
Sabia que a IA trabalha num universo de códigos, não de significados? Repete, mas não sente. Faz tudo em segundos. E, no entanto, ainda não consegue escrever um parágrafo que nos faça chorar.
É aqui que começa a diferença.
Tão simples quanto isto: a IA escreve com base no que encontra. Nós escrevemos com base no que vivemos. Há uma distância abismal entre essas duas origens – uma é externa, a outra é interna. E o mais curioso? Ainda há quem confunda as duas.
Vivemos tempos estranhos. Copia-se tudo e o conteúdo tornou-se commodity. Vale mais publicar depressa do que pensar devagar. O scroll matou o foco. O Ctrl+C, Ctrl+V matou a autoria. E, agora, a IA ameaça matar o esforço:
– “Para quê escrever, se posso pedir a um robô para o fazer por mim?”.
Há algo importante que precisamos de reter. A IA não tem memória emocional. Não sabe o que é perder alguém. Não sente saudade nem paixão. Não carrega as feridas de uma infância, nem os silêncios de um desgosto. A IA não tem cicatrizes. E é por isso que, por mais polida que seja, a sua escrita nunca terá rugas. Nunca terá verdade.
Os conteúdos mais valiosos são os que exigem mais tempo para criar… e menos tempo para plagiar. Um livro pode levar anos a ser escrito. A IA gera 500 palavras em 5 segundos. Mas só uma dessas versões tem alma e coração. Só uma dessas versões pode mudar uma vida (e todos nós sabemos bem qual delas é).
Há quem tema que os algoritmos possam substituir os autores. Mas, na verdade, eles apenas revelam uma contradição clara: quanto mais o digital avança, mais valorizamos o que é verdadeiramente humano.
E é por isso que, neste Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, importa voltar ao essencial: proteger quem cria. Defender a autoria. Dizer, com todas as letras, que há coisas que simplesmente não se podem copiar.
Num mundo onde tudo é criado, remixado, colado e cuspido de volta à internet em tempo recorde, o livro continua a ser uma anomalia preciosa: um objeto que exige tempo, silêncio, paciência e entrega. Um artefacto humano.
A IA pode ajudar-nos em mil tarefas. E ainda bem.
Mas a literatura, a boa escrita, a que nos comove, a que nos muda – essa continua a precisar de algo que nenhuma máquina consegue simular: o sentimento.
Termino este texto com um conselho, não só para hoje, mas para os dias que virão. Desligue as notificações. Acenda uma lâmpada. Dê-se ao luxo de parar por um momento e deixar que uma história, escrita por alguém e não por uma ferramenta, lhe lembre aquilo que só um ser humano consegue transmitir.
Já percebeu onde quero chegar: deixe o ChatGPT de lado e escolha um livro!
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