Este fim de semana desmarque qualquer programa fora de casa, sente-se no sofá e prepara-se para uma viagem pelos clássicos dos clássicos das quatro principais ligas europeias de futebol: Inglaterra, Alemanha, Espanha e Itália. Ao todo, 360 minutos (sem contar com os períodos de desconto) de puro futebol espalhados por dois dias.

Com pequeno-almoço tomado, ou brunch, às 12h30, assista ao sempre apetecível duelo entre o Manchester United (18 pontos, 6º classificado) e o Arsenal, 4º da tabela com 24 pontos. Old Traford, Manchester, testemunha o histórico embate da Premier League apimentado, este ano, pela relação, ou falta dela, entre o português José Mourinho e Arsène Wenger, treinador francês que leva 20 anos de Arsenal.

Duas curiosidades em relação a este jogo entre Red Devils e Gunners. Ambos os clubes estão na mão de americanos. Mais de 10% Manchester United Plc, empresa cotada na Bolsa de Nova Iorque, pertence à família Glazer que entrou no clube em 2005 e são os únicos a ultrapassar essa percentagem, enquanto o milionário Stan Kroenke, igualmente “dono” da equipa Los Angeles Rams (National Football League - futebol americano), maior acionista do Arsenal desde 2011, detém 67% do popular clube londrino. Mas não é só a cor clubística que opõe os dois milionários. Politicamente estão também em campos opostos. Kroenke contribuiu com 2.900 mil euros para a campanha presidencial de Hilary Clinton e o co-chairman do Manchester United, Ed Glazer, doou 52.500 mil euros a Donald Trump.

Trinta minutos depois do chá das cinco espreite a Bundesliga e o "Der Klassiker". A jogar em casa, no Signal Iduna Park (Westfalenstadion), com lotação esgotada - 81.360 mil espetadores - , o Borrusia de Dortmund (BVB) recebe o Bayern de Munique no 95º jogo entre as duas equipas que têm dominado o futebol alemão na última década.

Este é um clássico moderno. E se em 2003 o Bayern de Munique emprestou dois milhões de euros ao Dortmund, clube que esteve à beira da falência, nos anos mais recentes o poderio económico bávaro contratou ao rival Mario Goetze (que, entretanto, regressou), Robert Lewandowski e Hummels, o que tem servido para “animar” adeptos e rivalidades.

Os bávaros de Carlo Anceloti, que procuram o penta campeonato, seguem na frente da classificação (24 pontos) em igualdade pontual com o recém-promovido RP Leipzig e com mais 8 pontos que o rival de Dortmund, treinado por Thomas Tuchel. Em jeito de estatística, a formação preta e amarela não perde em casa há 26 jogos, um novo recorde. A última derrota aconteceu a 4 abril de 2015 diante... o FC Bayern.

Na Alemanha, mandam as empresas alemãs e no futebol não é diferente.

Karl Heinz-Rummenigge é presidente do Bayern Munique. 75% pertence ao clube e aos 250 mil sócios. O resto é Made in Germany: Audi, Allianz e Adidas dividem entre si o resto do quinhão da estrutura com 8% cada. Por seu lado, o BVB de Hans-Joachim Watzke tem free float de 60%, sendo que o restante capital está nos químicos (Evonik), seguros (Signal Iduna), na marca desportiva Puma, em Bernd Geske, maior investidor privado e membro da Administração, e no clube.   

 

Dinheiro chinês nos dérbis latinos

Os chineses têm investido fortemente no futebol e clubes europeus. Ao todo, desde a última época, 2 mil milhões de euros entraram no continente europeu. Há os bolsos profundos, Fosun, Wanda Group e China Media Capital, por exemplo, que juntam ao futebol o interesse em desenvolver negócios de media e desporto (direitos televisivos), há poderosos multimilionários, homens de negócios e ligados à indústria que investem em emblemas históricos e outros chineses, desconhecidos no seu próprio país, que se limitam a comprar em equipas de segunda linha para transformá-la enormes na China.

O histórico Atlético de Madrid, de Enrique Cerezo Torres (Chairman) e Miguel Ángel Gil (CEO) é um exemplo, em Espanha, da mais recente loucura chinesa pelo futebol da velha Europa. 20% do clube pertence ao Wanda Group (adquiridos por 43 milhões de euros), conglomerado presidido por Wang Jianlin e que alargou os seus tentáculos comprando a Infront, empresa Suíça de marketing desportivo que pertencia ao sobrinho de Blatter (ex-presidente da FIFA), por 1,05 mil milhões de euros.

O Vicente Calderón, icónico estádio do Atlético de Madrid, acolhe o último “el derbi” da sua história depois de ter testemunhado quase meio século de batalhas entre os arquirrivais de Madrid, Atlético e Real. 49 jogos depois da primeira partida disputada, a última história deste capitulo que envolve “colchoneros” de Diego Simeone e “blancos” de Zidane, começa às 19h45 o que constitui uma boa entrada antes do jantar. Obrigatório ver a La Liga.

Depois de uma barrigada de futebol, amanhã, para despedida do fim de semana, às 19h45, arranca o 165º dérbi “della Madonnina”. Em San Siro, o Milan recebe o Inter, de João Mário, naquele que promete ser uma partida de genuíno significado histórico na rivalidade milanesa.

No “calcio”, os dois maiores clubes de Milão são maioritariamente de empresas chinesas. Em junho passado, a Suning Holdings comprou 70% dos “nerazzurri” por 307 milhões de euros. O Suning é grupo eletrónico chinês, de cujo portfólio faz parte a PPTV, um dos maiores serviços de streaming na China e que já detém os direitos televisivos da Liga Espanhola.

Em agosto passado Silvio Berlusconi desfez-se do AC Milan por 520 milhões a um fundo de investimento chinês (Sino-Europe Sports Investment Management Changxin Co, apoiado pela Haixia Capital e pelo empresário Yonghong Li), que pagou ainda mais 220 milhões para limpar o clube milanês de dívidas. A transferência de mãos do Milan acontecerá somente a 13 de dezembro, sendo, por isso, este o último jogo da administração Silvio Berlusconi e Adriano Galliani, o fim de uma era que “deu” cinco das sete taças europeias ao clube.

Em resumo, Man United-Arsenal, Atlético-Real Madrid, Dortmund-Bayern de Munique e Milan-Inter, quatro boas razões para cantar “só eu sei porque fico em casa” a ver futebol.