Tantas vozes que pedem publicamente a moderação. É preciso que nos moderemos. É preciso calma, relativizar, e ser mais ponderado. Não dizem muito bem como, mas que é preciso não têm dúvidas. E sabemos mais ou menos em quê.
Temos que nos moderar no trato a pessoas de extrema-direita. São pessoas que estão arreliadas com o sistema, e com a vida no geral, e por isso foram praticamente obrigadas a chegar-se para esse lado. Elas nem queriam, e nós temos que perceber e que moderar. A maior parte da direita está a fazê-lo lindamente, admitamos. Modera, normaliza, dá a mão, diz que está tudo, que cão que ladra não morde. Claro que sim.
No anti-racismo também nos devemos moderar. Há pessoas que acham que só se pode ou ser racista ou anti-racista. Há quem defende que se deve moderar, porque este extremismo de se ser anti-racistas também não é bom de ver. É que chega a incomodar e tudo. Nunca ninguém que sofre de racismo, claro, mas outras pessoas que têm muito mais com que se arreliar. Há quem diga até que ser anti-racista já é ser moderado. Não podiam estar mais errados. Sabemos que são dois pólos opostos, e que nenhum extremo é bom para o mundo.
Quem diz moderar na luta anti-racista, diz nas outras todas, como o feminismo, os direitos LGBTIQA+, ou a justiça climática. Em todos estes assuntos é importante ser moderado, saber ouvir os dois lados. Por exemplo, também todos sabemos que o oposto de ser homofóbico é querer transformar todas as pessoas em pansexuais, começando logo pela educação das crianças. E como é lógico, isto é horrível. Pede-se moderação.
Feminismo, idem. Esta onda de agora ser tudo assédio já cansa. Cansa essencialmente quem não sofreu de assédio, mas cansa. Não sei às tantas também não é uma qualquer espécie de assédio quando cansam tanto as pessoas a falar sobre o assunto.
Na justiça climática, obviamente pede-se igualmente moderação. É verdade que os cientistas que estudam as alterações climáticas há décadas nos dizem que temos meia dúzia de anos para reverter a situação que supostamente é dramática para a vida na Terra. Está bem. Até pode ser. Mas meia dúzia de anos é muito tempo. Com calma e paciência tudo se resolve.
Daí perceber que haja cada vez mais gente a moderação. À partida, é sempre gente que nunca passa por nenhum dos incómodos mencionados. Mas não é por isso que não podem queixar de serem incomodados, enquanto pedem mais moderação a todos os outros.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- O Evangelho Segundo Jesus Cristo: devo admitir que ainda só li 10 páginas. Mas é Saramago, recomendo às cegas.
Comentários