade. O mesmo aconteceu na Juventus, antes de retornar nesta temporada à equipa germânica por empréstimo. Ultimamente, tem sido uma opção no banco de reservas.
Se conseguir recuperar a forma física, tem talento de sobra para ser um ponto de desequilíbrio no Brasileirão. E é nisso que aposta o Grêmio ao oferecer, pelo que se especula, o maior salário do futebol brasileiro: 1,7 milhões de reais por mês — qualquer coisa como pouco mais que 253 mil euros. Apesar de ser uma fortuna para o Brasil, em euros, hoje, é pouco menos de 1/3 do que ele recebe no Bayern —925 mil euros, segundo se sabe.
Obviamente, não é só a questão financeira que motiva os jogadores brasileiros a sonhar em jogar no futebol europeu. Estar entre os melhores jogadores do mundo, a qualidade das competições e estruturas, a organização e qualidade de vida são fatores chave nesta opção.
Mas ao manter práticas de má gestão e falhar em organizar melhor o seu campeonato, o Brasil não consegue competir nem com a periferia do futebol Europeu e outros destinos mundiais, como o leste europeu, a China e o mundo árabe.
Um efeito em cadeia iniciado pela melhor estruturação do futebol local, aumentando receitas, possibilitaria reter o talento, melhorar a qualidade do jogo disputado, valorizando o campeonato e criando um ciclo positivo de mais estrutura e mais faturação. Isso poderia colocar o Brasileirão num patamar acima do que tem hoje; aliás, atualmente podemos dizer que vemos sinais desse caminho em clubes como Flamengo e o Palmeiras.
Oferecidas melhores condições, será mesmo que um jogador como Douglas Costa preferiria esconder-se na Ucrânia ou ficar mais tempo no Grêmio? Isso vale para muitos jogadores que seriam destaques no Brasil mas que, hoje, preferem ficar como jogadores medianos na Europa. Exemplos de Lucas Moura, Coutinho, Douglas Luiz, Matheus Cunha, Paquetá... só para citar os jogadores com passagens recentes pela Seleção Brasileira.
O momento que vive o Flamengo, ao manter no seu plantel Gabigol, Gerson, Rodrigo Caio e Arrascaeta, jogadores com mercado na Europa, somados a Filipe Luis, Isla e Diego, que já vieram, tiveram sucesso e resolveram voltar, é um exemplo claro disso.
A crise económica que vivem os clubes dificulta esse exercício de momento, mas sonhar não é proibido. Douglas Costa é uma aposta cara, pelo momento que vive, mas que pode ser um grande acerto do Grêmio.
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