A notícia de que Manuel Maria Carrilho foi ilibado no processo de violência doméstica do qual é acusado pela ex-mulher foi um vento mau que apareceu hoje de manhã. Não consigo entender várias coisas, mas há uma que me espanta mais do que qualquer outra: uma juíza que Bárbara Guimarães considerava incapaz de imparcialidade e tendo, por isso, pedido a sua escusa, mantém-se no caso e é capaz de dizer coisas como: “ Causa-me alguma impressão a atitude de algumas mulheres”. A mim também, sobretudo se são juízes.
A lei não confere poder a uma juíza para proferir semelhante frase e as implicações que possam ter, em especial junto da opinião pública. Ainda há quem venere os juízes com o mesmo fervor com que em outros tempos se venerava a opinião do padre ou do médico. Vivemos numa aldeia global, bem sei, mas os juízes deveriam perceber que existem limites e deveriam ter em conta que observações sobre o carácter das pessoas não são do seu pelouro.
No caso presente, seria ainda de ter em conta o vasto curriculum do acusado, com um conjunto de processos perdidos, de multas aplicadas, e ainda com uma constante presença nos meios de comunicação social a difamar a ex-mulher e familiares.
Bárbara Guimarães manteve uma elegância ímpar e tem sido enxovalhada da pior maneira. Sobre isto a juíza não tem nada a dizer? Tem, pois, tem para dizer uma pérola que, espero, possa ser analisada em aulas no Centro de Estudos Judiciários ou objecto de processo no Conselho Superior de Magistratura. Diz a juíza, Joana Ferrer de seu nome, que Bárbara Guimarães é uma mulher determinada e auto-suficiente do ponto de vista financeiro, que deveria ter ido ao Instituto de Medicina Legal mostrar como foi vítima de maus tratos.
Portanto, posso concluir que para esta espécie de juiz, garante da boa manutenção de uma sociedade, todas as vítimas de abuso estão a correr para o dito Instituto. Nunca leu, coitada, nada sobre o perfil psicológico de vítimas de abuso. Deveria ler. É pena que a justiça não sirva para ser justa. Mas, lá estamos, um é um professor e a outra é apenas a Bárbara.
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