A pandemia trouxe várias mudanças e uma das que poucos têm dúvidas que veio para ficar é na forma como trabalhamos. Do trabalho remoto à organização do dia-a-dia, os períodos de isolamento obrigaram a repensar processos – mas alguns problemas apenas mudaram de forma. O número de reuniões que, em média, são agendadas foi um deles. As plataformas digitais trouxeram maior rigor de horários – 1 minuto de atraso no ecrã equivale a muitos mais presencialmente – mas não atenuaram a intensidade. Por vezes, até aconteceu o contrário.
"Muitas vezes salta-se de reunião em reunião e nunca se tomam decisões", observa Diogo Romão, partner da Monday, uma empresa que ajuda outras empresas a otimizar processos de trabalho. "Também havia reuniões que antes pareciam impossíveis e que se tornaram óbvias de acontecer", complementa. As duas vertentes colidem num mundo que, para muitas empresas, se tornou fragmentado, com equipas a trabalhar remotamente na maior parte do tempo, o que obriga a repensar os temas de cultura interna e pertença.
"Nós próprios, na Monday, estamos a passar por esse processo. Trabalhamos a maior parte do tempo remotamente, mas definimos um dia por mês em que estamos todos juntos e não é para trabalhar, mas sim para celebrar e reforçar laços de equipa", refere.
Outra das valências da Monday é a organização de processos de design thinking, uma ferramenta que ajuda, por exemplo, a estruturar produtos, focando na experiência do utilizador e não nas premissas de quem está a propor a oferta. "Vive muito de vários passos, mas o principal é a empatia".
Uma afirmação que é ilustrada num exemplo que Diogo gosta de partilhar relativo a um equipamento de exames médicos desenhado por um engenheiro da General Eletric. "Um dia, ele foi ao hospital onde estava a ser usado e percebeu que havia uma criança a chorar por ir fazer o exame. Falou com a equipa e explicaram que acontecia muitas vezes e que as crianças eram habitualmente sedadas para poder realizar o exame. Ao colocar-se ao nível de uma criança junto do equipamento percebeu como podia ser ameaçador", conta. A solução foi revestir o equipamento com vinil associado a temas infantis e o resultado foi a redução para uma percentagem abaixo dos 5% no número de crianças que tinham de ser sedadas. "Chegou a haver quem perguntasse se podia repetir no dia seguinte".
Sobre o futuro do trabalho, Diogo Romão diz que a única certeza que tem é que "nunca mais será igual ao que era". E acredita que uma palavra é essencial: "o equilíbrio da vida no seu todo é fundamental, o trabalho é uma parte, mas há muitas outras partes".
Sobre o podcast:
"It’s Ok To Not Be Ok" é uma série produzida em parceria pela MadreMedia e o LACS, onde se fala da saúde mental e do bem-estar no contexto da nossa vida profissional e do que as empresas podem fazer para promover formas que permitam vive e trabalhar melhor.
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