Fazer diferente. Não há empresa — ou startup — que nasça sem esta ambição, mas o que acontece quando o negócio amadurece e a prioridade passa a ser garantir processos?
Criar e manter uma cultura de inovação é um dos maiores desafios para as empresas que querem continuar a ser relevantes, tenham elas acabado de nascer ou décadas de experiências para contar. Este foi o mote para uma conversa que juntou esta terça-feira, no palco CIS da Web Summit, Bruno Guicardi, fundador da CI&T, Detria Williamson, CMO da Ideo, e Tom Vervoort, CIO Europe da DHL Express.
Das três empresas em palco, a DHL é talvez a mais conhecida: nasceu em 1969 e é um "gigante" da logística internacional, com escritórios espalhados por todo o mundo. A CI&T, presente também em Portugal, está há 26 anos no mercado com o objetivo de ser o braço direito das empresas no desafio da transformação digital, através de soluções que combinam design, engenharia informática e análise de dados. A Ideo é uma empresa de consultoria, que coloca o design thinking ao serviço das empresas, dos governos e das instituições, como objetivo de encontrar novas respostas. Intitulam-se problem solvers (solucinadores de problemas) e integram na sua equipa mais de 600 designers, empreendedores, engenheiros, cientistas de dados e cientistas comportamentais, professores e investigadores. Levam 30 anos "disto" e o seu negócio não é fácil de explicar: tanto aceitaram o desafio de criar um rato para um computador da Apple, a pedido de Steve Jobs, como desenharam uma rede de escolas no Peru, com mais de 60 instituições e 50 mil estudantes.
Se a expectativa era sair desta sessão na posse de um "manual de instruções para a inovação", Bruno Guicardi e Detria Williamson são os primeiros a nivelar as expectativas: "não existe um mapa ou uma planta" que nos mostre, por a mais b, como inovar — até porque "o apetite por inovação muda de setor para setor e as empresas têm necessidades muito diferentes".
Mas ficaram algumas 'dicas'.
Para Tom Vervoort, o primeiro passo é "garantir que se define o que se entende por inovação, sobretudo quando falamos de digitalização. Caso contrário, inovar pode tornar-se em algo enorme não resultar em algo de concreto. Na DHL definimos que o foco estava em conseguir melhorar a experiência do cliente e a eficiência, era aí que íamos focar a inovação e a digitalização [da empresa]".
Claro que inovar tem um custo, já que muitas vezes obriga a alterações na forma como as coisas são feitas. Para Bruno Guicardi, "as mudanças que ficam são aquelas que fazem as pessoas mais felizes ou as tornam mais eficientes". Não vale a pena tentar introduzir inovações que não cumprem esse requisito, porque mais tarde ou mais cedo acabarão por ser abandonadas, nota.
E para garantir que não se têm as mesmas respostas para os problemas de sempre é preciso ter capacidade de incluir novas vozes e experiências no processo de inovação. "A inclusão alavanca a inovação", diz Detria Williamson. "É preciso garantir que pessoas de culturas diferentes, que foram educadas de forma diferente, que são etnicamente diferentes, fazem parte da solução, porque é isso que estimula a inovação", reitera.
Quando assumimos que "qualquer um pode inovar", é importante ter capacidade de "democratizar" este processo, defende Tom Vervoort, o que na sua ótica passa por garantir duas condições: 1) "assegurar que as boas ideias não morrem pelo caminho" e que chegam a quem efetivamente tem poder de as concretizar; 2) "ter em consideração o feedback dos funcionários".
"Eu posso dizer ao meu condutor que o algoritmo vai definir a melhor rota para a entrega de uma encomenda ou posso dizer-lhe que o algoritmo o vai ajudar a definir a melhor rota e que ele é livre para contrariar o algoritmo — pois eu sei que ele sabe mais sobre o cliente do que a máquina", exemplifica.
Neste contexto, é importante reconhecer que nem sempre a solução é top-down. Ou seja, muitas vezes é quem está "na linha frente e é confrontado diariamente com os problemas" que encontra uma solução que pode mudar o negócio, nota Bruno Guicardi.
A partir do momento em que as empresas assumem que inovar é "uma prioridade", têm de conseguir ter uma cultura que promova isso dentro de casa ou associar-se a parceiros que lhes tragam essa valência, acrescenta Detria.
O desafio, depois, está em conseguir "o equilibrio certo entre inovar e executar", conclui Bruno Guicardi.
A Web Summit decorre entre 1 e 4 de novembro em Lisboa e conta com mais de 42 mil participantes, de 128 países, entre oradores, investidores, empreendedores e jornalistas. Veja aqui o roteiro The Next Big Idea para esta edição da cimeira tecnológica.
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