Gostamos de empurrar com a barriga. Não somos nós, portugueses, somos todos, os seres humanos, esta espécie dominadora, inteligente, capaz de tanto. E também somos, na grande maioria, mais egoístas que altruístas. Pensar nas gerações futuras é, na verdade, uma coisa demasiado abstrata, portanto que importa isso de o planeta estar esgotado e não ter capacidade de nos aguentar. O que importa que em 2030 seja irreversível? Importa bastante e para todos nós. Em Portugal, a nossa pegada ecológica excede em 246% a nossa bio capacidade. O planeta todo consome como se tivéssemos 1,6 planetas para consumir. Não só não temos como isto não é ficção científica, por isso não dá para irmos para outra galáxia fazer a nossa vidinha. Podemos imaginar, mas estamos muito longe disso. Empurramos com a barriga nos pequenos gestos, porque é uma maçada reciclar, usar os transportes públicos, controlar as emissões de carbono, abdicar de comer carne (sim, isso também afecta o planeta), etc.
Em 2020 o planeta respirou de alívio. Porquê? Fomos para casa e deixámo-lo estar um bocadinho. Não o suficiente para reverter todas as maldades que temos feito, mas o bastante para se perceber que faz uma grande diferença estarmos a funcionar em pleno ou estarmos confinados.
Não chove, os agricultores andam desesperados. A biodiversidade está em perigo. O buraco do ozono é maior que o Canadá – e já o é há muitos anos – e o que fazemos nós? Empurramos com a barriga. Esgotámos o cartão de crédito que a Terra nos ofereceu e somos tão egoístas que não paramos de fazer asneiras.
O admirável David Attenborough, com mais de 90 anos, fez um documentário que podem ver na Netflix, A Vida no Nosso Planeta. Começa e termina em Chernobyl, não é um registo catastrofista, não é a morte da esperança, mas há uma grande lição a tirar de tudo o que nos ensina: somos humanos, dispensáveis; a Natureza pode varrer connosco, seja com vírus, seja com o que for, porque a Natureza é quem mais manda. A teoria? Temos toda a teoria, quase nenhuma prática e as questões do ambiente são como as da cultura, podem esperar. Mentira.
Comentários