Por razões profissionais, assisti à vinda de André Carrillo para o Sporting. Na altura questionei-me sobre a razão de, além do empresário (Elio Casaretto), acompanharem o jovem internacional peruano mais três figuras que se intitularam de diretor para o futebol, de marketing e ainda um cujo pelouro não ficou na memória. Hoje sei o porquê dessa, então, forte ligação de todos ao jogador que saiu do Allianza Lima para Portugal. A expectativa era que valesse ouro. E comissões. E valeu mesmo. Mas só para alguns. De fora destas contas ficou o clube que o trouxe.
Janeiro é o mês conhecido como a “janela de Inverno” no mercado de transferências do futebol europeu. E é também um mês em que jogadores em fim de contrato podem assinar, livremente, por outro clube. Ora foi o que sucedeu com André Carrilo, internacional peruano de 24 anos que ainda veste as cores do Sporting Clube de Portugal mas que na próxima época muda-se para o eterno rival, Sport Lisboa e Benfica.
A mudança foi o ponto final numa novela que se arrastava, pelo menos, desde a temporada passada. Falamos da renovação do contrato de Carrillo com os leões. Pelo meio ouvia-se falar de meia Europa atenta e do piscar de olhos de Benfica e Porto a este diamante.
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No longo duelo de vontades entre o presidente Bruno de Carvalho e o agente do jogador, Elio Casaretto, o jogador foi “encostado”, após uns pontapés na bola durante quatro jogos e mesmo depois de Jorge Jesus ter dito que este “daria milhões” ao clube. Como se viu, não deu e, por agora, os leões perderam financeiramente, já que nada retiram deste ativo (o Sporting pondera exigir em tribunal uma compensação financeira). Mas ao invés, deu - e muito - a ganhar ao agente e ao jogador, que além do prémio de assinatura receberá um ordenado muito superior ao que auferia pelas bandas de Alvalade. E poderá dar ao novo clube, caso o jogador dê o salto para outros palcos de cofres recheados.
Desportivamente, o Sporting sai, por enquanto, ileso. É líder, ex aequo com o Benfica. Mas aqui, meus senhores, é no final que as contas são feitas. E Carrillo, de águia ao peito, até pode receber as faixas de campeão pela equipa... liderada por JJ, o tal que saiu em sentido inverso. Ou então, se o Benfica conquistar o "tri", o peruano poderá dar no Seixal mais um passo na sua afirmação, podendo, no futuro, dar o retorno desportivo e financeiro de que dele se espera.
O fungagá da bicharada nas redes sociais
Com o peculiar estilo que carateriza o presidente do Sporting, a saída sem compensação de Carrillo não poderia passar sem polémica. E uma boa “peixeirada” das antigas. Ainda para mais para a equipa que viu arquivado o processo dos vouchers. Nas redes sociais (where else), numa mini-entrevista feita a si próprio, Bruno de Carvalho, escreveu dirigindo-se a Casaretto: «Permita-me, caro agente sem jogadores, um conselho: volte lá para o seu rebanho de cabras que no final do processo eu, como sempre fiz em todos os assuntos, explicarei a todos e de forma detalhada toda esta novela peruana.». Ou seja, BdC, “mandou” o empresário pastar cabras, deixando antever que será, nesta história, o último a rir. Mas faltou-lhe por agora, e não no futuro, fazer uma pergunta e dar a respetiva resposta. Explicar porque é que, com quase três anos de mandato e muitas renovações feitas, esta lhe escapou. Um próximo capítulo a seguir no Facebook.
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Mas a bicharada virtual não se reduziu a cabras. A fábula do Bruno meteu ainda perus e galinhas numa resposta ao presidente Sindicato dos Jogadores Profissionais do Peru. Resumindo, o presidente dos leões (Rei da Selva) rugiu bem alto um “ai o Carrillo” em todas as direções. O jogador ainda hoje “jogaria na rua” se não fosse o clube que o projetou, o empresário não ganharia um “tostão” sem essa promoção e, em resposta a uma provocação de Casaretto sobre onde estaria BdC se não fosse o Sporting, retorquiu dizendo que o clube a que preside “estaria falido”. E à tal saída a custo zero, entre prémios de assinatura e comissões, diz que se devem acrescentar um número e muitas casas decimais.
Com a Europa de janela fechada, a China assalta o mercado com milhões
O mercado de Inverno da bola europeia fechou sem grandes movimentações internas. Mas fora do espaço europeu, mexeu. E muito. A China é grande, quer ser grande e começa a gastar à sua dimensão no futebol. Neste mercado de inverno europeu, seis das cinco contratações mais caras envolveram clubes chineses: Alex Teixeira (50 M€), Jackson Martinez (42M€), Ramires (28 M€), Elkerson (18,5M€) e Gervinho (18M€). Estes e mais outros, tudo somado, até à data, ultrapassam os 300 milhões de euros. O mercado só fecha no final do mês. Um mês em que se inicia o novo ano. O Ano do Macaco que, dizem, será propenso ao risco e às mudanças. E gastos.
No que toca a Portugal, o Sporting reclama para si um negócio da China. Freddy Montero, “el avioncito”, saiu a troco de 5 milhões de euros para o Tianjin Teda e em sentido inverso veio Hérman Barcos, “el Pirata”. Dias antes, a Liga de Clubes tinha assinado um contrato de patrocínio com a gigante da tecnologia Ledman. Meio milhão de euros por época e outros “bónus” e a Ledman LigaPro arranca no próximo ano, já sem a cláusula de “obrigatoriedade” de inscrição de jogadores chineses nas primeiras 10 equipas na tabela classificativa.
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Para a China, o rectângulo verde onde se joga futebol não se resume ao palco de uma atividade desportiva. É antes de mais o tabuleiro onde se jogará a mais pura das politicas de afirmação de poder e soberania no quadro da geopolítica. “O meu maior desejo para o futebol chinês é que os nossos clubes se possam transformar nos melhores do mundo”. A frase é de Xi Jinping, o homem forte da China.
Sempre atento, Jorge Mendes já tinha avisado do poderio desta nova superpotência. E não perdeu tempo. Enquanto Sporting e Benfica abrem escolas de formação naquele país - a China pretende abrir durante a próxima década 50 mil escolas de futebol -, o melhor empresário do mundo estabeleceu uma parceria com Guo Guangchang, líder da Fosun, donos do Cirque du Soleil visando trabalhar no desenvolvimento desportivo e comercial do futebol chinês. Para já, já, é dele uma das maiores transferência do ano 2016: Jackson Martinez. O tal que estava sentado no banco de suplentes do Atlético de Madrid. Parece piada de carnaval, mas não é. É que o futebol, apesar de quase possuir um ''mundo próprio'' e de muitas vezes viver imune e à margem de crises, na China, dia a após dia, ganha novos contornos. É só aproveitar.
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