“As últimas informações que me chegaram, há cerca de uma hora, são de que as linhas de enchimento estão todas paradas”, afirmou o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (Sintab) José Eduardo Andrade, em declarações à agência Lusa.
Segundo o dirigente sindical, “nunca se consegue uma adesão de 100% dos trabalhadores, mas [os que compareceram] na área industrial não foram suficientes para garantir a operacionalidade e pelo menos as linhas de enchimento estavam paradas”.
A greve arrancou às 08:00 de hoje – hora a que teve início uma concentração que contou com a “presença solidária” da secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha - e prolonga-se por 24 horas, em linha com a paralisação já agendada dos 16 trabalhadores precários que o sindicato diz terem sido “empurrados para o desemprego”.
O protesto dos trabalhadores do Super Bock Group pretende “denunciar o ataque aos postos de trabalho e consequente descapitalização humana da empresa”, assim como as “ações prepotentes e persecutórias que têm sido levadas a cabo pela direção industrial” e que os trabalhadores consideram ser “reflexo da postura ideológica da administração”.
A ação serve ainda para “repudiar a falta de palavra dos responsáveis da empresa ao decidirem não cumprir com o acordo assumido e assinado com o Sintab, no Ministério do Trabalho, para integração de 16 trabalhadores, até aqui com vínculos precários”.
O sindicato diz que “a Super Bock informou, no passado dia 20 de novembro, ao Sintab e à DGERT [Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho], a decisão de não cumprir com o compromisso que havia assumido em janeiro, de integrar, nos seus quadros, 16 dos trabalhadores com vínculos precários e que desempenham tarefas contínuas e essenciais há mais de 15 anos”.
Para a estrutura sindical, na base da decisão está a descapitalização dos quadros para, mais tarde, o grupo recorrer a trabalhadores com vínculos precários.
Num comunicado divulgado hoje, o Super Bock Group esclarece, contudo, que os 16 trabalhadores em causa “não são trabalhadores da Super Bock, mas de uma empresa que presta serviços à Super Bock” e reitera que “só a alteração profunda de circunstâncias motivada pelo impacto da crise covid-19 no negócio do grupo torna inexigível o cumprimento integral do acordo que fora, em fase prévia à pandemia, alcançado na DGERT e, consequentemente, a contratação dos trabalhadores da Conductor”.
Salientando que, “em resultado da conjuntura excecional causada pela pandemia de covid-19, a empresa foi obrigada a iniciar, em junho passado, um processo de reajustamento da sua estrutura”, a Super Bock sustenta que “não seria compreensível, nem socialmente admissível, integrar agora trabalhadores externos à organização”.
Para além deste processo de reajustamento – “transversal a todos os grupos funcionais da empresa” e que está “praticamente concluído” - a Super Bock recorda ter acionado “um plano de contingência com medidas aplicadas às várias áreas da empresa”.
A empresa salienta que a sua atividade “tem sido e continuará a ser afetada pelo momento excecional vivido no mundo e, em particular, em Portugal”, uma vez que realiza maioritariamente as suas vendas no Horeca (hotelaria, restauração e cafetaria), “canal que passa por enormes dificuldades desde o início da pandemia, sendo que os constrangimentos vão prolongar-se pelas novas medidas de contenção face ao agravamento da situação epidémica do país”.
Numa moção aprovada em plenário, no passado dia 02 de dezembro, os trabalhadores acusam a direção de produção de uma abordagem “abusiva e prepotente” e, “perante a insistência da administração em desvalorizar” as queixas dos trabalhadores, decidiram demonstrar com a greve uma “firme posição” na defesa dos seus direitos e postos de trabalho, condenar o não cumprimento dos acordos de integração e exigir o “fim das ações prepotentes e persecutórias”.
No que respeita aos processos disciplinares instaurados, o grupo Super Bock destaca que “a segurança e saúde dos seus trabalhadores foram definidas como uma prioridade estratégica” e que “é nesse sentido que tem vindo a exigir o respeito e cumprimento” do Regulamento de Segurança e Saúde no Trabalho.
“Num contexto de pandemia como o que atravessamos, a Super Bock reforçou a sua preocupação com as questões de segurança e saúde no trabalho, tendo adotado medidas extraordinárias para fazer face à atual situação epidemiológica. Trata-se de uma questão da qual a empresa não abdica, pois só assim consegue garantir a segurança a saúde de todos os seus colaboradores e famílias”, sustenta.
Em 16 de junho, o grupo Super Bock anunciou que decidiu reduzir a sua força de trabalho em 10%, devido ao impacto da pandemia de covid-19.
A "significativa redução da atividade do Super Bock Group provocada pelo efeito da pandemia covid-19, bem como o cenário de recessão previsto para o futuro próximo, forçam a empresa a reajustar a sua estrutura para defender e proteger a sustentabilidade do grupo", lê-se nessa nota.
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