“É absurdo, julgo que é uma irresponsabilidade [o Governo] ter nomeado, é uma irresponsabilidade agora suspender em vez de, simplesmente, fazer uma nova proposta [de nomeação]. Uma proposta que tenha a ver com a defesa do interesse público, que tenha a ver verdadeiramente com a recuperação da economia portuguesa”, disse Catarina Martins.
Em declarações aos jornalistas em Cantanhede, distrito de Coimbra, à margem de uma reunião com a administração do Hospital Arcebispo João Crisóstomo, a líder bloquista considerou estranho que o Governo tenha anunciado a suspensão da nomeação.
“O que o governo devia fazer era, simplesmente, propor um novo nome à CRESAP [Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública] e ao Banco de Portugal. Porque se a ideia é que o Banco de Fomento possa ser um instrumento para a recuperação do país, deixar a administração em suspenso parece uma ideia absolutamente absurda”, defendeu Catarina Martins.
A coordenadora do BE lembrou que “já em fevereiro”, no parlamento, o partido manifestou-se contra a nomeação de Vítor Fernandes, classificando-a de”incompreensível” e “péssima escolha”.
“Porque [Vítor Fernandes] tinha estado na administração da Caixa Geral de Depósitos que deu aqueles créditos ruinosos do assalto ao BCP a Joe Berardo e outros, e depois saltou para essa administração do BCP com Armando Vara e com Santos Ferreira. Portanto, nada aconselhava a esta nomeação”, recordou.
“Como o nome não é bom, o Governo deve ter uma outra proposta que permita ao Banco de Fomento funcionar”, reafirmou Catarina Martins.
“As notícias que agora aparecem sobre as questões relacionadas com a administração do Novo Banco e o poder ou não ter facilitado uma espécie de assalto de Luís Filipe Vieira ao próprio fundo de resolução, a Justiça vai-se pronunciar sobre elas. Mas mesmo antes deste caso, já não havia condições nenhumas para esta nomeação”, insistiu.
Catarina Martins enfatizou ainda que no relatório da comissão parlamentar de inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos, “o Partido Socialista reconheceu que Vítor Fernandes, que fez parte da administração de Santos Ferreira, fez créditos ruinosos que serviram de assalto ao BCP”
“E a administração do BCP, em que mais uma vez estiveram os mesmos, foi desastrosa. E depois deste percurso, de desastre em desastre [o Governo] vai nomear alguém, que está nestas administrações, para o Banco de Fomento, para recuperar a economia portuguesa? Mas como é que nós, com os mesmos que enterraram a economia portuguesa até agora, vamos achar que é o Banco de Fomento capaz de recuperar a economia”, questionou.
Na segunda-feira, o Governo anunciou que suspendeu a nomeação de Vítor Fernandes para a presidência do Conselho de Administração do Banco do Fomento, para evitar "controvérsia" na instituição.
“Solicitei à PGR que fosse esclarecido, se isso for possível à luz das leis do processo, qual a situação processual de Vítor Fernandes”, indicou o ministro Pedro Siza Vieira, dizendo que o objetivo é saber se é arguido e se há “alguma investigação dirigida à sua atuação”.
O ex-administrador do Novo Banco é mencionado em documentos do Ministério Público referentes à operação Cartão Vermelho, na qual o presidente da Promovalor e do Benfica (com funções suspensas) Luís Filipe Vieira é arguido.
Também na segunda-feira, fonte oficial do regulador bancário garantiu hoje à Lusa que “toda a informação será devidamente ponderada pelo Banco de Portugal (BdP) no exercício das suas competências”.
Na sequência desta ponderação, o BdP poderá decidir - ou não - pela abertura de um processo de reavaliação de idoneidade de Vítor Fernandes que, após ter sido indicado pelo ministro da Economia para 'chairman' do novo Banco Português do Fomento, passou já (tal como os outros elementos da gestão) por uma avaliação de idoneidade e competências técnicas feita pelo banco central.
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