ÍNDICE

Hóspedes e dormidas mantiveram crescimento em 2021

Quase dois anos depois do início da pandemia, o setor do turismo conseguiu entrar numa trajetória de recuperação, recuperando face a 2020, ainda que continue abaixo dos registos pré-covid. Embora o número de dormidas nos alojamentos turísticos no ano passado tenha crescido 45,2% em relação a 2020, ainda ficou 46,6% aquém do registo de 2019.

De acordo com o INE, os resultados preliminares revelam que, face a 2019, as dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico diminuíram, no total, 46,6% (-10,9% nos residentes e -62,0% nos não residentes). Apenas o último trimestre regista uma aproximação relevante aos números de dormidas em igual período de 2019, com o mês de novembro de 2021 a ficar meio milhão de dormidas aquém do mesmo mês de 2019.

O agravamento dos números da pandemia em Portugal no último mês do ano passado podem ter afastado o cenário de recuperação.

De acordo com os números publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os hóspedes atingiram 14,5 milhões e as dormidas 37,5 milhões em 2021, que se traduziram em aumentos de 39,4% e 45,2% face a 2020.

Para facilitar a leitura, "hóspede" é aquele que efetua pelo menos uma dormida num estabelecimento de alojamento turístico. Já uma "dormida" verifica-se quando se dá a permanência de um indivíduo num estabelecimento que fornece alojamento por um período entre as 12 horas de um dia e as 12 horas do dia seguinte.

No conjunto do ano de 2021, as dormidas de residentes (turismo interno) aumentaram 38,3% e totalizaram 18,8 milhões, o valor mais baixo desde 2017 (com exceção de 2020). Já as dormidas de não residentes (turismo externo) cresceram 52,9% e atingiram 18,7 milhões, o valor mais baixo desde 1993 (com exceção de 2020).

Entre janeiro e dezembro de 2021, as dormidas de residentes representaram 50,2% do total, um valor significativamente acima do verificado em 2019 (30,1% do total).

Dormidas e taxas de variação nos estabelecimentos de alojamento turístico, 2014 a 2021
Dormidas e taxas de variação nos estabelecimentos de alojamento turístico, 2014 a 2021 INE, 14 de fevereiro de 2022

 

Dormidas por região

Em 2021, o Algarve continuou a liderar a atividade turística em Portugal, concentrando 29% das quase 37,5 milhões de dormidas nos alojamentos turísticos do país. Porém, o concelho com maior número de dormidas é o de Lisboa e é na Madeira que a estada se prolonga.

O município de Lisboa de registou, em 2021, 5,2 milhões de dormidas (13,8% do total, quase 1/5), que se traduziram num crescimento de 48,8%. Neste período, as dormidas de residentes aumentaram 50,0% e as de não residentes (74,4% do total) cresceram 48,4%. Comparando com 2019, as dormidas diminuíram 63,0% (-40,3% nos residentes e -67,2% nos não residentes).

Seguem-se o município de Albufeira (10,1% do total), onde as dormidas atingiram 3,8 milhões em 2021 e aumentaram 34,7% (+39,9% nos residentes e +30,0% nos não residentes). Comparando com o mesmo período de 2019, registou-se se um decréscimo de 55,7% (+0,1% nos residentes e -71,3% nos não residentes).

Dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por região NUTS II
Dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por região NUTS II créditos: INE, 14 de fevereiro de 2022
créditos: INE, 14 de fevereiro de 2022

Em 2021 a estada média nos alojamentos turísticos em Portugal, segundo o INE, foi de 2,58 noites (acima das 2,47 noites de 2020 e em linha com 2019), e também aqui há disparidades regionais.

As regiões Centro e Norte tiveram em 2021 estadas de duração média de 1,8 noites, abaixo das 2,3 noites da Área Metropolitana de Lisboa e das 2,9 noites nos Açores.

As regiões onde os turistas prolongaram mais as suas estadias são o Algarve e a Madeira, com estadas médias de 4 e 4,7 noites, respetivamente.

 

Pandemia COVID-19 teve grande impacto na sazonalidade

Metade do número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros, em 2021, foi registada nos meses que vão de 1 de agosto a 31 de outubro.

