Richard Scudamore de saída
Na passada quinta-feira teve lugar mais uma reunião da Premier League. Porém, não foi apenas mais uma reunião. A data fica marcada pela última vez que a Premier League se reuniu sob a tutela do seu Presidente Executivo Richard Scudamore. Infelizmente, a notícia que tem feito capas de jornais não é sobre a sua saída, mas sim a forma como este irá sair.
Em causa está a atribuição de um bónus de cinco milhões de libras (cinco milhões e seiscentos mil euros) a Scudamore. A ideia partiu de Bruck Buck (representante do Chelsea na mesa da Liga mas que acumula o cargo de chefe do departamento de remunerações e auditorias da própria Premier League) que sugeriu que os vinte clubes participantes contribuíssem com duzentos e cinquenta mil libras (282 mil euros) cada. A atribuição de tal prémio não é ilegal, mas como seria de esperar tem levantado muitas ondas entre os clubes da principal divisão inglesa e também entre outras instâncias que representam de alguma forma o futebol nacional.
Entre elas estão grupos de adeptos que consideram a situação inadmissível, visto que o preço dos bilhetes para os jogos é cada vez mais elevado. As associações de futebol amador fizeram também questão de lembrar que a Federação Inglesa teve que inviabilizar, há muito pouco tempo, um plano para a contração de 1500 campos de futebol sintéticos por todo o país. O futebol amador — base fundamental de apoio às academias dos clubes semiprofissionais e profissionais — já viu melhores dias e sem a rotação orgânica do dinheiro no futebol, tornar-se-á cada vez mais difícil produzir jogadores ingleses de qualidade.
De resto, o próprio Richard Scudamore já disse sentir-se envergonhado pelo prémio de reconhecimento pelo seu trabalho. Mas há donos e presidentes de clubes, como é o caso do recém-promovido Cardiff City, que diz ser inteiramente justo, já que Scudamore, desde a sua admissão em 1999, transformou por completo o futebol inglês, elevando a principal liga para um patamar muito superior àquele em que se encontrava. Por fim, uma nota final para o prémio de cinco milhões de libras: ainda que seja uma quantia muito significativa, ao longo dos dezanove anos ao serviço da Premier League, Scudamore terá auferido um valor superior a vinte e seis milhões de libras (aproximadamente 29,5 milhões de euros) pelos seus serviços.
Bem-vinda Susanna Dinnage
Também esta semana, dois dias antes da reunião supramencionada, foi apresentada a substituta de Scudamore, que será a nova Presidência Executiva da Premier League, de seu nome, Susanna Dinnage. O currículo de Dinnage é impressionante e é considerada por todos os envolvidos no processo como uma escolha perfeita para o cargo. Com passagens por diversas estações de televisão, sempre em cargos de gestão, a inglesa de cinquenta e um anos torna-se assim na mulher com o maior cargo de responsabilidade numa organização desportiva a nível mundial e apenas a segunda à frente de uma Liga de Futebol Profissional, sendo a primeira Nathalie Boy de la Tour, atual presidente executiva da Liga de Futebol Francesa.
Susanna Dinnage: "A Premier League significa imenso para muitas pessoas. Representa o pináculo do desporto profissional e a oportunidade de liderar tão dinâmica e inspiradora organização é um privilégio"
A chegada de Susanna Dinnage (que deixa a direção do canal de televisão Animal Planet do grupo de canais Discovery Channel) parece especialmente importante devido à cada vez mais complexa negociação de direitos televisivos da Premier League. Com a modernização e revolução na transmissão de jogos, com as entradas de aplicações de transmissão como a Amazon, é cada vez mais importante estar à frente dos tempos. A Premier League quer, com a contratação de Dinnage, assegurar que continuará a crescer em todas as frentes. A tomada de posse será efectuada nos primeiros dias de 2019.
VAR, Cotas de jogadores da formação e mercado de transferências
A reunião não se ficou pela transição na Presidência Executiva da Premier League, tendo mais pontos de interesse. Pontos esses que prometem vir a dar que falar e a transformar o futebol inglês.
O VAR (Video Assistant Referee — Vídeo Árbitro Assistente) foi finalmente aprovado pelos clubes. Tendo sido adiada a sua implementação, anteriormente planeada para o início da presente época, o VAR terá agora sido aprovado e estará ao serviço da Premier League a partir do verão de 2019. E parece-me uma importante ajuda ao árbitro num futebol altamente competitivo e com um ritmo de jogo extremamente elevado. Também será interessante perceber se a Premier League desenvolve, ao longo dos anos, a logística de intervenção do VAR e coloca novas formas de análise aos lances ou cria momentos de interesse nas paragens para decisões. Estando na vanguarda do futebol, será uma adição importante às ligas que utilizam tão importante tecnologia e, na minha opinião, da qual todos irão beneficiar.
Mas, se o VAR não é propriamente novidade (era uma questão de tempo), com a chegada do Brexit, há uma questão que se começa a colocar com maior insistência: a possibilidade de aumentar a quantidade de jogadores formados nos clubes e a de diminuir o limite para a inscrição de jogadores não-europeus. A primeira proposta foi a única a ser apresentada na reunião, e não passou. Os clubes recusaram, para já, o compromisso de aumentar o número mínimo de jogadores formados localmente. Quanto à segunda proposta, a Federação fez questão de anunciar que fará campanha pela medida de forma pública e que se reunirá com os órgãos de gestão desportiva do governo para, pós-Brexit, colocar a medida de reduzir o número de estrangeiros dos atuais 17 para 12 — sendo que o número de jogadores europeus não seria afetado, mas sim o número de jogadores não-europeus.
Finalmente, uma última proposta aprovada: a de continuar a fechar o mercado de transferências de verão antes de início do campeonato. Como aconteceu já esta época (ao contrário dos restantes mercados europeus) a janela de transferências para os clubes ingleses fecha poucos dias antes do início de campeonato. Apenas o dia estará por decidir.
Esta semana na Premier League
Como mencionado acima esta semana Premier League para, mas prepare-se porque no fim de semana seguinte os grandes encontros prometem voltar. Com o Liverpool a visitar o Watford e um dérbi londrino entre Tottenham e Chelsea, a emoção promete continuar na melhor liga de futebol do mundo.
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