Segundo Arlindo Cunha, “a panorâmica internacional no mercado dos vinhos não está nada famosa”, o que teve reflexos no vinho do Dão.
“Em termos das exportações, no ano de 2023, teve uma ligeira redução em valor, de cerca de 1,6%, que foi uma conjugação de, por um lado, uma redução do volume em litros, menos 5,8%, e, por outro, um aumento de cerca de 3% em preço”, explicou.
Arlindo Cunha disse que se verificou “uma redução de volume que foi compensada com o aumento do preço médio” e que, “em última instância, o que conta é o valor final”, que ficou numa “quase estagnação, com uma pequena redução de 1,6%”.
De acordo com o presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) Dão, “isto é uma situação genérica”, não só dos vinhos portugueses, e que se verifica na sequência de acontecimentos como a pandemia de covid-19, o conflito da Ucrânia e a instabilidade na Europa e no mundo inteiro.
Para 2024, a CVR Dão prevê “que o total de vinho que venha a ser certificado seja mais ou menos o mesmo do que foi em 2023” e que, portanto, “não haja nenhuma alteração, porque os tempos não estão para grandes otimismos”.
“Estamos a falar de 20 milhões de litros de vinho certificado. Temos de ter alguma contenção em matéria de otimismos. Estamos numa conjuntura em que não é seguro fazer previsões e o melhor é jogar mesmo pelo seguro”, admitiu.
Por isso, ao fazer o exercício de previsão do orçamento e da atividade da CVR para 2024, o cenário estabelecido foi de “manter o crescimento zero em relação a 2023”, o que até é considerado positivo, atendendo a que “a situação internacional está muito difícil”.
Arlindo Cunha disse que os mercados em que o Dão mais desceu foram os dos Estados Unidos, Espanha, Bélgica e Alemanha.
“Em contrapartida, crescemos no Canadá, na Suécia e nos Países Baixos”, referiu, acrescentando que, neste momento, o Canadá é o principal mercado de exportação.
No que respeita aos preços, “o mercado que paga melhor é o americano, com um preço médio na casa dos cinco euros, e o mais baixo é o espanhol, na casa dos 2,8 a três euros”, acrescentou.
Em Portugal, o responsável considerou que o vinho do Dão está “num patamar bastante razoável”.
“No mercado da grande distribuição, nas grandes superfícies, tem um preço médio bastante baixo (cerca de quatro euros). No mercado da HORECA (Hotelaria, Restauração, Cafetaria e Catering), o preço é muito mais elevado (cerca de 12 euros)”, explicou Arlindo Cunha, acrescentando que, “conjugando estas duas componentes, andará na casa dos 6,7 euros por litro, em média”.
No entender de Arlindo Cunha, quer em Portugal, quer na Europa, o mercado enfrenta desafios aos quais é necessário dar resposta e, neste âmbito, defendeu que sejam implementadas medidas como a “destilação de crise” e o apoio à “vindima verde ou poda verde”.
“O vinho europeu estava a escoar-se muito bem, até que vários mercados começaram a retrair-se em razão da instabilidade que se vive. E, portanto, nesta altura nós temos alguma acumulação de ‘stocks'”, explicou.
Uma forma de resolver este problema de excedentes até que o mercado melhore é “através de medidas que a União Europeia já toma de vez em quando”, como as destilações de crise, transformando vinho em álcool.
“Há que evitar que os preços das uvas baixem drasticamente. Se isso acontecer, os produtores desistem e abandonam”, avisou.
Outra medida que defendeu que deve ser ponderada é a “vindima verde ou poda verde”.
“Quando daqui a mais umas semanas fizermos uma avaliação da produção, se virmos que vamos ter uma campanha de alta produção em cima de outra que já foi a do ano passado, pode justificar-se a criação de uma medida de poda ou vindima verde”, que passa por “os agricultores deitarem abaixo uma parte das uvas, de forma seletiva, e, obviamente, serem compensados por isso”, explicou.
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