O FC Porto entrou no relvado do Stade de Suisse, casa do Young Boys, entre a espada e a parede. Em caso de derrota, os dragões ficavam arredados da Liga Europa, e em caso de empate, a qualificação ainda seria possível mas dependendo dos resultados das outras equipas na última jornada. Posto isto – e sim, este parágrafo tem uma constatação óbvia em modo de jargão futeboleiro logo no seu primeiro parágrafo –, só a vitória interessava – tal como em todos os outros jogos da época, bem sei, mas não fui eu que defini as regras do jargão futeboleiro.
Os portistas, contudo, entraram mal na partida. Durante os primeiros 15 minutos, tiveram apenas 31% de posse bola e acertaram pouco mais de metade dos seus passes. E foi precisamente nesse período que o Young Boys abriu o marcador.
Na sequência de um livre descaído para o lado esquerdo, a bola é cruzada para a área do FC Porto e Christian Fassnacht, nas costas de Marcano, cabeceia para a baliza de Marchesín. Foi o segundo golo do internacional suíço na competição, nono na época (2.º melhor marcador da equipa). E foi também o exemplo perfeito do primeiro quarto de hora dos portistas, onde a apatia parecia reinar.
É certo que, depois disso, o jogo equilibrou. E também é certo que, no final da primeira parte, o FC Porto dominava claramente o encontro (a olho nu e de acordo com os dados estatísticos), apesar de não ter conseguido concluir as duas boas oportunidades de que dispôs (por Marega e Aboubakar, regressado à titularidade mais de um ano depois). Além disso, o facto de o árbitro húngaro não ter visto o atropelo sofrido por Marega dentro da área, mesmo a fechar o primeiro tempo, também não ajudou à tranquilidade portista para encarar uma segunda parte onde teria de marcar para não ficar arredada definitivamente da Liga Europa.
No reatamento, foi mesmo isso que os dragões procuraram fazer. E uma jogada “à Maradona” de Corona – que não obstante “só” ter fintado um jogador suíço, e já à entrada da área, correu meio-campo com a bola nos pés – quase que empatou a partida. O remate do mexicano foi defendido pelo guardião dos suíços e, na recarga, Marega não conseguiu empatar para os portistas.
Minutos depois, foi novamente Corona, o mais inconformado do FC Porto no jogo de Berna, que permitiu o desvio de um defesa suíço num remate à queima roupa, já quase na pequena área, que acabou por bater nas malhas laterais e resultar num canto que não criou perigo.
Até que começou o “Festival Aboubakar. Ao contrário do chamado “Lusco Fusco” (que durará, alegadamente, cinco a sete minutos, nas palavras de Ricardo Araújo Pereira), este dura cerca de três minutos – bem mais económico ao nível de tempo, portanto – e é bastante antecipado. Mais de um ano de antecipação, para sermos mais claros.
A primeira atuação do “artista da noite” (que ainda tentou marcar um golo com um remate ainda antes do meio campo) aconteceu aos 76 minutos da partida, quando respondeu de forma perfeita a um cruzamento de Marega, já dentro da área.
A segunda aconteceu logo três minutos depois, onde na sequência de um canto se viu sozinho ao segundo poste e só teve de empurrar o esférico para a baliza dos suíços.
O camaronês não era titular pelos dragões desde setembro de 2018 e a raiva com que festejou cada um dos golos, particularmente o segundo, em que até tirou a camisola, são o culminar de um calvário que durou mais do que o desejado e onde a sua ausência talvez tenha sido sentida de forma menos intensa do que, se calhar, devia.
Nesta noite, contudo, Aboubakar foi herói. E o o FC Porto deu a volta a um jogo pela primeira vez nesta época, ainda que tenha sofrido calafrios na parte final, nomeadamente uma bola ao poste da baliza de Marchesín em cima dos 90 minutos.
Com este resultado, os dragões podem garantir o apuramento para a próxima fase da competição caso vençam em casa o Feyenoord na última jornada da fase de grupos da Liga Europa (num grupo que se revelou bastante equilibrado e onde ainda todas as equipas se podem apurar).
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
O passe de Otávio foi perfeito, isolando Marega na cara de von Balmoos. Contudo, o maliano não conseguiu concretizar aquela que foi a melhor oportunidade dos Dragões na primeira parte e que poderia ter relançado o jogo logo ali. Honra seja feita à boa mancha do guardião suíço, no entanto. Contudo, e tal como noutros jogos na Liga Europa nesta temporada, o desperdício do FC Porto, aqui personificado em Marega, tem impedido os Dragões de conseguir melhores resultados nesta edição da prova.
Aboubakar, a vantagem de ter duas pernas
Regresso feliz do camaronês à titularidade. Dois golos que serviram dois propósitos: o primeiro, mais imediato, foi o de colocar o FC Porto a depender apenas de si para ultrapassar a fase de grupos da Liga Europa; o segundo, não menos importante, é o impacto que este bis pode ter em Aboubakar que, depois do calvário que o afastou dos relvados durante largos meses, pode agora ser mais uma alternativa para o ataque portista e recuperar a confiança que o fez apontar 26 golos de dragão ao peito na época de 2017/2018.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Corona correu metade do campo, fingiu o remate à entrada da área e, na cara do guarda-redes suíço, não conseguiu fazer o empate para os dragões. Nem Tecatito, nem Marega, que também falhou a recarga (mais desperdício, portanto). Contudo, a arrancada “maradoniana” do jogador mexicano, um dos melhores do FC Porto nesta noite, fica na memória de quem assistiu à partida.
Nem com dois pulmões chegava a essa bola (VAR, precisa-se)
Talvez a utilização dos pulmões seja exagerada. Afinal de contas, o árbitro Tamás Bognar até nem estava muito longe do lance em que Marega foi “atropelado” dentro da área por um defensor do Young Boys, mesmo a fechar a primeira parte. Não é certo, por isso, que seja a condição físico-respiratória (esta palavra existe?) que tenha impedido o juiz húngaro de apontar para a marca de grande penalidade. O que faltou, isso sim, foi o tão malfadado VAR, tantas vezes odiado, mas que desta vez poderia ter dado uma ajuda ao conjunto de Sérgio Conceição.
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