De acordo com o INE (dados preliminares), houve em 2021 "uma distribuição mensal dos resultados diferente do padrão sazonal característico". Isto é, em 2021, "contrariamente ao habitual", não foram os meses de verão (julho a setembro) mas sim os meses de agosto a outubro os que registaram maior número de dormidas (49,6% das dormidas totais), tendo concentrado 53,3% das dormidas de não residentes. Os meses de verão (julho a setembro) concentraram 50,2% das dormidas de residentes.

Distribuição mensal das dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por origem dos hóspedes
Distribuição mensal das dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por origem dos hóspedes créditos: INE, 14 de fevereiro de 2022

As regiões que apresentaram maiores taxas de sazonalidade (maior peso relativo dos 3 meses de maior procura relativamente ao total anual), foram o Algarve (57,2%), a Região Autónoma dos Açores (50,1%) e Região Autónoma da Madeira (48,7%), enquanto no Norte, na Área Metropolitana de Lisboa e no Centro este indicador situou-se em 46,3%, 46,4% e 46,5%, respetivamente.

 

Quem nos visitou em 2021?

Há duas respostas para esta questão. Por um lado, Portugal atraiu mais irlandeses e menos chineses em 2021. Por outro, são os turistas britânicos quem nos visita em maior número.

Quando olhamos para o país de origem de quem nos visita, em 2021, de acordo com o INE (dados preliminares), o Reino Unido manteve-se como principal mercado para o turismo português, representando 16,6% das dormidas de não residentes e tendo registado um aumentou 54,6% face ao ano anterior (2020). Seguiram-se os mercados espanhol (quota de 14,3%), alemão (11,9%) e francês (11,8%).

Em 2021, os principais crescimentos registaram-se nos mercados irlandês (+202,1%), polaco (+169,5%), norte americano (+141,3%) e suíço (+102,8%).

Da lista de 17 maiores emissores de turistas estrangeiros para Portugal apenas quatro países tiveram uma quebra no número de dormidas em Portugal face a 2020: Brasil (-8,7%), Rússia (-8,7%), Canadá (-42,6%) e China (-55,6%).

Reino Unido manteve-se como o principal mercado emissor em 2021
Reino Unido manteve-se como o principal mercado emissor em 2021 créditos: INE, 31 de janeiro de 2022

 

E em 2022?

Janeiro de 2022 registou uma conjuntura positiva para o crescimento da atividade turística (não o suficiente para atingir valores pré-pandemia). Apesar do aumento de casos associados à variante Ómicron, com novos recordes diários de infeções em Portugal e na Europa, as restrições não eram as mesmas do ano passado, com já grande parte da população totalmente vacinada ou até com a dose de reforço, e com uma maior acessibilidade da população à testagem.

O setor do alojamento turístico registou 853.200 hóspedes e dois milhões de dormidas em janeiro deste ano, o que corresponde a aumentos de 183,7% e 185,9%, respetivamente, em termos homólogos, segundo dados do INE.

Segundo as estatísticas rápidas da atividade turística, publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística, o crescimento observado em janeiro foi superior ao que tinha sido registado em dezembro, mês em que o número de hóspedes em Portugal subiu 148,9% e o de dormidas aumentou 169,7%.

No entanto, os níveis atingidos no primeiro mês deste ano foram inferiores aos observados em janeiro de 2020, quando ainda não havia efeitos da pandemia, com reduções de 39,9% nos hóspedes e 38,8% nas dormidas.

No mês em análise, o mercado interno contribuiu com 857.700 dormidas (+104,5%) e os mercados externos totalizaram 1,1 milhões (+308,7%).

Dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por mês
Dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico, por mês créditos: INE, 28 de fevereiro de 2022

Comparativamente a janeiro de 2020, observaram-se diminuições quer nas dormidas de residentes (-20,1%), quer nas de não residentes (-47,9%).

A totalidade dos principais mercados emissores registou aumentos em janeiro, tendo representado 84,7% das dormidas de não residentes nos estabelecimentos de alojamento turístico neste mês.

O mercado britânico representou, em janeiro, 14,6% do total de dormidas de não residentes, seguindo-se os mercados alemão (13,4%) e brasileiro (9,4%).

Sublinhe-se que em janeiro, 41% dos estabelecimentos de alojamento turístico estiveram encerrados ou não registaram movimento de hóspedes, face a 37% em dezembro.

