Que me desculpem os adeptos do selim mas, para mim, hoje em dia, a Volta a França em bicicleta são mais de 200 ciclistas, 3.000 km de etapas e 27.000 substâncias dopantes. Aliás, em tempos, quando fui de férias para a Holanda, escrevi que Amesterdão é como a Volta a França: um monte de gente drogada a andar de bicicleta.
Já fui grande fã do Armstrong, e da Volta a França, mas tive uma grande deceção. Sempre segui a carreira dele, a pensar que era mesmo um super-homem, que fazia o bem e tinha derrotado o cancro e, afinal, fui enganado. Já não é a primeira vez. Ai, ai, Duarte Lima.
Quando Armstrong viu serem-lhe retirados os sete títulos da Volta a França, pela União Ciclista Internacional, para mim teve o mesmo significado que descobrir que o Popeye misturava coca nos espinafres. Andei eu a mamar espinafres a infância toda e a levar porrada, na mesma, porque faltava o condimento que dá genica.
O doping trouxe o descrédito total ao ciclismo. A Volta a França é um conjunto de drogados a ver quem chega lá a cima mais depressa. Claro que o dopping não afecta só o ciclismo. O ciclismo dá mais nas vistas porque eles bebem muita água (e os calções não ajudam porque quase se vê o doping por fora) e quando vão ao teste, no meio de litros, há sempre qualquer coisa que passa. Em 2007, no Tour de France, um ciclista, não interessa nomes porque são todos esquisitos, urinou para um frasco e, no dia seguinte, o frasco ganhou uma etapa de montanha.
Na altura em que lhe foram retirados os títulos. numa entrevista, Armstrong, disse que tomava um cocktail simples: "era só EPO , transfusões e testosterona". É o chamado “pequeno-almoço dos desportistas”. Só falta um sumo de papaia com combustível para foguetões e um café com hermesetas de cocaína.
“I love cycling” - Armstrong dizia que gostava de ciclismo, mas acho que ele tinha de experimentar ciclismo sem droga, a ver se gostava. É completamente diferente subir os Alpes com moca ou sem moca. Se calhar ele, sem droga, acha aquilo uma chatice. Já o estou a ver a subir ao Alpes, careta e a dizer: "Irra, isto sem droga é uma chatice. É só montanhas, vacas e gajos de calções de lycra. Não se passa nada, isto é uma seca. Abre aí uma jola".
Eu acho que o ciclismo é como o Boom ou um festival de música: sem droga não tem piada e só os tóinos é que não levam. “Ai, eu vim só ouvir a música porque adoro a música deles – é o caraças, ou te drogas ou não vais connosco”.
Foi triste saber que um dos meus heróis, afinal, não passava de um dealer de bicicleta. Uma smartshop com selim. Venceu sete voltas a França mas não se lembra de nada porque estava com uma grande moca. Assim também eu. Se eu tomasse o que ele tomava subia os Alpes, a rir, num triciclo para ursos.
Resumindo, para eu poder voltar a acreditar neste desporto, de agora em diante, as grandes provas de ciclismo deviam ser reservadas a betinhos e malta que não bebe, não fuma e não coiso. Daqueles que têm horror às drogas. Sapato de berloque, calças com vinco, pulôver de bico amarelo, e uma cruz de Cristo pequenina ao peito, e toca a subir os Alpes.
Sugestões do autor:
Um filme, obviamente. A estreia de Dunkirk, o último filme de Christopher Nolan.
Um livro - Humidade – de Reinaldo Moraes, editado pela Companhia das Letras. Li o magnífico Pornopopeia e vou levar este para férias.
Uma exposição, Terracotta Army – Guerreiros de Xian - Na Cordoaria Nacional - vale a pena ver. Eu por acaso fui porque julgava que era Panna cotta Army, e se podia comer no fim, mas foi uma agradável surpresa.
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