Na larga maioria das vezes a palavra “inovação” é associada a ideias positivas ou a melhorias significativas a diferentes níveis. No entanto, nos últimos anos, o “Turismo” tem sido responsável pelo surgimento de modelos de negócios disruptivos envoltos em controvérsia, ao ponto de, em alguns setores, se questionar se a inovação será boa ou má, pelos postos de trabalho que cria, mas sobretudo pelos que alegadamente destrói (direta ou indiretamente).

Se é verdade que, ironicamente, a primeira empresa de táxis a falir, pela pressão das novas plataforma de partilha de serviços de ride sharing, foi em São Francisco, onde começou o UBER, não é menos verdade, que naquela cidade os postos de trabalho gerados pelo UBER e plataformas similares ultrapassa largamente os que alegadamente foram afetados. Em Portugal foi anunciado nas últimas horas que haverá em breve regulamentaçãopara a Uber e Cabify, reclamada pelos industriais de táxis, que alegam agora que a proposta apresentada não defende os seus interesses.

Não vou discutir a natureza dos argumentos de ambos os lados, mas perante a evidência dos aspectos positivos que a inovação trouxe ao ecossistema da mobilidade urbana, porque não se uniu a indústria de táxis em torno da inovação, sendo que as opções tecnológicas ao seu dispor, como a MyTaxi ou TaxiLink são ineficazes, para não falar das questões não digitais que não raras vezes são enunciadas como factores menos positivos, seja a limpeza do veículo, a simpatia, a emissão de recibo ou outros, que muitos profissionais em todo o país fazem de forma profissional, mas que infelizmente a própria indústria dos táxis não foi diligente em vigiar e corrigir nos exemplos infelizes.

É precisamente por aí que  Uber e Cabify começam. A aplicação é apenas um dos aspectos inovadores - o restante é fazer bem o que nunca deveria ter sido descuidado. A preocupação com o cliente é a grande razão porque as novas plataformas tiveram tão rápida adesão, para muitas pessoas mesmo antes do factor preço. Em Maio, dei uma estrela a um serviço Uber em Berlim. No mesmo dia, perguntaram-me porquê e informei que o trajeto não tinha sido o adequado. Ainda no mesmo dia e após a Uber ter validado o percurso eletrónico registado no seu sistema, recebi a devolução do dinheiro entre o "trajeto efectuado" e o "trajeto ideal". É apenas um exemplo.

A plataforma Airbnb é outra das disrupções que marcam os últimos anos de história do ecossistema de inovação em turismo. Ignorada no início pelos hotéis e também pelos governos, adquiriu na última semana uma StartUp espanhola a Trip4Real dando sinais que a sua visão da experiência em viagem vai além do “quarto” e acomoda agora a ideia da “experiência como se fosse um residente”. Também esta plataforma se aventurou por um mundo não regulado e por força do seu crescimento tem obrigado muitos países a uma regulamentação fiscal adicional e aos hotéis a inovarem na sua oferta e a agregarem valor para justificarem a opção pelos seus serviços.

Estes são dois exemplos do momento, entre muitos possíveis, mas na verdade se recuarmos cronologicamente nos processos de inovação poderíamos falar da alteração que o Booking, eDreams ou Skyscanner e outras plataformas trouxeram ao ecossistema do turismo. E, se é verdade que numa leitura simplista todos vieram alterar e perturbar a economia em torno das agência de viagens, não é menos verdade que a inovação fez surgir serviços adicionais digitais vendidos em plataformas globais como a Viator (hoje integrada no TripAdvisor) ou GetYourGuide, que permitem que os turistas comprem experiências disponibilizadas por pessoas individuais ou colectivas, alguns deles sem escala ou capacidade para serem distribuídos em agências de viagens à escala nacional ou global.

Mas, para mim, a grande ironia no mercado global do turismo, em crescimento em todas as geografias, é o momento em que um destino declara que “há turismo a mais” ou que "a inovação gerou entropias" e nesse dia tudo é colocado em causa. Nesse dia todos perdem, porque estas discussões não têm “quartel”, nem “vencedores” e muito menos “prazo” e porque no processo de crescimento todos quiseram mais, mas ninguém se preocupou com o melhor.

Importa por isso que se olhe antecipadamente e com maior cuidado para os processos de inovação a emergir, para que se planeiem cenários de regulação e potencial esgotamento de recursos ou condições tidas por ideais, sob pena de que todas as “reações” sejam extemporâneas e desajustadas - porque são uma tentativa de ajuste e não um processo de acomodação a uma inevitabilidade.

Por último, as empresas na indústria do turismo beneficiariam muito se estivessem atentas e mais disponíveis para eventuais parcerias com novas empresas e/ou conceitos, sejam ou não startups. Se há novos conceitos, experiências ou tecnologias - mesmo que algumas depois de testadas não funcionem - os casos que se revelarem um sucesso dotarão os parceiros de uma vantagem competitiva ímpar. E como diz o ditado popular: "Quem não arrisca, não petisca!".

Alexandre Pinto, Serial Entrepreneur & Digital Humanities