Promovido pela empresa São Lourenço do Barrocal, da família proprietária da herdade e da família António Menano, o projeto situa-se no concelho de Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, e custou nove milhões de euros, dos quais cerca de 5,5 milhões foram apoios comunitários. A herdade, na mesma família há 200 anos, tem 780 hectares, com várias marcas históricas, como 16 antas e um menir do Neolítico, e ligação direta ao grande lago.
O complexo “teria viabilidade e tê-lo-íamos feito à mesma se não houvesse Alqueva”, mas “é uma enorme mais-valia ter o lago na herdade e interessa-nos muitíssimo” usá-lo “para ter atividades [de animação turística] e como irrigação da agricultura”, realçou à agência Lusa José António Uva, administrador da empresa promotora. Agora, esta herdade alentejana, produtora de vinho e de vários produtos biológicos, como carne e azeite, dá o “tiro de partida” para novos tempos, com restaurante, adega e hotel de cinco estrelas, com 24 quartos, 16 casas turísticas, spa, piscina, centro hípico e outras valências.
O presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, disse à Lusa tratar-se de um investimento “bastante importante”, mesmo “ao lado do Alqueva, um lago que tem quase 1.100 quilómetros de margem, dos quais 220 quilómetros” neste concelho.
“É uma recuperação magnífica de um monte que tem uma história no concelho e que alarga horizontes em relação à oferta turística de Reguengos de Monsaraz”, permitindo, em complemento com os turismos rurais, “prolongar as visitas dos turistas e ter outro tipo de turismo” de um segmento “mais alto”, frisou.
Os vários edifícios do monte, do século XIX, totalizam os oito mil metros quadrados e o projeto do arquiteto Eduardo Souto Moura, “provavelmente a pessoa em Portugal que tem mais experiência em reabilitação e maior conhecimento do património arquitetónico”, resultou numa intervenção “muito cuidada”, afiançou José António Uva. “Permitiu recuperar edifícios que têm agora novas funções, mas que mantêm a sua personalidade, caráter e essência, que é a arquitetura popular do Alentejo”, sublinhou.
Com quase 50 pessoas já contratadas, a maior parte da zona, e parcerias com produtores e artesãos da região, para fornecerem o restaurante ou a loja, o projeto quer valorizar a agricultura que pratica e recuperar “o sentido de comunidade” da herdade, quando aí viviam e trabalhavam, antigamente, cerca de 100 pessoas.
O empreendimento, quando foi apresentado, há alguns anos, previa também a construção de casas de turismo residencial, mas, por enquanto, os planos estão apenas centrados na operacionalização da fase que é inaugurada na sexta-feira. “Aquilo que temos é uma resposta ao mercado. Se, de facto, houver interesse para esse turismo residencial, assim responderemos. Mas o nosso foco está em criarmos um hotel com vida”, esclareceu o administrador.
No período correspondente à “caminhada” do São Lourenço do Barrocal, outros projetos turísticos e imobiliários estiveram “na calha” para o Alqueva, mas ou não foram concluídos ou nem passaram do papel. “Tenho claramente pena”, afirmou o autarca José Calixto, reconhecendo que “a dimensão destes projetos, feita na década passada” estava “claramente acima daquilo que os territórios e os mercados aguentam, neste momento”.
Quanto a José António Uva, apostado em “provar que faz sentido fazer um projeto ambicioso, turístico e agrícola, nesta região”, espera que, com o tempo, surjam outros investidores: “Faria todo o sentido. Acho que funcionamos melhor como destino se formos mais”.
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