Um Clássico é sempre um Clássico. Esteja uma equipa em primeiro e outra em último, nada tira peso a um SL Benfica - FC Porto, a um FC Porto - Sporting CP ou a um SL Benfica - Sporting CP. São encontros envoltos em dezenas de anos de rivalidade que pesam tanto nos jogadores como nos adeptos, que permitem antecipar ou decidir títulos. São jogos maiores que os 90 minutos, em que os grandes momentos são contados de geração em geração com orgulho de quem pôde ver ao vivo, no estádio ou na televisão, aquele golo do Kelvin que deixou Jorge Jesus de joelhos ou aquele jogo em que 11 Eusébios homenagearam um dos maiores de sempre do futebol com uma vitória categórica sobre os dragões no Estádio da Luz.

Este foi um Clássico entre as duas equipas que neste séc. XXI discutiram a grande maioria dos títulos da I Liga entre si. E mais uma vez foi um jogo que definiu o título. Mas desta vez foi o título do outro, o do Sporting CP, do clube que mora no estádio do outro lado da Segunda Circular, a 2,3 quilómetros de distância em linha reta, 4,4 km de estrada segundo o GPS — e que não é campeão nacional há 19 anos.

Sim, ainda é matematicamente possível o FC Porto ser campeão depois deste empate no estádio da Luz (1-1) que deixa Sérgio Conceição e companhia a oito pontos do Sporting CP, a três jornadas do fim. Mas ao mesmo tempo também é estatisticamente improvável que os leões, que à 31.ª jornada seguem invictos no campeonato, não façam dois pontos em nove possíveis.

Este jogo era tanto pela luta pelo segundo lugar — e os milhões garantidos com a qualificação direta para a Liga dos Campeões — como para a família verde e branca perceber quando é que finalmente pode começar a pintar as tarjas e a coser as quinas na camisola. Agora, já sabemos: caso vençam o Boavista na próxima jornada, pode ser já na terça-feira que os leões se sagram campeões. Quanto ao segundo lugar, tendo em conta que a distância pontual entre águias e dragões se mantém, vamos ter de aguardar mais uns jogos antes de tecer considerações finais (sendo que, para ser justo na leitura, também será estatisticamente improvável que os azuis e brancos percam cinco pontos em três jornadas).

Agora, como é que Benfica e Porto ficaram mais longe de tudo? Foi assim que aconteceu.

As equipas entraram em campo a sentir a importância do jogo. O Benfica que ainda queria acreditar que é possível chegar ao segundo lugar e minorar os estragos desta temporada em que fez um investimento histórico no plantel, mas em que não conseguiu vencer (ainda) qualquer título. O FC Porto porque fica sempre bem ao segundo classificado adiar a festa do primeiro, quando roubá-la já parece uma missão praticamente impossível.

Os encarnados entraram melhor no encontro, com mais posse e mais iniciativa, mas foi o FC Porto a primeira equipa a rematar à baliza, através de Uribe (9’). O médio portista viria, três minutos depois, a ser protagonista, desta feita à defesa ao cortar um cabeceamento de Nicolás Otamendi. Aos 21 minutos, Taremi falhou um golo cantado para felicidade de milhões de sportinguistas. Marega ganhou em velocidade sobre Vertonghen e cruzou para o coração da área, mas o iraniano, na cara do golo, acertou mal na bola.

Quem não desperdiçou o primeiro remate a que teve direito foi Everton Cebolinha que depois de fintar dois jogadores portistas conseguiu combinar com Rafa, com a ajuda de um ressalto, para um grande remate à entrada da área que inaugurou o marcador.

Para voltarmos a ter um grande momento das águias na primeira parte teríamos de saltar o cabeceamento ao poste de Marega (33') e dois momentos perigosos de Uribe e Luis Díaz. É o que vamos fazer, até porque o VAR acabou por ser tão protagonista neste jogo como qualquer uma das frentes de ataque. E aqui fez a sua primeira aparição.

Aos 46 minutos, Artur Soares Dias assinalou penálti a favor das águias, depois de Manafá ter carregado Rafa quando o internacional português entrava na área. No entanto, reverteu a decisão depois de consultar o videoárbitro e ter percebido que o extremo, no início da jogada, estava em fora de jogo.

Ao intervalo os números não revelavam nenhum segredo escondido na estatística do jogo. O FC Porto criava oportunidades, mas não marcava. Já o Benfica ia para os balneários aos ombros daquele pequeno bailado de Everton.

A segunda parte começou praticamente como acabou a primeira: com um penálti assinalado e anulado aos encarnados. Aos 56 minutos, Soares Dias assinalou grande penalidade depois de ter considerado que Zaidu fez falta sobre Diogo Gonçalves, que galgava todo o corredor direito do relvado da Luz sem que ninguém o conseguisse parar. Porém, depois de rever as imagens, voltou atrás com a decisão.

A partir daqui as duas equipas começaram a perceber que o tempo já não era assim tanto para cada uma delas tirar qualquer coisa deste jogo, um mal menor que aproximasse uns dos milhões ou separasse os outros do título (pelo menos por mais uma jornada). A primeira ação foi de Uribe com um grande remate que só não levou mais perigo porque foi intercetado por Lucas Veríssimo. Depois foi Grimaldo, através de um livre, que viu a oportunidade ser negada aos que esperavam a bola na área por um corte de Taremi.

Aos 75 minutos, o FC Porto, num escalar de intensidade do jogo, consegue chegar ao golo. João Mário (entrou para o lugar do Zaidu aos 69') desequilibrou na direita e cruzou rasteiro para o coração da grande área, onde Uribe atirou de primeira e bateu Helton Leite.

As respostas das águias chegaram aos minutos 91 e 92. Primeiro com um remate de Taarabt, que depois de ressaltar no corpo de Marchesín acabou na trave. Depois com um golo de Pizzi, fruto de uma boa jogada coletiva, que acabou por ser invalidado pelo VAR por fora de jogo de Darwín, que tinha entrado no decorrer da segunda parte, no início da jogada.

No apito final, o FC Porto tinha toda a estatística do seu lado para reclamar outro desfecho, do qual só se pode culpar a si mesmo. Já os encarnados ficaram com os centímetros com que o VAR lhes anulou um golo e uma grande penalidade.

Há vários tipos de empate. Os empates que são um mal menor, os que são um ponto ganho, os que são dois pontos perdidos. Este foi um daqueles que desempatou. Parece contraditório, mas não é.