O documento, intitulado "Dossier: Tráfico Humano", foi apresentado na sede da Polícia Judiciária (PJ), força com a qual o SJPF trabalha em colaboração, no âmbito do Dia Europeu de Combate do Tráfico de Seres Humanos, e no decorrer do evento as medidas propostas foram esmiuçadas e também enaltecidas.
Joaquim Evangelista apresentou o dossiê, acompanhado pelo diretor nacional da PJ, Luís Neves, e no final da sessão mostrou-se confiante de que estas medidas possam resolver um “problema”, que classificou como “primeiro problema” a solucionar, que diz respeito à articulação entre as várias instituições, desde denunciantes e o próprio Sindicato dos Jogadores para uma eficaz comunicação com o Estado para que situações de tráfico humano no futebol sejam detetadas e resolvidas em tempo útil.
“Esse é o primeiro problema, não tenham dúvidas, e ainda não está resolvido. Aliás, foi isso que me levou a enviar uma carta ao secretário de Estado [do Desporto e da Juventude] e à Federação [Portuguesa de Futebol], porque, por muitas reuniões que tivéssemos, as entidades competentes não estavam a agir de forma articulada e funcional. O mais importante aqui são as vítimas e que, quando um jovem ou uma jovem vão bater à porta do Sindicato, da Federação ou do Estado, tenha a mesma resposta”, declarou o presidente do SJPF.
Joaquim Evangelista incentivou a que, em qualquer caso de ilícito, cada vítima exponha e denuncie cada caso, garantindo que o sindicato “dá resposta a todos os casos e idênticos”.
“É preciso que saibamos qual o caminho que esta vítima deve prosseguir e que não fique à espera da resposta que vai ser dada por outra entidade. Muitas vezes, perdemos vítimas neste processo e é muito importante - e o diretor nacional da PJ disse-o - que quando a vítima procura ajuda, que a mesma seja prestada imediatamente, porque, se não o fizermos, a coação e represálias que ela sofre muitas vezes inibem-na”, destacou.
Evangelista anunciou ainda o lançamento, previsto para a próxima época, de um manual de entrada e acolhimento para jogadores provenientes do Brasil, que será posteriormente replicável a outras nacionalidades, e ainda a criação de uma plataforma digital destinada à partilha de notícias, informação, legislação e jurisprudência, mecanismos de denúncia ou respostas sociais que será disponibilizada ao público com brevidade.
Entre as medidas apresentadas, o presidente do SJPF propôs também um maior envolvimento e cooperação entre autarquias, associações de futebol e autoridades, e a dinamização de uma rede integrada de apoio ao nível da estadia, integração social e, se necessário, do repatriamento de atletas em situação de tráfico humano ou burla.
“Há dirigentes envolvidos nessas práticas [de tráfico humano] e esses estão a mais no futebol. Temos de identificá-los e afastá-los, mas dirigimo-nos ao futebol para que de facto esteja atento e exerça a sua cidadania desportiva, que denuncie e não seja cúmplice por omissão. Não aceito que as pessoas ligadas ao desporto não saibam o que se passa”, salientou Joaquim Evangelista, responsabilizando cada interveniente no fenómeno desportivo nacional.
Nesta sessão, foram recordado casos mediáticos de tráfico humano, inclusivamente um dos mais recentes, que teve lugar em junho, numa academia de futebol em Riba de Ave, no concelho de Vila Nova de Famalicão, que era detida pela empresa BSports.
Joaquim Evangelista lembrou que, na sequência da divulgação deste caso em particular, a secretaria de Estado da Juventude e do Desporto criou um grupo de trabalho para debater medidas de combate, do qual faz parte a entidade de Joaquim Evangelista e também que o SJFP foi convocado no último mês para participar numa audição sobre o tema.
O diretor nacional da PJ, Luís Neves, aproveitou para destacar a integração dos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) na instituição a partir do dia 30 do presente mês e o "avanço" que constituirá o acesso à base de dados da instituição, que permitirá detetar e combater inúmeras ações de tráfico humano na sociedade em geral e, em alguns casos, no futebol.
No ano passado, a imprensa noticiou que o SEF já tinha identificado mais de 250 jogadores vítimas de crimes de auxílio à imigração ilegal e tráfico de seres humanos desde 2017, no âmbito de inquéritos feitos junto de 58 clubes portugueses, tendo sido constituídos arguidos quase 100 indivíduos e pessoas coletivas.
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