“Isto é sempre retorno do investimento. Eu invisto X para ganhar Y. É assim que funciona em todos os países do mundo. Se houve esta decisão em três deles, pressupõe-se que o motivo estará na falta de viabilidade económica. Não são boas notícias para a I Liga, mas eu enquadro-as dentro dos movimentos de mercado que estamos a verificar”, considerou à agência Lusa o diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing.
Dias antes do início da edição 2023/24 do campeonato, a imprensa noticiou que algumas das estações no Brasil, em França e em Inglaterra, onde residem milhares de emigrantes portugueses, não tinham renovado os acordos de direitos de difusão televisiva da prova.
“Os grandes prejudicados são os adeptos, maioritariamente portugueses, que deixam de poder acompanhar as suas equipas favoritas. O segundo impacto deverá ser financeiro, porque desaparece, pelo menos para já, alguma fonte de receitas diretas de transmissão televisiva. Em terceiro, acaba por ser retirada visibilidade aos próprios clubes”, elencou.
A SportTV transmite em território nacional todos os duelos da I Liga, à exceção daqueles que decorrem em casa do campeão nacional Benfica, que ficam a cargo da BTV, sendo que, em setembro de 2022, alargou por duas épocas o acordo com a RTP para a difusão de um jogo em cada uma das 34 jornadas nos canais internacionais da estação pública.
“Face ao trabalho que a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) tem feito e por estarmos mais perto de os direitos de transmissão televisiva em Portugal passarem a ser negociados de uma maneira centralizada, acredito que estaremos a viver uma situação temporária. Não consigo desvendar quando é que o problema ficará resolvido, mas não tenho qualquer dúvida de que a I Liga irá voltar a ser transmitida mais tarde ou mais cedo nos três países citados e, provavelmente, até em melhores condições”, frisou Daniel Sá.
Sugerindo como fatores para a quebra de transmissões o “desequilíbrio muito grande na competitividade” da I Liga e a “overdose do produto futebolístico”, o especialista destaca também o impacto de uma “crise significativa”, que afeta a “predisposição de compra dos espetadores e das empresas”, além da projeção internacional de “novos concorrentes”.
“Como em todos os mercados, há produtos que ficam mais ou menos interessantes. Dois deles eram praticamente inexistentes ou tinham pouca visibilidade global, mas ganharam uma importância muito grande nos últimos meses. A Liga norte-americana já tinha o seu protagonismo, mas levou um ‘boost’ enorme com o Lionel Messi. Na Arábia Saudita, viu-se o efeito Ronaldo e agora há dezenas e dezenas de jogadores a chegar. Não sabemos onde é que esta onda termina, mas ela não vai parar e cria um desequilíbrio significativo no dinheiro disponível para a indústria. Ou seja, vivemos um período turbulento”, referiu.
Um dos cinco eixos do plano estratégico delineado pela LPFP rumo ao quadriénio 2023-2027 é a internacionalização, mas Daniel Sá adverte que nem só do organismo depende uma I Liga portuguesa “mais forte, vendável e espetacular”, que, nesta altura, “está numa terceira linha europeia e compete com os campeonatos brasileiro, saudita e americano”.
Segundo o Anuário do Futebol Profissional de 2021/22, os direitos audiovisuais foram a terceira maior fonte de receita dos emblemas da I Liga, com 177 milhões de euros (ME), atrás das transações de atletas (291 ME) e da presença em provas europeias (179 ME).
Mais de 24 milhões de espetadores assistiram aos encontros dessa edição através da televisão, numa média de 80.000 por partida, com esse meio a ser o principal gerador de valor da prova, ao contribuir com 933 ME para um retorno mediático global de 1.349 ME.
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