O encerramento do debate do OE2023 na generalidade pela deputada do BE - o partido já tinha anunciado o voto contra - foi marcado por muitas críticas dirigidas diretamente ao primeiro-ministro, António Costa, considerando que “o Governo é como a Rainha Vermelha da Alice no País das Maravilhas” por dizer, como ela, que “a verdade é o que eu quero que seja”.
“Neste orçamento, o próprio Governo anuncia que a conta dos 13 anos [da sustentabilidade da Segurança Social] era uma aldrabice. O senhor primeiro-ministro não gosta da palavra, mas é o mínimo que se pode dizer sobre uma conta falsificada para impor um corte às pensões futuras! É aldrabice, sim”, reiterou.
Para a dirigente bloquista, é compreensível “o sufoco da direita por falta de espaço político” porque “a concorrência do PS à direita é feroz neste orçamento”.
“Senhor primeiro-ministro, quem pensa como a direita governa como a direita, a frase é sua e referia-se ao seu antecessor no PS, quando este acordou com a direita uma reforma do IRC. Uma das principais medidas dessa reforma era o aumento do prazo da dedução de prejuízos fiscais”, recordou, considerando que Costa “tinha razão” quando se opôs a este acordo.
Admitindo que o chefe do executivo possa “achar inconsistente e lamentável que a direita não aprove estas medidas de direita”, Mariana Mortágua pede a Costa que “não se espante que a esquerda continue a ser o que é”.
Na análise da bloquista, "a maioria absoluta é muito confortável mas pouco dada a subtilezas" porque neste debate o "Governo mostrou o que pensa e exibiu a imponência do seu poder absoluto".
"Temos memória de outras maiorias absolutas, senhor primeiro-ministro. Lembramo-nos bem desses anos em que o empobrecimento era certo e um banqueiro dizia ao povo para aguentar", recordou.
Mariana Mortágua apelidou de "animal feroz" o registo do Governo - uma alusão a José Sócrates - quando "falou de uma taxa sobre lucros extraordinários".
"Hoje, a taxa já parece mais uma taxinha. As grandes empresas agradecem a consideração, depois de terem conseguido neste Orçamento a possibilidade eterna de dedução aos lucros futuros os prejuízos passados", condenou.
Mas a dirigente do BE também respondeu a Costa quando o primeiro-ministro, durante o debate de quarta-feira, acusou os bloquistas de traição.
"Ontem, o primeiro-ministro escolheu falar aqui de traição. Eu apenas lhe agradeço ter confessado perante o país o íntimo sofrimento que a o Bloco lhe impôs desde 2015, ao limitar a dedução fiscal dos prejuízos. O senhor primeiro-ministro pôde finalmente usar a maioria absoluta para reverter essa limitação. Registo o seu alívio ao impor agora essa traição à justiça fiscal. O país é que fica a perder", criticou.
Para Mariana Mortágua, "o Governo, tão prudente, nem faz ideia do custo desta medida, não o consegue calcular e nem se preocupa com isso".
"Que lhe importam as contas? É receita fiscal perdida? É. Serão os contribuintes a suportar os prejuízos das empresas? Sim. Mas 'a verdade é o que o senhor quiser que seja', não é, senhor primeiro-ministro?", atirou.
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