Numa decisão que surpreendeu o mundo do futebol, Messi anunciou a sua intenção de ir jogar nos Inter Miami, em vez de ingressar no seu antigo clube, o Barcelona (algo que até o levou a escrever uma carta de desculpas aos adeptos). Falou-se numa proposta choruda de muitos milhões da Arábia Saudita, mas nem isso seduziu o astro argentino, que preferiu sair da Europa e rumar até Miami e ter como vizinhança Gloria Estefan, Julio Iglesias, The Rock e muitas outras estrelas do mundo do espetáculo.

A decisão só é comparável ao momento em que Pelé decidiu juntar-se aos New York Cosmos na década de 70 ou quando David Beckham se juntou aos LA Galaxy em 2007. No caso do primeiro, Pelé influenciou uma geração de jogadores de futebol americanos e fez subir a média de espectadores da sua equipa de 4,500 para 45,000. No caso do segundo, Beckham deu toda uma nova dimensão ao soccer e fez com que a MLS ganhasse muito dinheiro (para se ter uma ideia, a MLS tinha 13 equipas quando o inglês aterrou nos EUA; hoje há 29 e a 30.ª está a caminho).

No caso de Messi, o argentino vai provavelmente juntar os feitos de David Beckham e Pelé. Ou seja, o ex-PSG deve fazer explodir a MLS e chega numa altura em que o futebol americano está mais popular do que nunca. Para se ter noção, a mudança para o Inter Miami ainda não foi oficializada e ainda não há certezas quanto à data em que se vai estrear com as cores da nova equipa, mas o preço dos bilhetes já está altamente inflacionado. Não é só a equipa de Miami que fica contente; com Messi, até os adversários esfregam as mãos porque todos querem ver ao vivo “La Pulga”. 

  • Contexto: um bilhete para o Jogo 3 da final da NBA em Miami chegou a estar mais barato (333 dólares) do que a potencial estreia de Messi (373 dólares), segundo a The Athletic. Mais, a azáfama para assistir aos jogos do próximo mês de julho (em diante) é tanta que já se venderam tantos bilhetes como em toda a época de 2022 (no período homólogo). 

Apple, Adidas, MLS e milhões

Outra razão pela qual a mudança de Messi para Miami está a dar que falar é pelo envolvimento da Apple e da Adidas no negócio, que não só vão ajudar a viabilizar a concluir a transferência, como ainda vão negociar com o craque uns extras.

  • Apple. No início do ano, a empresa de Tim Cook assinou um contrato com a MLS para os próximos 10 anos, no valor de 2,5 mil milhões de dólares. E a Apple vê Messi como um jogador-chave para expandir o interesse na liga a nível internacional e espera que o seu nome atraia novos subscritores para o serviço dedicado à liga do “Soccer” chamado MLS Season Pass.
  • O MLS Season Pass é um serviço da Apple TV+ (em Portugal tem um custo de 14,99€/mês ou 49€/ano) que permite ver todos os jogos (de vez em quando a Apple dá a possibilidade de ver uns jogos de forma gratuita) e tudo o que é relacionado com a liga via streaming. Dá para ver golos, reportagens, documentários, resumos, programas de discussão, etc. Se o conteúdo envolve MLS, é provável que esteja por lá.

Extra: a Apple anunciou uma série documental de quatro partes em torno das participações de Messi em Mundiais (vai culminar na glória alcançada no Campeonato do Mundo do Qatar, que a Argentina venceu em dezembro do ano passado), que ficará disponível em breve na Apple TV+. 

Mas como é que Messi vai beneficiar ao certo? Em cima da mesa está a possibilidade de vir a receber uma parte das receitas da subscrição do MLS Season Pass TV. De acordo com a Front Office Sports, a confirmar-se, é um acordo “sem precedentes".

  • Adidas. A gigante alemã patrocina Messi desde 2006, está ligada à MLS desde a sua criação em 1996 e é um dos seus principais sponsors. Até 2030 vai vestir todas as 29 equipas da liga e desenhar a bola de jogo oficial — depois de ter celebrado uma extensão no acordo com a MLS no valor de 830 milhões de dólares. E, de acordo com as previsões de analistas, a chegada de Messi pode significar uma subida até 30% do preço das ações.
  • O que ganha Messi: segundo consta, o argentino vai receber uma percentagem sobre os lucros da MLS após a sua chegada.

Efeito Messi

Num artigo guia, a The Athletic reuniu alguns números que ajudam a explicar o que está em jogo. Por exemplo, o seu antigo clube, o Paris Saint-Germain (PSG), gerou 700 milhões de euros em receitas no primeiro ano após a chegada do astro argentino em 2021.

  • O PSG fechou 10 novos contratos de patrocínio, que variam de 3 a 8 milhões de euros cada;
  • Os direitos de imagem e as vendas nos dias de jogo dispararam, assim como a procura da sua camisola, com o n.º 30. Em 2021, apenas o Real Madrid vendeu mais camisolas do que o PSG, sendo que 60% das camisolas vendidas eram de Messi;
  • Nas redes sociais, o PSG ganhou 5,6 milhões de seguidores só na semana seguinte ao anúncio da sua contratação. Desde então, amealhou 15 milhões de novos seguidores nas suas plataformas e o PSG tornou-se na marca francesa mais seguida no Instagram (embora já tenha perdido 2 milhões de seguidores desde que o jogador comunicou que ia sair).
  • Messi é uma estrela global. Os 468 milhões de seguidores no Instagram superam os 154 milhões de LeBron James (estrela maior da NBA) e os 14 milhões de Tom Brady (lenda do futebol americano).

Independentemente do valor final exato e oficial do contrato, é quase certo que Messi vai ser o jogador mais bem pago da MLS, destronando do trono o suíço Xherdan Shaqiri (cuja alcunha, curiosamente, é “Messi dos Alpes”), dos Chicago Fire, atualmente o mais bem pago, ao auferir pouco mais de 8 milhões/época.

  • Bónus à la Beckham: Fala-se que Messi vai ter uma cláusula no seu contrato que lhe dá a possibilidade de comprar parte de uma equipa da MLS quando se reformar. Na prática, será igual à atribuída a David Beckham quando assinou há 16 anos pelos LA Galaxy, e que lhe permitiu comprar o Inter Miami com desconto em 2018 (custou 25 milhões de dólares e em fevereiro foi avaliado pela Forbes em 600 milhões).

Veredicto: Messi é o sonho de qualquer departamento de Marketing. O argentino não só vai alterar significativamente o valor da sua equipa, como vai tornar a própria liga norte-americana mais atrativa. E isto é particularmente importante porque há um Campeonato do Mundo a ser organizado pelos EUA já em 2026 - e quem melhor do que Messi para promover o evento?

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