“Mais de oito milhões de euros públicos já estão a apoiar a empresa e, portanto, não vale a pena meter dinheiro bom, dinheiro fresco, em cima de uma empresa que, neste momento, não tem salvação”, declarou o governante, em conferência de imprensa no Aeroporto da Madeira, pouco antes de deixar a região.
Siza Vieira realçou que o executivo está empenhado em assegurar “novos destinos” para os ativos da empresa, nomeadamente para os cerca de 300 trabalhadores.
“É isso em que o governo vai trabalhar”, disse, reforçando: “Já procurámos, ao longo deste último ano, encontrar investidores que estivessem interessados na empresa, mas dado o elevado endividamento e dada também a situação da gestão muito pouco clara não foi possível encontrar isso.”
O ministro da Economia vincou que o Estado está empenhado em “encontrar um novo destino” para a Dielmar em “mãos mais capazes”.
“Neste momento, os trabalhadores têm os contratos em dia, declarada a insolvência, mantêm-se os contratos de trabalho, e, portanto, nós precisamos é agora de trabalhar muito depressa com todos os credores no sentido de encontrarmos a melhor solução para a empresa”, disse.
E reforçou: “Os dinheiros públicos servem para apoiar empresas, para salvaguardar os ativos das empresas, não servem para salvar empresários.”
O governante sublinhou que a empresa apresenta resultados negativos há mais de dez anos, inclusive em 2019, antes da pandemia, pelo que “muito provavelmente o tribunal vai declarar a insolvência”.
“Agora, vamos gerir esta situação de insolvência, no sentido de encontrarmos eventualmente novas entidades que sejam capazes de dar um destino útil à empresa, de assegurar uma gestão operacional capaz”, disse, salientando que o governo está “absolutamente disponível” para assegurar uma “melhor gestão” e a salvaguarda dos postos de trabalho.
Pedro Siza Vieira esclareceu que o Estado acompanha a situação da Dielmar há mais de uma década, tendo assegurado a sua capitalização, primeiro com 30% do capital social e, depois, em 2017, adquirindo os imóveis por 2,5 milhões de euros.
“O Estado garante também uma parte muito substancial da dívida da Dielmar, mais de 3,2 milhões de euros”, disse.
A empresa de vestuário Dielmar, com sede em Alcains, Castelo Branco, e cerca de 300 trabalhadores, anunciou hoje ter pedido a insolvência ao fim de 56 anos de atividade, uma decisão que a administração atribui aos efeitos da pandemia de covid-19.
Em comunicado, a administração diz que a empresa “após ter ultrapassado várias crises durante 56 anos”, sucumbiu à pandemia da covid-19, “contaminada por um conjunto de situações que foram letais”.
“Esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a sua atividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o glamour da alfaiataria por medida e a personalização em que nos especializamos, e o trabalho profissional no escritório, que eram a base fundamental do negócio da Dielmar”, sublinha a empresa.
Ministério Economia diz que Administração da Dielmar teve apoios mas falhou restruturação
O Ministério da Economia disse hoje que as dificuldades da Dielmar são anteriores à covid-19 e que os apoios de milhões de euros recebidos pela empresa têxtil pressupunham medidas de restruturação que a administração não completou.
A Dielmar debate-se, "há vários anos, com graves problemas financeiros, apresentando muitas dificuldades a nível comercial e registando quebras significativas do seu volume de vendas. Esta situação é anterior à crise provocada pela pandemia da doença covid-19, tendo-se prolongado pelos últimos 10 anos", refere o Ministério da Economia em comunicado enviado à Lusa.
De acordo com a tutela, durante uma década, várias entidades públicas injetaram cerca de cinco milhões de euros na empresa, tendo ainda garantido mais três milhões de euros de dívida, que pressupunham "a realização de um conjunto de medidas necessárias à reestruturação, sendo que a maioria destas medidas não foram aplicadas pela administração da Dielmar".
Acompanhando a situação da empresa há vários anos, o Governo lembra que a Dielmar regista uma dívida à banca de cerca de 6,142 milhões de euros, tendo registado, em novembro do ano passado, uma dívida a fornecedores de cerca de 2,5 milhões de euros e à Segurança Social, em mais de 1,7 milhões de euros.
"O Estado, através do Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE) e o Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE) […] já aportaram à Dielmar, sob a forma de capital, suprimentos e 'leasing' imobiliário, um montante de 2.700.000,00 euros através do FACCE, entre 2011 e 2013, e outro de 2.500.000,00 euros através do FIEAE, em 2017. Além dos apoios referidos, a Dielmar tem garantias da Garval - Sociedade de Garantia Mútua, S. A., que integra o grupo do Banco Português de Fomento, no valor de 1.775.000,00 euros", pode ler-se.
O Ministério da Economia explica que, a partir de 2016, foi decidida a restruturação do passivo financeiro com os bancos e o acionista FACCE, e pelo aporte de outros apoios através do FIEAE, numa operação de 'sale and lease back' das instalações, em 2.500.000 euros.
"Estes fundos tiveram como aplicação a amortização de empréstimos bancários e a regularização de saldos de fornecedores. Uma vez que grande parte das medidas identificadas como necessárias à restruturação da Dielmar não foram aplicadas pela administração da empresa, o FACCE, no âmbito da reestruturação dos suprimentos realizados, voltou a solicitar contratualmente a alienação de ativos imobiliários, que a administração da empresa nunca concretizou", é referido.
Em 2018, segundo o Governo, foi nomeado um consultor para apoiar a administração e as direções na implementação de medidas tendentes ao 'turnaround' e eliminação de situação de 'cash burn', embora várias divergências tenham levado à saída de quadros superiores.
"Em 2020, e tendo por base a avaliação da administração da Dielmar realizada pelo consultor dos fundos públicos, foram consideradas esgotadas todas as possibilidades de reestruturar a empresa - ou até mesmo assegurar a sua transição, total ou parcial - e o FACCE deliberou, e exerceu em abril de 2020, a opção de venda tendente ao desinvestimento na Dielmar, ao abrigo do Acordo Parassocial, pelo montante de 3.280.603,84 euros (valor calculado em função da regra estabelecida no Acordo Parassocial)", acrescenta.
O Governo realça que, desde a entrada do FACCE no capital da empresa, a Dielmar nunca apresentou resultados líquidos positivos, recordando que foi equacionada a entrada de um novo investidor privado.
"A grave situação financeira da empresa e o elevado montante de investimento que seria necessário afastaram esses investidores. A Dielmar, recorde-se, apresenta resultados negativos desde há vários anos", sustenta.
Comentários