A posição de Duarte Cordeiro foi transmitida durante uma intervenção no segundo e último dia do debate da proposta do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), no parlamento, em resposta à interpelação do deputado social-democrata Hugo Carvalho.

Depois de Duarte Cordeiro afirmar estranhar que as interligações tenham “desaparecido” do discurso do PSD, o parlamentar ripostou que o governante “devia estar a agradecer ao PSD por o ter lembrado – a si e ao seu primeiro-ministro – das interligações”.

Em resposta a Hugo Carvalho, o ministro indicou estar à espera de que o deputado social-democrata usasse a sua intervenção para dizer: “enganámo-nos”.

“Afinal, fizemos uma intervenção infundada e absurda que pressupunha que desaparecessem duas interligações elétricas nos Pirenéus, que afinal não desapareceram”, disse, considerando que o partido tinha agora “oportunidade” de admitir que fez uma “intervenção completamente infundada”.

Em causa estão as declarações do vice-presidente do PSD Paulo Rangel, que acusou o Governo de trocar o valor das energias renováveis e o potencial do porto de Sines “por um prato de lentilhas”.

O PSD pediu mesmo um debate de urgência no parlamento, que só se vai realizar depois de concluída a discussão do Orçamento do Estado, a partir de 25 de novembro.

Em resposta, António Costa manifestou-se perplexo com as críticas do PSD acusou Paulo Rangel de nada perceber do assunto.

Esta terça-feira, o ministro do Ambiente já tinha assegurado que o acordo com os governos de Espanha e França continua a prever o reforço das interconexões elétricas, nos Pirenéus, além da nova interligação de gás, criticando o PSD.

“Aquilo que a senhora ministra [da Transição Ecológica e vice-presidente do governo espanhol, Teresa Ribera] terá dito clarifica aquilo que, nos últimos dias, tem sido colocado por parte do PSD, [já que] o PSD veio dizer publicamente que este acordo prejudicava Portugal e não beneficiava Portugal, porque, aparentemente, quando comparado com o acordo de 2015, teriam caído duas interligações elétricas nos Pirenéus”, afirmou Duarte Cordeiro.

Porém, “não caíram nenhumas interligações elétricas nos Pirenéus”, vincou o responsável, falando aos jornalistas portugueses no Luxemburgo, no final de uma reunião dos ministros da Energia da UE.

Na reta final do debate hoje no parlamento, o vice-presidente da bancada do PSD Paulo Rios de Oliveira acusou ainda o Governo do PS de ser “habilidoso” e apontou a TAP como o “exemplo máximo do socialismo em todo o seu esplendor e horror”.

“O ministro [Pedro Nuno Santos] tem de provar que tem capacidade para disputar a liderança do PS e a TAP foi o brinquedo escolhido”, afirmou, acusando o governante de ter “inventado dois aeroportos da sua autoria”, numa referência do despacho depois revogado pelo primeiro-ministro.

Paulo Rios de Oliveira lembrou que o PS chegou a comparar os aviões da TAP às caravelas e criticou a reversão da privatização, classificando-a como “um embuste político”.

“Quando tudo estava a correr à moda socialista, houve três dramas: o dinheiro estava a acabar, a União Europeia avisou que não permitia mais dinheiro na TAP e os conflitos laborais na TAP estavam ao rubro. Afinal a nacionalização já não é boa e a TAP tem de ser privatizada”, ironizou, dizendo que “o PSD teme o pior” quanto aos 3,2 mil milhões de euros que foram colocados pelo Estado na companhia aérea.

Também o ainda presidente da IL, João Cotrim Figueiredo, apontou a TAP como uma das “omissões” da proposta de Orçamento do Estado.

“O primeiro-ministro já se comprometeu com a privatização da TAP num ano, mas não há qualquer receita prevista com o encaixe da venda”, disse, desafiando o primeiro-ministro a comprometer-se com a devolução a cada português de 320 euros quando for efetuada a venda.

Cotrim Figueiredo pediu ainda ao Governo que se comprometa a que, quem ganha o Salário Mínimo Nacional, não pague IRS e questionou porque está prevista no documento uma cativação de mais de 3 mil milhões euros, que calculou em 15% de despesas discricionárias, enquanto o ministro das Finanças ia dizendo que não com a cabeça.