 

Alojamento e restauração perderam mais de 76 mil trabalhadores em 2021

O ano passado, o setor do alojamento e da restauração perdeu mais de 76 mil trabalhadores, avança a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), citando dados INE.

A associação afirma que o setor perdeu cerca de um quarto da força de trabalho que tinha em 2019.

O alojamento turístico e a restauração empregavam, em 2021, 244.400 trabalhadores, representando uma perda de cerca de 25% (76.300) face a 2019, antes da pandemia.

"Apesar de, no verão de 2021, as nossas empresas terem iniciado lentamente a retoma da sua atividade, esta tímida recuperação não encontrou paralelo no emprego, tendo o setor continuado a perder postos de trabalho: entre 2020 e 2021 foram perdidos 47.600 trabalhadores", lembra a associação no seu boletim diário de 9 de fevereiro.

 

Turismo acredita que prioridades para 2022 serão sustentabilidade e qualificação

O setor do turismo acredita que as principais prioridades da atividade para este ano deverão passar pela sustentabilidade e qualificação dos recursos humanos, segundo os resultados de um inquérito do IPDT - Turismo e Consultoria.

O inquérito, que inclui a opinião de operadores, empresários, associações, estabelecimentos de ensino e municípios portugueses, aponta “cinco grandes linhas orientadoras para o turismo nos próximos meses”.

De acordo com a entidade, “quase 40% dos que responderam ao inquérito do IPDT referem a necessidade de promover a sustentabilidade, que deverá ser um compromisso para o futuro”, sendo que “em segundo lugar, com 24% das respostas, surge a capacitação dos recursos humanos das empresas, a fim de atingir a excelência no serviço prestado”.

Esta Agenda Turística 2022 do IPDT aponta ainda, com 19% das respostas, “a carga fiscal que é imposta ao setor atualmente”. “Numa altura em que o turismo necessita de se fortalecer para recuperar, os respondentes acreditam que os impostos demasiado elevados são um dos fatores que mais prejudica a competitividade das empresas do turismo”, lê-se na mesma nota.

Também com 19% surge “a promoção internacional do destino, um trabalho que já vem sendo feito, mas que é preciso continuar a reforçar”, sendo que “o investimento em inovação e digitalização encerram o top das cinco principais medidas sugeridas para o turismo em 2022”.

“O estudo analisa ainda temas como a valorização de territórios de baixa densidade, as redes de transportes e acessibilidades, os eventos e espetáculos culturais, o turismo interno ou a imagem de Portugal, enquanto vetores de competitividade do destino”, indicou o IPDT.

 

Uma recuperação... instável

Depois de se olhar para o panorama nacional, importa perceber quais as perspectivas para o setor a nível internacional. Um relatório anual do Economist Intelligence Unit (EIU), um serviço de consultadoria e análise do The Economist, lança algumas pistas para o que se observará em 2022. Dois anos depois do início da pandemia, o cenário será de recuperação? Mais ou menos.

Vivemos tempos de instabilidade, e o setor do turismo será certamente afetado pela conjuntura atual. A incerteza marca, aliás, o tom das linhas gerais que fazem a antevisão de 2022.

De acordo com a EIU, as viagens internacionais, apesar de registarem alguma recuperação, não regressarão aos níveis de 2019, ficando 30% abaixo dos números pré-pandemia, sobretudo devido ao número ainda reduzido das viagens de negócios.

Viajar vai continuar a ser muito diferente num mundo pós-pandemia covid-19. Os diferentes níveis de controlo nas fronteiras (obrigatoriedade de máscara, testes e quarentena) e a falta de uniformização dos certificados digitais de vacinação (alguns países só aceitam vacinas aprovadas pelas agências locais do medicamento) continuarão também a dificultar as viagens internacionais em 2022, acrescenta o relatório.

Num terceiro nível, o cumprimento das regulamentações sobre as mudanças climáticas, bem como a escalada dos preços dos combustíveis, aumentarão os custos das viagens aéreas em 2022.

A nível regional, a recuperação nas viagens internacionais será mais lenta nos países do continente asiático e mais rápida no norte da América — sempre abaixado dos valores de 2019, sublinhe-se.

De fora do relatório, com data do final do ano passado, fica o impacto internacional da invasão da Ucrânia, com as sanções impostas à Rússia e as limitações associadas ao fecho do espaço aéreo a várias companhias russas a somarem-se aos desafios para o setor em 2022.