"Na ausência de dados do PIB angolano (os últimos dados definitivos correspondem ao ano de 2013), as várias estatísticas económicas mostram uma economia em estagnação ou mesmo quebra, tanto no setor petrolífero como nas outras indústrias", escrevem os analistas do BPI numa análise ao Orçamento do Estado de Angola para o próximo ano.
Questionado pela Lusa sobre se é possível inferir que Angola estará já em recessão económica neste ano ou se é previsível que esteja em 2017, o economista responsável pelo acompanhamento do país disse que "para a economia não-petrolífera, os indicadores assim o apontam, embora não seja possível aferir completamente dada a ausência de dados relativos ao PIB".
José Miguel Cerdeira explicou que "havendo uma diminuição tão abrupta das importações, é difícil imaginar um cenário em que isso não corresponda a uma quebra semelhante do consumo privado e possivelmente do investimento, e por sua vez, do PIB".
"O facto de a inflação ser mais acentuada do que o crescimento homólogo do crédito e também da circulação de moeda aponta para o mesmo sentido", disse o economista.
Um cenário de estagnação este ano, como apontam as previsões do Fundo Monetário Internacional e da Economist Intelligence Unit, "é também o cenário mais natural dada a diminuição dos gastos estatais, quando as despesas do Estado assumem um papel tão importante na economia, como no caso de Angola - a despesa do Estado representava, nos últimos dados, 26% do PIB angolano, enquanto o investimento, que é maioritariamente público, totalizava 27% do PIB".
Assim, concluiu o analista, "não só por via de menores subsídios e menor compra de bens e serviços por parte do Estado, como por um significativo decréscimo do investimento público, são tudo fatores que indicam que o país estará num cenário de estagnação ou mesmo de recessão".
Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise económica e financeira devido à quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, que por sua vez fez diminuir a entrada de divisas no país, travando as importações.
O Governo prevê um crescimento da economia em 2017 equivalente a 2,1% do PIB, face aos 1,1% admitidos para este ano, na revisão do Orçamento aprovado em setembro.
Além disso, está previsto um novo défice orçamental, de 5,8% do PIB, nas contas públicas do próximo ano.
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