Vasco Fernandes, que está hoje a ser ouvido como testemunha na 11ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, explicou que, entre 20 a 30 elementos, forçaram a porta da entrada no balneário e que “começaram logo a bater, a ameaçar e a injuriar” os jogadores.
A testemunha contou que ainda tentou fechar a porta dos vestiários, mas que nesse momento recebeu “dois estímulos”: um do jogador Petrovic, que lhe disse “não feches, não feches, eles que venham”, e um outro de Raul José, treinador adjunto, que lhe “berrou” para não fechar a porta, pois “o homem está lá fora e vão matá-lo”, referindo-se ao então treinador Jorge Jesus.
Nesse momento, o grupo de encapuzados, o qual tinha à sua frente Ricardo Gonçalves, à data diretor de segurança e operações da academia, que os “tentou demover”, entra no balneário.
“Começaram logo a bater nos jogadores. Não entraram para falar com ninguém. O comportamento era agressivo, desde bater, ameaçar e atirar objetos. Aconteceu tudo muito depressa. Lembro-me do Montero que levou uma estalada. Vi o Acuña que também lhe estavam a bater. Mais para o lado direito estava o Rui Patrício, o William e o Battaglia, que também lhes estavam a bater no peito, não sei se de mão aberta”, descreveu a testemunha.
Para o secretário técnico do Sporting, o ataque pareceu-lhe “uma eternidade”, apesar de ter durado apenas alguns minutos.
“Começaram a bater, a ameaçar, a injuriar. A dizer que matavam toda a gente. Toda a gente que se ponha à frente, diziam: ‘sai da frente, senão mato-te’ e chamavam nomes. Há uma situação perfeitamente clara para mim. Estava à entrada [do balneário] o Rafael Leão e nesse ninguém bateu. Até fiquei surpreendido, pois cumprimentaram-no e diziam ‘a ti não te vamos fazer mal’”, acrescentou Vasco Fernandes.
A testemunha assumiu perante o coletivo de juízes, presidida por Sílvia Pires, ter sentido pânico.
“É um momento de terror. Fiquei completamente petrificado. O momento mais violento foi o vivido dentro do balneário. Estavam com as cabeças tapadas e depois não fazia ideia se traziam armas. Temi, pois não sabia onde é que aquilo ia parar”, frisou Vasco Fernandes.
Já no final do ataque, o funcionário do Sporting recorda uma frase dita por um dos elementos e repetida por outros dos invasores e o treinador Jorge Jesus com o nariz ensanguentado.
“Ouvi um deles a dizer: ‘está na hora, vamos embora’, e outros a repetir. Como se tivessem aquilo planeado ou algum ‘timing’ a cumprir. E começaram a sair. Saio do edifício, vou em direção à estrada e deparo-me com o Jorge Jesus com a mão cheia de sangue e com o nariz ensanguentado”, relatou Vasco Fernandes.
Nesse momento, explicou, o então treinador do Sporting Jorge Jesus estava no exterior do edifício a falar com Fernando Mendes, antigo líder da claque Juventude Leonina, e com Elton Camará (Aleluia), dois dos 44 arguidos no processo, ambos de cara destapada.
“Parecia que o Jorge Jesus estava a pedir satisfações, indignado”, afirmou.
O julgamento prossegue à tarde com as inquirições dos futebolistas Ristovski e Bruno Fernades, através de videoconferência, a partir do Tribunal do Montijo.
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