Neste mês de Dezembro já quase tudo foi dito sobre o voluntariado. Li artigos interessantíssimos sobre o tema com visões de vários quadrantes, umas mais emocionais, outras mais pragmáticas e até algumas que analisavam o voluntariado do ponto de vista economicista. Todas elas importantes, todas elas válidas, todas elas enriquecedoras.

Dia 5 de Dezembro celebra-se o Dia Internacional do Voluntário. É, por isso, também o meu dia e o de milhares de portugueses que seguramente o viveram orgulhosos da sua escolha (perdoem-me a falta de modéstia), não tanto porque temos um dia que nos é dedicado, mas sobretudo porque nos permite ter uma visão abrangente do impacto que o voluntariado tem nas sociedades e a diferença que pode fazer, directa ou indirectamente, na vida de tanta gente. É como poder vislumbrar toda a floresta e não apenas a nossa árvore.

Na verdade, “muita gente pequena em lugares pequenos a fazer coisas pequenas, pode mudar o mundo”.

O voluntariado visto de dentro, no entanto, é uma coisa muito simples, tipo contas de merceeiro.
De um lado está a disponibilidade de tempo, o empenho, o compromisso e o talento do voluntário. Sim, porque a verdade é que todos temos um qualquer talento que podemos colocar ao serviço dos outros. Do outro lado estão as lições de vida, aquelas que nos fazem crescer enquanto seres humanos, que nos tiram da nossa zona de conforto e abanam a nossa vidinha arrumada. Obrigam-nos a olhar à volta com um olhar atento e perplexo e a deixar o nosso umbigo em paz. Estas vidas que nos dão lições são o motor da nossa vontade, porque todos sabemos que, no fim do dia, é muito mais valioso o que levamos do que aquilo que deixámos.

Acresce ainda a esta coluna, a capacidade que desenvolvemos de relativizar as contrariedades da vida, porque mais uma vez a realidade à nossa volta, aquela que aprendemos a prestar atenção, seja de doença, de pobreza, de solidão ou de abandono, impõe-se de tal forma que devolve aos nossos contratempos de que tantas vezes nos queixamos, a sua real dimensão. São apenas contratempos.
Adquirimos competências essenciais com quem trata a desventura por tu. Aprendemos que mesmo nas situações limite que a vida impõe a tantos, a força surge sem percebermos bem de onde, aprendemos que a esperança realmente nos ajuda no caminho e aprendemos a receber a tristeza na entrada, sem a convidar a sentar-se. São ferramentas que numa volta do destino, nos podem ser muito úteis.

E há ainda a satisfação. A enorme satisfação que nos enche a alma quando sentimos que de algum modo, na linha da frente ou nos bastidores, o nosso contributo, isolado ou numa “linha de montagem”, gerou mudança por pequena que seja, alegria nem que apenas momentânea, alívio que pelo menos, permita respirar uma pouco. Todos aqueles que fazem voluntariado seja em que área for, experimentam uma genuína felicidade quando regressam às suas casas depois de cumprido o seu compromisso.

Por último mas não menos importante, desenvolvemos um sólido e doce sentimento de pertença, uma pertença escolhida e exercida com o coração. E há maior força do que um colectivo que partilha uma paixão?

Quem decide ser voluntário deve partir sem expectativas, apenas com o compromisso e a vontade de fazer acontecer. Não vamos para obter nada, vamos apenas ver o que conseguimos dar.
A boa notícia é que recebemos muito.

Sou voluntária na Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Cancro desde 2004. Nestes 14 anos assisti a muitas vidas viradas do avesso, suspensas ao lado do saco de soro misturado com a esperança. Vi o medo estampado no rosto de muitos Pais e vi infâncias adiadas para depois.

Mas também vi que com dedicação e entrega, não só dos voluntários mas sobretudo dos profissionais que lá estão todos os dias, é possível construir uma rede que sustente o peso desta realidade e permita devolver alguma “normalidade” às famílias destas crianças e jovens.
Acreditar faz-nos mais fortes!


Sobre a Acreditar:

A Acreditar, Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro existe desde 1994. Presente em quatro núcleos regionais: Lisboa, Coimbra, Porto e Funchal, dá apoio a todos os ciclos da doença e desdobra-se nos planos emocional e social. Com a experiência de quem passou pelo mesmo, enfrenta com profissionalismo os desafios que o cancro infantil impõe a toda a família. Momentos difíceis tornam-se possíveis de viver quando nos unimos.