“É espantoso como a Troika não foi capaz de convencer os cidadãos da Grécia, de Portugal e de Espanha das virtudes das suas políticas”, escreveu o norte-americano, prémio Nobel da Economia em 2001, no livro “O Euro”, lançado na sexta-feira em português.
Stiglitz considerou que as medidas de austeridade impostas pela Troika - constituída pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia - agravaram a crise junto das populações, que acabaram por lhes mostrar resistência, em nome da democracia.
O economista disse acreditar convictamente nos processos democráticos, considerando que “a forma de alcançar qualquer modelo que se considere bom para a economia é a discussão de ideias”.
“Na circunstância em causa, os cidadãos gregos, espanhóis e portugueses pareceram ter melhores noções de economia do que o ministro das Finanças alemão ou a Troika”, sublinhou o autor, referindo-se aos processos eleitorais que derrotaram os governos defensores da austeridade depois de 2008.
No quadro do funcionamento da moeda única, o economista sustentou que a Europa fez as escolhas erradas, ao impor a austeridade, cortando excessivamente na despesa pública, exigindo “determinadas reformas estruturais” e, além disso, introduzindo mudanças na forma como os países afetados acabaram por gerir o mercado de trabalho e as pensões.
Neste sentido, Stiglitz criticou as posições da Alemanha, país apontado como êxito do ponto de vista económico mas que, na sua opinião, fracassou ao longo dos últimos anos.
“A Alemanha considera-se um caso de sucesso, apresentando-se como exemplo para o que os outros países devem fazer. A economia alemã cresceu 6,8 por cento desde 2007, o que implica uma média de crescimento de apenas 0,8 por cento ao ano, um número que, em circunstâncias normais, seria considerado próximo do limiar do fracasso”, exemplificou o Prémio Nobel da Economia de 2001.
O tema central do novo livro de Stiglitz é a moeda única europeia, criada em 1999, mas que enferma de “defeitos de nascença” porque, considera o autor, as regras, as regulamentações e as instituições que regem a Zona Euro são responsáveis “pelo fraco desempenho” e porque uma moeda única implica uma taxa de câmbio fixa e uma só taxa de juro.
“Pior ainda é o facto de a estrutura da própria Zona Euro se alicerçar em certas ideias relativas ao que é necessário para atingir o sucesso económico – por exemplo, que o Banco Central se deve centrar na inflação, ao contrário da Reserva Federal dos Estados Unidos, que se ocupa também de questões relacionadas com o desemprego, o crescimento e a estabilidade”, aponta.
Como alternativas, o livro propõe, por um lado, “divórcios amigáveis” capazes de fazer sair da Zona Euro países como a Grécia, sem custos elevados, ou, em alternativa, a aplicação de reformas estruturais.
Neste caso, Stiglitz, defendeu, nomeadamente, reformas sobre a união bancária, a mutualização da dívida, a criação de um quadro fiscal comum e de um “fundo de solidariedade para a estabilização” e ainda a flexibilidade na atribuição do crédito e a regulação eficaz, sobretudo para prevenir “excessos económicos” como as “bolhas imobiliárias” assim como medidas para as falências.
“Uma característica habitual do capitalismo é o facto de as empresas e as famílias ficarem demasiado endividadas e acabarem por precisar de começar de novo. É por isso que praticamente todas as economias modernas possuem uma lei de falências, um procedimento para o perdão ou a reestruturação das dívidas”, frisou Stiglitz.
O livro "O Euro - Como uma moeda única ameaça o futuro da Europa" de Joseph E. Stiglitz (Bertrand Editora, 535 páginas) é lançado hoje em Portugal.
Comentários