Após várias rondas de negociações de última hora, a presidência da UE, ocupada pela República Checa, anunciou na rede social Twitter que “os embaixadores acabaram de chegar a um acordo sobre o preço máximo do petróleo marítimo russo”, faltando apenas que esta decisão seja aprovada por escrito.
A Europa precisava de definir o preço com desconto que vários países deveriam pagar até segunda-feira, quando um embargo da UE ao petróleo russo enviado por via marítima e a proibição de seguro para esses bens entram em vigor.
O teto de preços, que foi definido pelo G7, o grupo das sete democracias mais ricas, ainda precisa de ser aprovado, mas tudo indica que vai permitir evitar uma perda repentina do petróleo russo, sem abdicar de impor sanções a Moscovo, por causa da invasão da Ucrânia.
Após ter insistido em manter o limite em valores mais baixos, a Polónia acabou por ceder e aprovar esta proposta, que foi defendida por vários países.
“Paralisar as receitas de energia da Rússia está no cerne desta decisão, para que seja possível travar a máquina de guerra da Rússia”, disse a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, acrescentando que estava feliz por o limite ter sido reduzido em relação à proposta original.
O valor de 60 dólares (cerca 57 euros) por barril define um limite próximo ao preço atual do petróleo bruto da Rússia, que recentemente caiu abaixo deste valor.
Alguns países consideram que o valor é alto demais para ter efeito real nas receitas de energia da Rússia, mas reconhecem que já representa um significativo desconto face aos 87 dólares do barril de Brent.
Ainda assim, o mercado global vai sofrer pela diminuição de petróleo russo, numa altura em que a Europa se prepara para uma grave crise energética no próximo inverno, com diversos governos a enfrentar protestos contra o aumento do custo de vida.
Os custos do petróleo e do gás natural dispararam depois de a procura ter recuperado dos efeitos da pandemia de covid-19, em grande parte devido à invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro, que desestabilizou os mercados de energia.
Perante as sanções ocidentais contra Moscovo, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que não venderia petróleo sob limites de preço e que retaliaria contra as nações que implementassem a medida.
No entanto, a Rússia já redirecionou grande parte do seu abastecimento para a Índia, China e outros países asiáticos, a preços com descontos, para compensar os cortes de aquisição por parte da Europa.
A Rússia também pode ainda vender petróleo contornando as sanções, usando navios-tanque de “frota negra”, cujas bandeiras não estão identificadas, ou transferindo petróleo entre navios, misturando-se com o de outras proveniências, para disfarçar a sua origem.
Contudo, mesmo nessas circunstâncias, os limites impostos a Moscovo fazem com que seja “mais caro, demorado e complicado” para a Rússia vender petróleo, explicou Maria Shagina, especialista em sanções económicas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Berlim.
Do lado dos EUA, a Casa Branca já felicitou esta decisão, acreditando que ela vai prejudicar seriamente os interesses de guerra de Moscovo.
“Continuamos a acreditar que um limite de preço ajudará a limitar a capacidade de (Vladimir) Putin (presidente russo) para aproveitar o mercado de petróleo para continuar a financiar o esforço de guerra, que continua a matar ucranianos inocentes”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança nacional norte-americano, John Kirby.
Contudo, são várias as vozes críticas vindas do outro lado do Atlântico, na apreciação a esta decisão de Bruxelas.
Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, em Washington, defende que os limites de preços deveriam ter sido aplicados quando o preço do petróleo estava a oscilar à volta de 120 dólares por barril, neste verão.
Vários outros analistas criticam a medida apoiada pela Casa Branca e pela atual secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, como é o caso do seu antecessor no cargo Steve Mnuchin que considera a ideia “não apenas inviável, mas até ridícula”, considerando que ela não terá eficácia, porque não causará grandes danos aos esforços de guerra de Moscovo.
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