Esta não foi a primeira vez que se defrontaram nem o desfecho desta madrugada foi igual. Miocic ganhou o primeiro embate de ambos por decisão unânime em julho de 2018, naquele que muitos disseram ser uma "lição" de MMA por parte do então detentor do cinturão.

Miocic iria perder o almejado ouro para Daniel Cormier (D.C) no final desse ano, mas só para o recuperar no combate seguinte, num rematch. Estando 1-1 em lutas, houve ainda uma terceiro encontro, que encerrou a trilogia com D.C, no qual Miocic manteve o título e cimentou a sua posição como um dos melhores de sempre da divisão.

Do outro lado do espectro, depois da derrota frente a Miocic, Ngannou voltou a perder na luta seguinte, contra Derrick Lewis. Estes dois combates obrigaram o "Predador" a repensar o seu jogo — e fê-lo da melhor maneira. Resultado? Finalizou os próximos cinco adversários sempre no primeiro assalto, sem nunca precisar mais de um minuto para o fazer. A partir daí parecia que o destino estava escrito e um reencontro dentro do octógono com Miocic virou obrigatório.

Esta viagem temporal serve de introdução para explicar o que aconteceu nesta madrugada, em que Ngannou voltou a provar aquilo que a sua fisionomia já propunha à vista desarmada e aquilo que muitos vinham a defender como possibilidade inevitável com o passar dos tempos: de que seria o novo campeão em título, o homem do cinturão e aquele que está no topo da divisão maior do UFC.

Esta é uma luta que, no mínimo, define a sua carreira. É que a sua vida já se assemelha muito a algo saído de um argumento de Hollywood ou não fosse Ngannou alguém que trabalhou nas minas de areia do país natal e que suportou dificuldades inimagináveis em busca de uma nova vida em Paris. Sem adversários de Artes Marciais Mistas (MMA) em França, com a estampa física que salta à vista, a atenção virou-se para o mercado internacional, neste caso a UFC, a maior e mais conhecida promotora de MMA do mundo.

Para cimentar esta história cinematográfica na égide desportiva mundial faltava o título, o cinturão dourado de campeão indiscutível, aquele lhe escapou em 2018, mas que esta madrugada lhe foi colocado à cintura. Especialmente ao consegui-lo de forma tão violenta contra o campeão de pesos pesados mais dominante na história do UFC — e o mesmo homem que envergonhou Ngannou na primeira luta. Foi um combate que teve tanto de redenção como de oportunidade para mostrar o quanto melhorou desde então. A questão agora é: por quanto tempo irá deter o título? Esta versão de Ngannou pode ser extremamente difícil de vencer, frisa a The Athletic.

O que se segue? 

Sem desprimor para Miocic, a quem ninguém pode negar um rematch imediato, parece ser óbvio que o próximo passo para Ngannou, pelo menos na visão dos fãs e imprensa especializada, passa por defender o seu novo título contra o invicto Jon Jones, um dos maiores nomes de sempre do UFC e alguém que nunca perdeu um combate dentro do octógono. Assim que terminou o combate desta madrugada, Jones não se coibiu de ir disparar larachas para o Twitter.

Naturalmente, uma coisa é escrever publicações nas redes sociais, outra é materializar o que se escreveu. Mais ainda se tivermos em conta a rota de colisão recente com a UFC porque quer se pago como uma verdadeira estrela internacional. Dana White, o presidente e o homem que decide o que acontece ou deixa de acontecer no UFC, estará certamente aberto à possibilidade tendo em conta que um combate entre ambos seria certamente bem sucedido no pay-per-view para todas as partes envolvidas.