“Há bastantes empresas [a querer entrar em Portugal], principalmente as startups. O idioma facilita bastante a questão da inserção de empresas brasileiras no mercado europeu, acaba por ser uma porta de entrada e o Web Summit funciona mais ou menos como isso”, confessa ao SAPO24 Fábio Galvão, Coordenador de Marketing e Projetos Especiais da Apex-Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
No ano de estreia do país na Web Summit, o Brasil aproveitou a oportunidade para mergulhar no ecossistema de inovação e empreendedorismo português. Primeiro na cimeira que que se realizou entre os dias 5 e 8 de novembro na FIL e no Meo Arena, onde se fez acompanhar por cinco startups e 20 empresas. E na próxima semana na Startout, um programa de apoio à inserção de starups brasileiras nos ecossistemas de inovação mais promissores do mundo, numa iniciativa conjunta entre a Apex-Brasil e o governo brasileiro, uma iniciativa que já passou por cidades como Berlim, Buenos Aires, Paris ou Miami.
“É uma inserção com startups, são 15 empresas que foram selecionadas para esta ação e que vão ter encontros com empresários portugueses, empresários de outros país, mas sem dúvida nenhuma que Portugal é porta de entrada para as startups no mercado europeu”, sublinha o dirigente.
Tanto a Europa como o resto mundo têm sempre um olho para espreitar aquilo que o Brasil pode trazer a um grande evento internacional. O samba do Rio e o Carnaval que espelham a felicidade do povo deixam-nos com o bicho atrás da orelha sobre a forma como vão colorir a sua presença num evento. “Nós participamos há cinco anos no SXSW, o grande evento de economia criativa que acontece nos Estados Unidos. E lá esses sempre aguardam o que é que o Brasil vai apresentar, o que é que o Brasil vai trazer de novidade. Existe já essa expectativa no mercado de apresentação, quando a gente realizou os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo a grande expectativa era saber o que é que o Brasil ia entregar em termos de novidade, de criatividade. É um atributo nosso que já está consolidado no mercado internacional”.
Se Fábio Galvão tivesse de escolher um atributo do empresário brasileiro seria esse mesmo: criatividade
“O empreendedor brasileiro é extremamente criativo e inovador. Isso faz parte da nossa natureza, nós somos um povo criativo, até mesmo pelas circunstâncias económicas pelas quais passámos que exigiram que o brasileiro tivesse jogo de cintura para criar soluções criativas para as pessoas no quotidiano”, salienta.
Galvão diz que Brasil ainda não tem uma Sillicon Valley, mas que já começa a consolidar algumas referências. “No nordeste nós temos o Porto Digital, começou como uma iniciativa pequena, mas hoje são grandes as iniciativas que estão lá. É um pólo de desenvolvimento e de geração de inovação. Brasília também tem produção, num número mais reduzido, mas há produção também em todas as regiões do país”, conta.
Um exemplo de sucesso e inovação é a Case, um dos destaques da campanha Be Brasil promovida pela Apex, uma startup que criou uma solução tecnológica para a utilização do campo.
“É toda uma parte de tecnologia que a gente faz o estudo do solo, você percebe se tem humidade ou se não tem humidade no solo para fazer irrigação, todo um software que foi criado para aumentar a produtividade”, explica.
É na utilização do quotidiano, no resultado prático, que se foca a inovação do Brasil, o que tem permitido ao país crescer através da introdução de tecnologia em várias áreas. “A gente fica pensado que não há tecnologia quando a gente está a falar de plantação, de agricultura, de pecuária... há bastante tecnologia ali aplicada para ganhos de produtividade. Hoje o Brasil consegue produzir num espaço menor, em diária, uma produção maior graças à tecnologia. Por exemplo, a gente não plantava soja no Cerrado, no centro do Brasil. Soja é de clima temperado, mas a Embrapa, a empresa do governo brasileiro, desenvolveu essa tecnologia e houve essa possibilidade de levar soja para o centro do país. Então hoje o grande centro de produção de soja no Brasil é o Cerrado. Exporta aí para não sei quantos países, isso graças à tecnologia aplicada ao campo”.
Eleição de Bolsonaro? “Aqui o tema nunca é política, aqui é negócio”
“O Brasil é um mercado muito interessante. A gente está entre os dez destinos de atração de investimento do mundo. Quando a gente olha para o mercado brasileiro, é um mercado muito grande, então atrai bastante investimento. E investidor está a pensar a longo prazo e a perspetiva que hoje nós temos dentro do mercado é crescimento da economia”, refere Fábio Galvão.
Para o dirigente da Apex, o atual momento económico do país não se alterou, nem com o governo de Michel Temer, após a destituição de Dilma Rouseff da presidência, nem em perspetiva com a eleição de Jair Bolsonaro, político de extrema direita com uma visão liberalista da economia.
“Eu acredito que com essas reformas que o governo brasileiro está fazendo, está empenhado em fazer, há possibilidade de crescimento no curto prazo, não vejo outro cenário. Nós temos aí um mercado muito consolidado, para as exportações, por exemplo, para a tração de investimentos e a perspetiva que o mercado põe para os próximos anos é de crescimento económico”, explica.
Para quem trabalha na Apex, há a ideia de que a política externa brasileira é “muito bem conduzida, você tem as suas facilidades em termos de presença para as empresas brasileiras no mercado internacional”.
As eleições brasileiras, que em Portugal e no mundo teve acompanhamento detalhado, devido ao perfil de Jair Bolsonaro, não foram, no entanto, nunca motivo da aproximação da banca da Apex durantes os dias em que estiveram presentes na Web Summit.
“O tema nunca é política, aqui é negócio. A economia brasileira já está extremamente consolidada, as empresas não vão deixar de exportar, independentemente de quem seja o governo, a atração de investimento a mesma coisa. Os números mostram que e é a partir dessas informações técnicas que há tomada de decisão, eu não vejo como essa conjuntura política possa interferir nesse processo de crescimento e progresso do Brasil”, garante Galvão.
“Estamos um pouco surpreendidos, a expectativa foi superada”
“O Web Summit para a gente é uma grande referência de evento no mundo. A gente aqui tem mais de 300 atendimentos realizados com empresas estrangeiras interessadas em saber um pouco mais sobre as empresas brasileiras, investir no Brasil, investir nas startups brasileiras. Este evento é uma grande oportunidade para as empresas não só mesmo para apresentar os seus produtos, mas também um aprendizado, a gente vê aqui gente do mundo inteiro”, diz Fábio Galvão satisfeito com o resultado da presença da Apex na conferência. “Estamos um pouco surpreendidos, a gente tinha expectativa em relação ao evento, e a expectativa foi superada”, sublinha.
Sobre a ligação entre Portugal e o Brasil, Fábio Galvão diz que a “expectativa de crescimento dessa é grande, até pela longa história que temos entre as duas nações”.
“Portugal está agora num boom económico, pelo menos é o que a gente tem visto lá no noticiário no Brasil. E você tem outros incentivos como esses, a Web Summit, acontecendo aqui na cidade de Lisboa. É uma decisão extremamente acertada”, felicita.
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