É um fenómeno de massas transversal, incontrolável, em muitos momentos até incompreensível - e que por isso mexe com milhões de pessoas, o que explica que mexa com milhões de euros. Deixo aos sociólogos explicações mais detalhadas para o impacto de uma bola a rolar por entre 22 homens… Mas é esse fenómeno, e esse impacto, que obriga os media a ir atrás dele, forçando a uma união nacional que acaba por colocar ao mesmo nível a imprensa desportiva, a generalista de referência, a popular, as redes sociais, as rádios, as televisões. Todos ficam estranhamente parecidos num momento como este - e todos procuram espelhar de forma verdadeira e próxima o sentimento dos portugueses.
Na verdade, Marcelo Rebelo de Sousa fez exactamente o mesmo que a maioria dos media: só quando acordou da bebedeira colectiva da Taça de Campeões Europeus em mãos portuguesas olhou à volta - e viu que havia mais mundo para lá de uma bola de futebol e de uma selecção vitoriosa. Nesse mundo por ver estavam outros heróis nacionais, como estavam noticias de tragédias, sanções e demais "ninharias"…
Tentou remediar os estragos com mais comendas. Não vai conseguir. Os estragos não foram feitos por ele. São a consequência de um tempo em que os factos se esmagam uns aos outros por força do envolvimento popular que têm, do dinheiro que envolvem, e da forma como emocionalmente afectam aqueles que os sentem como seus. E tudo isto é uma pescadinha de rabo na boca. Nunca acaba. É sempre bonito ouvir Fernando Santos ou Ronaldo dizerem que a Taça é de todos os portugueses, e confirmar nas manifestações populares esse sentimento de propriedade - mas todos sabemos que constitui uma enorme falácia. A Taça é daqueles jogadores, daquela equipa técnica, e de quem os patrocinou. Foram eles que jogaram, deram o litro, se magoaram, acertaram, erraram, e no fim ganharam. Também são eles que ganham vencimentos milionários, que são disputados por clubes de todo o mundo, e que vivem num universo exclusivo e muito particular. Nós, comuns espectadores, apenas caucionamos e justificamos todo aquele aparato.
Neste quadro, por maior que seja o talento dos atletas de Amesterdão (e quem diz os atletas pode dizer os arquitectos, os bailarinos, os cantores, os escritores…), não há comenda ou elogio que esbata o abismo entre o mundo dos milhões e o outro - o que vive daquilo de que realmente é feita a vida. E é por isso que dizemos que a Taça é nossa, ao mesmo tempo que sentimos que as medalhas do atletismo são da Sara Moreira, da Patrícia Mamona, da Dulce Félix, da Jéssica Augusto e do Tsanko Arnaudo.
Paixão, dedicação, entrega, orgulho. Somos todos iguais - mas é mesmo verdade que uns são mais iguais do que outros. Como se costuma dizer, "sem desmerecer"…
Coisas boas de uma semana histórica
Sendo embora parte interessada - os ingleses aspiravam ir à final deste Europeu… -, nem por isso a BBC deixou de resumir exemplarmente, em e minutos, o evoluir do campeonato do começo até à taça nas mãos de Ronaldo. Vale a pena ver o apuro, o bom gosto e a qualidade deste trabalho final da estação britânica.
No balanço do Euro 2016, uma das questões que fica em aberto: será melhor ou pior um campeonato com mais equipas, ou seja, com os 24 países que entraram na competição deste ano? O jornal francês Liberation encontrou argumentos contra e a favor e pô-los lado a lado. É ler e pensar…
Já tem alguns meses, mas é dos mais sarcásticos videos da equipa da "Porta dos Fundos" sobre o universo do futebol, das transferencias de jogadores, e até das formas como se encaram os diversos países e clubes, Benfica incluído… Riam com eles!
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