Miguel Franco de Sousa, é o primeiro presidente-executivo da Federação Portuguesa de Golfe (FPG). O fato constitui, em si mesmo, uma inovação na estrutura federativa. “Serei um presidente a tempo inteiro, dedicado 100 por cento à federação, ao crescimento da indústria e ao desenvolvimento da modalidade”, assegurou. “O golfe e os desafios que temos pela frente não se compadecem com amadorismo e voluntariado, no bom sentido. Exigem compromisso e pessoas competentes e profissionais”, continuou.
O agora empossado presidente “está há 13 anos na estrutura” e desde 2011 que exercia as funções de secretário-geral do organismo. O corte com o anterior mandato de Manuel Agrellos (1999-2016) não fará parte da sua agenda. “O capítulo que hoje se inicia é feito de renovação, de novas ideias, novas propostas, novas pessoas e assenta num legado sólido herdado e que saberemos honrar”, sublinha. “Aproveitaremos o que de bom foi feito (Centro de Formação do Jamor) e melhoraremos onde porventura ficou aquém”, garante.
Mas Miguel Franco de Sousa quer também ele deixar uma marca, para lá de 2020, quando terminar o mandato. Promete, para tal, uma revolução democrática. “O golfe tem de ser praticado por um espetro alargado da nossa sociedade. O nosso objetivo principal passa por aumentar o número de praticantes nos próximos 12 anos, muito para lá do meu mandato”.
A batalha não versa só sobre o aumento do número de jogadores, cujas estimativas apontam para “14.200 mil federados”, sendo que há perto de “25 mil” praticantes. “Queremos mais diálogo com mais parceiros, trabalhar com mais entidades e instituições para ter um golfe mais abrangente, com mais espetadores, patrocinadores, investidores, mais receitas e mais dinamismo, um golfe mais rápido, mais fácil e mais barato”, adianta.
A expansão de uma modalidade vive de heróis. Hoje existem no golfe. “Ricardo Melo Correia, Pedro Figueiredo, Ricardo Santos e Filipe Lima”, enumera. “Mais heróis trazem mais praticantes, mais espetadores e mais patrocínios. É uma bola de neve”, augura.
“Comunicar o golfe e pô-lo na boca do mundo, com mais competições, de 9 buracos com animação, sunset, DJ’s e música”, é outra das vontades de Miguel Franco, referindo que a federação “não deve ter vergonha de comunicar o que se faz de bem” e que tem tido “postura de low profile” numa clara alusão ao “tal elitismo”.
Reconhecendo que a estrutura federativa “devia ter mais 5 Jamores espalhados pelo país”, e que deve “criar infraestruturas que não sejam fechadas a sócios e turistas”, tornando o golfe “acessível” a toda a gente. “Queremos o golfe democratizado e temos que acolher, de forma clara, todas as pessoas, uma democratização pura e dura”, frisa.
Sendo estes objetivos a médio e longo prazo, para o imediato, o novo presidente da FPG, com um novo modelo de governação, fechou uma agenda para os primeiros 100 dias que inclui “reuniões com clubes nas diferentes regiões do país, desenvolvimento do website, campanhas de marketing, programa de vantagens para federados e regulamentação das competições”, elenca.
Contar uma história sobre o IVA, o impacto e a descida para os 6%
Atualmente, segundo dados da Federação, há “140 clubes” e “90 campos”, sendo que a maioria dos campos, localizados no Algarve e Lisboa, tem o foco nos turistas e só muito pontualmente, “como foi o 11 de setembro” ou com “a crise financeira” virou estratégias para o mercado doméstico.
“Com 350 mil estrangeiros” a pisarem território português para jogar golfe, a receitas diretas ascendem “aos 200 milhões de euros”, atira. Se somarmos as receitas indiretas, “onde cabe a receita fiscal de quem vive no Algarve por causa do golfe”, verificamos que tem um “peso grande na economia”, assegura.
“A indústria enfrenta desafios importantes e quer constituir-se como um promotor ativo que possa impactar o desenvolvimento da modalidade, por um lado, e na dinamização da atividade económica, criação de riqueza e geração de emprego”, adianta. Para Miguel Franco várias entidades, como sejam Turismo, Ministério de Economia, Federação e Conselho Nacional da Indústria do Golfe devem colaborar entre si, porque todos beneficiam de uma modalidade forte. “Golfe e Turismo de Portugal devem trabalhar de forma ainda mais próxima para que ambos, de mãos dadas, possam bater recordes de forma sucessiva e continuada como é o caso da terceira eleição consecutiva de Portugal como melhor destino de golfe mundo e da qualificação (European Tour) de Ricardo Melo Gouveia”, exemplifica.
O golfe paga IVA a 23%. “É uma medida politicamente incorreta porque 90% de quem paga são estrangeiros. Estamos a tributar uma indústria exportadora, perdendo competitividade para mercados como Turquia, Espanha, França e Itália”, alerta. “Poucos são os portugueses que pagam o IVA a 23% porque praticam a modalidade desportiva em clubes, que são entidades sem fins lucrativos e vendem esses serviços sem IVA. Estamos a criar uma barreira ao desenvolvimento da indústria”, antevê.
A temática de redução do IVA para 6% passa por “contar uma história” para ver o impacto “do aumento do imposto na sustentabilidade da indústria”, antecipa. “Saber quantos mais trabalhos seriam gerados se esta for mais competitiva e qual o valor da receita fiscal, para depois, aí sim, apresentar argumentos”, continua. “Compreendo que um governo com politicas de esquerda não possa reduzir o IVA”, admite.
Finalmente, em relação às grandes competições e eventos desportivos, Miguel Franco é claro. “Olhar para os ativos que temos é mais importante que ir mais além. Não temos agendado um evento estilo Ryder Cup... na altura que o fizemos havia investimento do Estado e de privados”, recorda. “Preferimos colocar o Portugal Masters no patamar com mais de 4 milhões de euros de prize money”, exemplifica.
“(Na promoção dos grandes eventos) não temos a perspetiva de subsídio- dependência. Não pode ser só o Estado a pôr dinheiro. O tecido empresarial que beneficia com o golfe, as empresas nacionais com expressão internacional devem investir na projeção mediática da modalidade”, desafia. “Somos das federações com menor dependência do Estado e assim queremos continuar”, assegura o presidente da FPG que recorda um último dado. “Recebemos 10 mil euros para dois atletas nos Jogos Olímpicos do Rio”, finaliza.
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