Reunidos em plenário junto ao Terreiro do Paço, antes de serem recebidos no ministério, os trabalhadores deste estaleiro, responsável pela reparação e manutenção dos navios da Marinha portuguesa, aprovaram por unanimidade uma resolução dirigida ao ministro do Estado e das Finanças, João Leão.
Entre as exigências feitas ao Governo “e, em particular”, à pasta das Finanças, está “uma política de investimento e modernização, necessária para que a Arsenal do Alfeite, S.A. possa continuar a desempenhar a sua missão proporcionando a operacionalidade necessária a todos os meios da Marinha” e uma “política de admissão de pessoal” para o Arsenal “em número suficiente para inverter a diminuição do efetivo”.
Estes trabalhadores exigem ainda o “desbloqueamento imediato da situação profissional dos 47 trabalhadores que continuam congelados na mesma posição remuneratória por falta de deferimento desse ministério [Finanças] em relação a promoções”.
“O problema destes 47 trabalhadores que têm as suas promoções congeladas, a situação está aqui. (…) Tudo o que é investimento ‘barra’ no Ministério das Finanças “, disse à Lusa António Pereira, membro da comissão de trabalhadores, apontando que desde 2018 que o Ministério da Defesa disse que “não havia obstáculos” à promoção destes trabalhadores e que a situação estava com a tutela liderada por João Leão.
António Pereira salientou também que ao longo dos últimos 82 anos, o investimento no estaleiro foi “gradual” e “muito pouco”, sendo necessário em maquinaria e equipamentos, muitas vezes avariados e cuja reparação é morosa.
“Neste momento era necessário mais um meio de docagem. Desde 2017 que estava previsto o prolongamento da doca seca. Isso também já saiu em portaria, à volta de seis milhões de euros, só que depois uma administração veio, outra administração veio e a questão não avança”, apontou.
Presente na manifestação, a secretária-geral da CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional), Isabel Camarinha, salientou que o Arsenal é o estaleiro da Marinha portuguesa, e “um instrumento fundamental” para garantir a “operacionalidade e funcionalidade que é necessária” a este ramo, lamentando que o Governo ande “no jogo do empurra” entre ministérios.
“Houve uma alteração no formato da grelha salarial, estes trabalhadores já deviam ter progredido e há outros trabalhadores que, por causa dessa alteração que houve, que estão há menos tempo em condições de progredir, e que estão a passar à frente destes 47. Isto é completamente absurdo, inclusive ilegal”, apontou.
Depois de terem sido recebidos por um membro das relações públicas do ministério, António Pereira vincou à Lusa a intenção de conseguir marcar uma reunião com o ministro das Finanças “ou com alguém com responsabilidades”.
Também Alexandre Plácido, coordenador nacional do Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas, Estabelecimentos Fabris e Empresas de Defesa (STEFFAs), lamentou a situação, falando aos trabalhadores presentes.
“Atualmente, o Arsenal do Alfeite é tutelado pela Defesa mas também pelas Finanças e há uma série de situações que se arrastam e temos informação de que pelo lado do Ministério da Defesa elas têm tido seguimento e chegam aqui a esta casa amarela e ficam cá ‘empancadas'”, disse, apontando para o edifício da tutela.
Bruno Dias, deputado do PCP, participou também no plenário, expressou a sua “camaradagem” para com os trabalhadores do Arsenal e sublinhou a importância do estaleiro para a capacidade de resposta das Forças Armadas portuguesas.
“O Arsenal do Alfeite não é uma chafarica qualquer”, ironizou.
Há vários anos que o Arsenal do Alfeite passa por dificuldades financeiras graves, que já se traduziram em atrasos de salários e até do subsídio de Natal em 2020 aos mais de 400 trabalhadores que constituem esta empresa, responsável pela reparação e manutenção dos navios da Marinha portuguesa.
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