Efetuado entre 14 e 20 de abril pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), para avaliar junto das empresas o impacto, as medidas e as perspetivas de retoma face à pandemia de covid-19, o inquérito destaca a quebra nas encomendas como “o principal problema” sentido pelo setor.
“Mais de 60% das empresas inquiridas identificaram um impacto muito forte (superior a 50%) no que respeita à redução da procura/encomendas em abril”, aponta a associação, avançando que “as estimativas para junho também são más: 43% das empresas esperam uma redução na procura superior a 50% e 37% espera uma redução entre 25% e 50%”.
A dificuldade no abastecimento de matérias-primas é outro dos constrangimentos reportados no inquérito, com mais de metade das empresas inquiridas a identificarem “um impacto forte ou muito forte” a este nível em abril.
As origens mais afetadas são Itália, Espanha, India, China e as principais razões apontadas são o facto de os fornecedores e/ou mercados estarem encerrados, as dificuldades aduaneiras e de crédito e o aumento do custo das matérias-primas.
Adicionalmente, refere a ATP, os constrangimentos a nível dos transportes e da logística “também têm estado a dificultar” a atividade do setor, com os empresários a referirem atrasos nas entregas e a existência de “menos opções disponíveis” e a afirmarem que “os preços dispararam”.
De acordo com a associação, a produção de EPI's (equipamentos de proteção individual) é apontada como alternativa para colmatar a quebra da atividade apenas por um quarto das empresas inquiridas.
Entre as medidas de apoio disponibilizadas pelo Governo, as mais utilizadas até agora no setor têxtil e de vestuário foram o ‘lay-off’ (68% dos inquiridos diz estar em ‘lay-off’ total ou parcial) e as moratórias (35%), sendo que em junho 66% das empresas indicam que continuarão a recorrer ao ‘lay-off’ e 40% afirmam estar a considerar recorrer às linhas de crédito (acima dos atuais 23%).
“Uma situação que também prejudica as empresas do setor são os trabalhadores que estão a prestar assistência à família devido ao encerramento das escolas”, destaca a ATP, apontando que “mais de 50% das empresas afirmaram ter até 20% dos trabalhadores nestas circunstâncias”.
Do inquérito resultaram ainda, segundo a associação, “muitas críticas das empresas relativamente às medidas já em vigor”, nomeadamente a burocracia, dificuldades de interpretação, falta de clareza e de flexibilidade nos instrumentos, regulamentação tardia das medidas, diferenças entre a comunicação governamental e a execução pelos organismos responsáveis, morosidade e custos para as empresas.
Os empresários consideram também que as medidas lançadas pelo executivo são “pouco ambiciosas” e privilegiam o endividamento futuro das companhias, o que “comprometerá a [sua] capacidade de crescimento/investimento nos próximos anos”.
Questionados sobre como perspetivam a retoma económica após ultrapassada a crise sanitária, a maioria dos inquiridos prevê que será “incerta e pouco vigorosa”, considerando que “paira uma grande incerteza, quer em Portugal, quer na Europa, relativamente à retoma económica” e que “não existem medidas adequadas para a favorecer”.
“Cerca de 35% das empresas apenas antevê uma ligeira retoma (até 20%) da atividade no mês de maio”, sendo que “o mês de junho traz uma ligeira melhoria, com cerca de 45% dos inquiridos a perspetivar uma retoma da atividade entre 20% a 60%”, e “apenas 11% acredita numa retoma a mais de 80%” no final do primeiro semestre, conclui a ATP.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 200 mil mortos e infetou mais de 2,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 720 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 854 pessoas das 22.797 confirmadas como infetadas, e há 1.228 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram entretanto a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria, Espanha ou Alemanha, a aliviar algumas das medidas.
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